A Proibição das Burcas – Liberdade que pertence às Mulheres
Em Portugal vivemos numa sociedade que, em teoria, valoriza igualmente homens e mulheres. Mas será mesmo assim? É discutível.
Em países como o Afeganistão, a Arábia Saudita ou o Sudão, a desigualdade de género é evidente e nem chega a ser um tema de debate.
Recentemente, Portugal aprovou uma lei que proíbe o uso da burca em espaços públicos. Sou apologista dos direitos humanos e defensora dos direitos das mulheres, no entanto, pergunto-me: estaremos realmente a fazer a melhor escolha por elas?

Esta medida foi proposta pelo partido Chega, um partido com o qual não partilho das mesmas ideologias. Muitos afirmam que se trata de uma iniciativa movida pelo ódio à imigração e pelo desejo de afastar estas mulheres do nosso país e, só por isso, já se percebe muito sobre o impacto que esta lei pode ter.
Ao contrário de algumas intenções governamentais, que podem visar proteção, fica por questionar se as ações deste partido político refletem uma preocupação real com a liberdade e os direitos destas mulheres.
Uma lei no papel não impede homens de violarem a identidade e as escolhas destas mulheres; o que poderia fazê-lo seria mudar as mentalidades e o ambiente em que vivem. Os mesmos homens que hoje as oprimem e as obrigam a usar a burca não deixarão de o fazer por causa de uma proibição estatal. O mais provável é que as impeçam de sair de casa ou até as forcem a deixar o país.
As leis têm o poder de mudar o mundo, mas não quando se transformam em formas de controlo. Compreendo que esta lei possa ter sido criada com boas intenções e que, em alguns casos, até possa trazer algum benefício. Mas não podemos ignorar o risco de causar ainda mais sofrimento e represálias a mulheres que já vivem sob pressão e medo, sem qualquer culpa. A imigração é um direito universal.
Por exemplo, é verdade que os salários em Portugal não são altos e é precisamente por isso que tantos portugueses procuram melhores oportunidades noutros países, tal como estas mulheres fizeram.
O mesmo André Ventura, que propõe proibir o uso da burca, talvez na esperança de que essas mulheres abandonem o país, é o mesmo que diz querer o melhor para os portugueses. Talvez devesse refletir se gostaria de ver portugueses oprimidos no estrangeiro ou se apenas se preocupa connosco enquanto permanecemos dentro das fronteiras nacionais. Afinal, ser português não é uma questão de geografia, é uma questão de identidade.
E é precisamente essa ideia de identidade que está em causa nesta discussão.
As mulheres que usam burca, em Portugal ou noutros países, carregam histórias complexas, muitas vezes marcadas por imposições, tradições e medos.
Ao negar-lhes o direito de vestirem algo alinhado com a sua religião ou cultura, não estaremos, nós também, a impor uma nova forma de obediência? Acredito que existam mulheres que escolhem usar a burca por vontade própria, mas também compreendo que, em muitos casos, essa “escolha” seja moldada por anos de tradição, medo ou hábito e é difícil distinguir onde a crença acaba e a imposição começa.
Pessoalmente, não gosto de burcas. Contudo, o que eu acho sobre o que os outros vestem não deve servir de base para leis. E é exatamente isso que o nosso governo está a fazer.
Devemos, sim, proteger as mulheres, especialmente as que vivem sob opressão. Mas por que razão a resposta é proibi-las? Porque não proibir os homens que as obrigam a usar a burca? É certo que seria uma medida difícil de aplicar, mas por que motivo é sempre sobre o controlo das mulheres e nunca sobre o controlo dos homens? Infelizmente, é mais fácil legislar sobre o corpo feminino do que desafiar as estruturas que oprimem as mulheres. E isso revela muito sobre o mundo em que estamos.
Queremos ensinar uma geração de mulheres oprimidas a libertar-se, mas como? Essas mulheres já carregam tantos fardos, e uma proibição imposta por homens que nem as conhecem dificilmente as fará sentir-se mais livres.
Muitos defendem que, nos países muçulmanos, devemos respeitar as regras locais e cobrir o nosso rosto/corpo. Se tantos de nós rejeitam essa ideia, porque é que estamos a impor algo semelhante aqui a mulheres que já enfrentam opressão dentro das próprias famílias?
As mulheres devem ter uma voz e ser sempre respeitadas. Quero que possam usar o que quiserem. Que sejam livres, livres para não usar burca, se assim desejarem, mas também livres para usá-la, se essa for a sua escolha e somente sua escolha e de mais ninguém.
No final de contas, partilho a minha opinião, que é tão incerta quanto esta lei. Talvez tenha boas intenções, mas as práticas associadas não são as melhores. Não sei se a proibição é a melhor abordagem, sei apenas que a verdadeira liberdade não é imposta, é sim inerente a cada pessoa.
Neste caso essa liberdade só diz respeito a cada uma destas mulheres, não aos seus maridos, filhos, pais ou governos, pois as mulheres não são peões num jogo liderado por homens, mas sim rainhas do seu próprio jogo.
Fonte: Pexels
Artigo Revisto por Ariana Valido
AUTORIA
A Sara desde cedo sempre gostou de dar voz aos que não tinham, de dar ideias, asas a pensamentos e impulsos a opiniões. No seu primeiro ano de Licenciatura em Relações Públicas e Comunicação Empresarial, aos 18 anos, Sara começou o seu caminho na Magazine como redatora no departamento de Opinião, onde teve oportunidade de escrever vários artigos inovadores. Hoje a começar o seu segundo ano na Escs, aos 19 anos tornou-se Editora de Opinião, aceitando o desafio de guiar os atuais e futuros redatores para alcançar o seu grande potencial e inspirar novas mentes com diferentes pontos de vista, comprometendo-se a inovar, criar e incentivar este departamento neste novo ano.

