Informação

Ameaças da Rússia a Portugal: a resposta ao apoio à Ucrânia

No passado dia 20 de setembro, a Rússia ameaçou Portugal com medidas de retaliação pelo envio de seis helicópteros militares para a Ucrânia. Para o Kremlin, esta iniciativa hostil representa um agravamento da já acentuada crise nas relações entre os dois países.

O anúncio de que a Rússia pretende avançar com ações de retaliação contra Portugal foi feito pela porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros Russo, Maria Zakharova. A porta-voz da diplomacia russa assegurou ainda que essas medidas serão estudadas em sigilo, mas que toda a gente saberá quando as mesmas começarem a ser aplicadas.

Maria Zakharova, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo.
Fonte: REUTERS / Maxim Shemetov

Em causa está a cedência de helicópteros Kamov, que foram adquiridos à Rússia em 2006 pelo Ministério da Administração Interna, à época liderado por António Costa. Inicialmente, os Kamov foram obtidos por Portugal com o objetivo de serem utilizados no combate a incêndios e agora seguiram para a Ucrânia com o propósito de auxiliar o país na guerra.

Apesar de a conclusão do processo ter ocorrido apenas em setembro deste ano, a entrega dos seis helicópteros foi aprovada ainda em outubro de 2022, quando a então ministra da Defesa, Helena Carreiras, anunciou que Portugal iria enviar os equipamentos para a Ucrânia por não terem licença para operar em território português, devido às sanções impostas à Rússia que vigoravam no momento. Já nessa altura, Moscovo deixou críticas ao Governo português, uma vez que a Rússia não tinha autorizado a entrega dos helicópteros à Ucrânia.

Os alertas da Rússia nos últimos anos

Desde o início da invasão à Ucrânia, em fevereiro de 2022, o Kremlin tem emitido uma série de avisos ao Governo português, como consequência do apoio demonstrado por Portugal a Kiev.

Em abril de 2022, apenas dois meses depois do início da guerra da Ucrânia, Dmitry Medvedev, vice-presidente do Conselho de Segurança de Putin, recorreu à rede social Telegram para alertar Portugal de que a invasão russa tinha como objetivo final “uma Eurásia unida, de Lisboa a Vladivostok”. Um objetivo que não era novo e que pretendia recuperar a ideia de uma Rússia gloriosa, numa tentativa de reposicionar o país e de fazer com que se repensasse a segurança entre a capital portuguesa e a cidade russa.

Dmitry Medvedev, ex-presidente da Rússia e atual vice-presidente do Conselho de Segurança de Putin.
Fonte: Ekaterina Shtukina / Associated Press

Em maio deste ano, Maria Zakharova alertou para a crise profunda em que se encontravam os vínculos entre Portugal e a Rússia, justificando a instabilidade das relações entre os dois países com a postura hostil assumida pelo Governo português contra Moscovo, desde o início da Guerra. As declarações de Maria Zakharova foram feitas numa altura em que a Rússia estabelecia acordos de cooperação militar com São Tomé e Príncipe e com a Guiné-Bissau, ex-colónias portuguesas, abalando ainda mais as relações luso-russas.

Logo após a eleição para o Parlamento Europeu, a porta-voz da diplomacia russa frisou, mais uma vez, a profunda crise das relações entre Lisboa e Moscovo e aconselhou o Governo português a avaliar cuidadosamente os acontecimentos e os factos, no que diz respeito à guerra da Ucrânia, tendo em vista a necessidade de preservar e desenvolver os laços entre os dois países.

Kiev valoriza o apoio de Portugal

Depois de serem conhecidas as declarações de Maria Zakharova, o Governo ucraniano afirmou que não subestima as ameaças feitas pela Rússia, alertando para o caráter sério das mesmas e para a grande probabilidade de serem colocadas em prática.

Ainda assim, a Ucrânia fez questão de agradecer a Portugal pelo apoio prestado desde o início da Guerra e assegurou que valoriza profundamente a boa ligação que existe entre as duas nações.

Fonte da Capa: PlanePhotos / mariofontes

Artigo revisto por Madalena Ribeiro

AUTORIA

+ artigos

Quando era criança, a Letícia sonhava em ter uma profissão diferente todas as semanas. Quando chegou a altura de escolher o que estudar no ensino superior, o cenário não podia ser mais diferente porque parecia que nada lhe interessava. Por gostar muito de ler e escrever e por ter sempre muita curiosidade em procurar respostas para as suas perguntas, a licenciatura em Jornalismo na ESCS pareceu-lhe a melhor opção. Foi durante o curso que percebeu que a sua paixão era a mesma que, em tempos, também tinha sido a da sua mãe: o Jornalismo Desportivo. Antes de acabar a licenciatura e de se especializar na área do desporto, decidiu abraçar uma nova experiência e escrever para a secção de Informação da ESCS Magazine.