Opinião

A saúde mental e a vida académica

Atualmente, temos uma vida cada vez mais agitada e preenchida, principalmente pelo aumento do número de anos dedicados à escolaridade. Fazemos licenciaturas, pós-graduações, mestrados e até doutoramentos. No meio de tanto estudo, empenho e dedicação, acho que pouca gente para e pensa no que sente ou em tudo o que sacrificamos para podermos ter uma educação o mais completa possível.

A nossa saúde mental raramente é aprofundada e tratada. Os médicos, por norma, tratam de problemas no coração, nos músculos, nos ossos… Então e na nossa mente? Suponho que seja algo ainda difícil de entender, apesar dos progressos nesta área.

Os registos de depressão e ansiedade infelizmente têm vindo a aumentar. Na minha opinião, isto acontece pois quanto mais se descobre mais se consome. Tanto consumimos conteúdo digital como consumimos e esgotamos a nossa própria mente. Representamos uma geração pressionada a realizar grandes feitos, a geração da tecnologia, do novo mundo e dos privilégios, que, como alguns supõem, nos foram dados de “mão beijada”.

A geração mimada, dizem também alguns, mas somos muito mais do que aparentamos ser. Somos uma geração habituada a resolver os problemas sozinhos sem pedir ajuda, o que faz com que muitos de nós carreguem um peso às costas e uma sensação solitária no peito. Ao longo dos anos vamos crescendo e esse sentimento cresce connosco. Chegamos à faculdade e muitos são os que se sentem um pouco perdidos. Esperam tanto de nós, jovens. Esperam uma certa perfeição inalcançável que sempre perseguimos por termos o sentimento de que nunca seremos suficientes até chegar lá.

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No segundo mês da minha vida académica consigo perceber a resiliência acrescida mentalmente que tenho face ao secundário, mas também sinto naturalmente o peso que cresce todos os dias, assim que me estou a aproximar cada vez mais do “mundo dos crescidos”, o mundo de que tanto falávamos quando nos impunham regras quando éramos pequenos ou quando nos sentíamos injustiçados por a hora da brincadeira acabar. Sempre desejámos esse mundo novo e, finalmente e assustadoramente, esses dias estão a chegar.

Quando era mais nova achava que tinha de estar sempre bem para ser capaz de entrar na universidade e de conseguir ter um bom trabalho. Agora percebo que não faz mal termos dias maus. Estamos aqui na mesma e esses piores dias ajudam-nos a fortalecer a nossa mente e a nossa capacidade de lidar com as adversidades, o que nos vai ajudar mais tarde na faculdade e no mercado de trabalho.

A geração alpha, por exemplo, tem infelizmente uma maior noção de ansiedade e de saúde mental do que nós alguma vez tivemos na idade destes. Somos acompanhados de várias aplicações, como o Tik Tok, o Youtube, o Instagram, e, cada vez mais cedo, estamos a permitir o acesso a tais plataformas a crianças progressivamente mais novas.

A nossa mente está sempre em desenvolvimento, especialmente a das crianças e pré-adolescentes. No entanto, vejo hoje crianças de 8, 9 e 10 anos a ter uma ansiedade e preocupação com a vida a níveis extremamente mais altos do que outras gerações. A despreocupação das crianças está a ser substituída por uma consciência pesada de quem tem demasiado para pensar em vez de viver a fase da inocência.

Uma frase que considero muito importante neste tema é do poeta Thomas Gray, que disse, e cito, “Where ignorance is bliss, ‘tis folly to be wise.”, o que, a meu ver, neste caso, remete para a ideia de que a ignorância deva estar presente na nossa infância e ser desmistificada mais tarde na saída da fase juvenil.

A saúde mental tem vindo a piorar pois cada vez mais cedo somos expostos a assuntos e inquietações. Ser uma criança nos anos 60 não foi o mesmo que ser uma criança em 2020. Cada criança tem o mesmo processo de formação cerebral, mas atualmente não são bem protegidas de certos temas.

Posteriormente vamos ter mais dificuldade a lidar com a ansiedade, apesar de sermos expostos a ela desde muito cedo. Aprendemos apenas a viver com ela, mas sempre com receio, pois antes representava os monstros debaixo da cama e agora representa os monstros na nossa cabeça.

A saúde mental é um assunto delicado. Contudo, é importante ser algo que se deve ter sempre em atenção. A ansiedade faz com que fiquemos incapacitados de fazer até as mais pequenas coisas do quotidiano, quanto mais uma rotina académica.

Desta maneira, temos de saber reconhecer a nossa força por sermos capazes de fazer o que já fazemos todos os dias. Por vezes só temos dez por cento para dar, ou 30, ou 50. Desde que cuidemos sempre bem de qualquer percentagem de energia que tenhamos, vamos ser bons profissionais, pois estes são também aqueles que reconhecem os seus limites e evoluem através deles. A ajuda nestes momentos é crucial e a saúde mental e a vida académica podem, perfeitamente, andar lado a lado.

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Artigo revisto por Beatriz Mendonça

AUTORIA

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A Sara tem 18 anos, e está no primeiro ano de relações públicas e comunicação empresarial, desde pequena que sonha em fazer a diferença no mundo. Tem interesse nas artes, no cinema, no teatro. Sempre quis ter um meio para partilhar das suas opiniões e ajudar a dar uma voz a quem não a tem, no departamento de opinião da ESCS Magazine tem expectativas de se desafiar e expor as suas opiniões para assim também explorar novos mundos. O trabalho de sonho é fazer parte da ONU, algo com o qual sempre sonhou, que lhe permitiria uma ponte de acesso mais facilitada para a população global. Criatividade é o seu grande amigo e a escrita é uma maneira de o fazer transparecer.