A Maldição de Hill House: a casa que não tem coração, só estômago
A “Maldição de Hill House” é a nova série da Netflix que estreou no dia 12 de outubro. Rapidamente fez sucesso devido à sua história, mas também devido às reações que provoca nos telespectadores que não sabiam o que esperar da série.
A nova série é baseada no livro da escritora Shirley Jackson, tendo o mesmo nome. O livro da autora já tinha sido adaptado duas vezes para o cinema com os filmes “A casa maldita” e “A mansão” estreadas em 1963 e 1999, respetivamente.
Apesar de algumas das personagens da série terem o mesmo nome das do livro, as suas histórias em nada se assemelham.
O enredo da história não foi recuperado, mas sim moldado numa nova história criada pelo produtor Mike Flanagan. A liberdade do produtor ao criar algo completamente diferente poderia ter sido um desastre porque os fãs estariam à espera de reconhecer as histórias. No entanto, a série foi uma grande surpresa.
Mereceu os elogios de Stephen King nas redes sociais: “A Maldição de Hill House, revisto e remodelado por Mike Flanagan. Normalmente não me importo com este tipo de revisionismo, mas este é ótimo. Perto de um trabalho de génio, a sério. Acho que a Shirley Jackson aprovaria”.
A série passa-se nos dias de hoje e acompanha um grupo de irmãos que, na infância, viveram na casa assombrada mais famosa dos Estados Unidos. Anos mais tarde, foram obrigados a reencontrarem-se todos devido a uma tragédia na família: a morte de um dos elementos. Já adultos e com outras experiências de vida, são obrigados a confrontar os horrores e os segredos do passado e a voltar aos fantasmas e às assombrações da mansão de Hill House.
A história é centrada na família Crain, que decide comprar a velha Hill House. Sempre que uma família compra uma casa deste género perguntamos: “Mas compram casas decadentes para viver porquê?”. Este caso é diferente. É mais sólido e plausível: a família ganha a vida a comprar casas velhas. O casal dedica-se a restaurar as habitações para depois vendê-las a um preço elevado.
Hill House seria apenas mais um investimento que lhes daria imenso dinheiro, mas acabou por ser o último que fizeram e não foi pelos melhores motivos.
A família planeava estar apenas 8 semanas na casa durante o verão. Esse tempo deveria servir para as remodelações serem feitas e para as crianças aproveitarem o verão a explorar a casa e a divertirem-se. No entanto, isso não aconteceu. Como nos é dito em vários episódios, Hill House tinha fome.
A história vai fazendo ligação entre o presente o passado. Ao longo destas oscilações, vamos vendo as várias perguntas que fazemos a nós próprios a serem respondidas. Também estas transições vão servir para entender melhor algumas das escolhas que são feitas pelas personagens e também certas características das versões adultas de Steve, Shirley, Theo, Luke e Nellie (os 5 irmãos).
Somos levados para 26 anos depois desse verão para conhecermos a verão adulta das crianças. Percebemos que muitos deles ficaram agarrados às paredes da casa. As personagens falam ainda de muros criados à sua volta para protegê-los das memórias, das dúvidas e daquilo que os assombra.
A Maldição de Hill House não é apenas uma história de fantasmas, mas sim uma história de memórias, verdades não contadas, palavras não ditas e da aceitação do que é ou não real. São estes alguns dos ingredientes que vão acompanhar o telespetador durante os 10 episódios.
Uma das características desta história é o facto de não se tratar de terror puro e duro. É terror na medida em que a autora relaciona os acontecimentos assustadores da casa com o que se passa na cabeça de cada personagem.
O resultado foi muito bom. As personagens fantasmagóricas, como um homem enorme de chapéu que não pisava o chão, uma menina pequena, uma velha, um monstro na cave e uma mulher de pescoço partido que assusta a irmã mais nova, Nellie, foram algumas das personagens que deram mais intensidade à história.
O sofrimento das personagens é visível. Pelo menos o de algumas. Principalmente o daquelas em quem ninguém acredita, porque os irmãos mais velhos, Steve e Shirley, desvalorizavam os medos dos outros.
Hill House não tem coração, só estômago. Um estômago que digere as almas de quem lá vive e fica depois de anoitecer – é esta a mensagem que nos vai sendo transmitida ao longo dos episódios. É uma casa viva e que se alimenta da morte daqueles que lá viveram.
Não há nada melhor do que uma boa série para ver num feriado. “A Maldição de Hill House” vai ser a série perfeita para veres neste Halloween.
Artigo corrigido por Sara Tomé