Como a Literatura é Usada Como Ferramenta de Resistência
Dentro da Literatura há vários géneros diferentes, com objetivos diferentes. Alguns têm como único propósito entreter o leitor, outros assustá-los e acrescentar um pouco de suspense e outros chegam mesmo a desafiar o leitor. A esse tipo de livros dá-se o nome de Literatura de Resistência.
Mas, afinal, o que é a literatura de resistência? A literatura de resistência é um género literário que procura questionar o leitor sobre as injustiças sociais, promovendo a mobilização e consciencialização dos leitores acerca de temas como racismo, machismo, opressão de minorias ou desigualdade económica.
A literatura como forma de resistência “expõe factos da realidade, a rotina dos meios de alienação, o inverso de uma vida plena e digna, a fim de afrontar e tirar o sossego da força dominante” (MACIEL, 2022 – digitalizado).
Apesar de atualmente a Literatura, no geral, ser bastante subestimada, tem uma grande importância histórica, sobretudo neste género. Esta ganha especial importância em períodos de repressão, como ditaduras ou regimes autoritários, pois fornece uma voz aos oprimidos. Não só inspira ações coletivas, como também documenta o sofrimento das pessoas sob tais políticas e as suas esperanças, contendo, assim, testemunhos importantes sobre o passado. Apesar de grande parte destes livros focarem-se em eventos passados, ainda inspiram as novas gerações a continuarem a lutar por igualdade e justiça, como os seus ascendentes fizeram.
Como dito anteriormente, a Literatura como forma de resistência tem um papel mais presente em tempos de opressão. Apesar desta importância, os autores desses livros enfrentavam demasiados obstáculos no seu caminho, como censura, perseguição ao autor e aos seus familiares, tortura (tanto física como psicológica), insultos verbais e morte. Autores que viviam em regimes totalitários viviam em constante medo, tanto por si, como pelos que estavam ao seu redor e pelos seus leitores. Atualmente, apesar dos autores que escrevem literatura de resistência não enfrentarem tais desafios, ainda têm de ter bastante coragem para escrever sobre certos temas. Como a política é bastante subjetiva, tanto podem receber muita admiração como ódio, tão rápido recebem prémios pelo livro como ameaças de morte ou demissões.
Autores como Jorge Amado, Conceição Evaristo, James Baldwin, Audre Lorde, Chimamanda Ngozi Adichie e Eduardo Galeano enfrentaram os seus medos, expuseram-se a si mesmos e às suas ideias da maneira mais crua que conseguiram e escreveram sobre o que observavam à sua volta.
Então, aqui vai umas recomendações das suas obras:
Capitães da Areia é um romance do escritor brasileiro Jorge Amado. A obra foca-se na história de um grupo de crianças que crescem na cidade de Salvador, Brasil, mais especificamente nas suas ruas. No livro explica como as crianças são “obrigadas” a roubar, para assim conseguirem sobreviver. Mesmo com a ajuda do padre (até ser proibido pelo bispo), não é o suficiente. Apesar de terem uma rotina conturbada, era como o grupo vivia o seu dia-a-dia, até conhecerem uma menina, a Dora, que vai mudar completamente as suas vidas.
Olhos d’Água é um ensaio da escritora brasileira Conceição Evaristo. A obra foca-se na população afro-brasileira, mais especificamente a pobreza e a violência urbana que esta sofre. Este livro aborda dilemas sociais, sexuais e existenciais, em forma de várias mulheres. Isto significa que nos contos presentes no livro, o leitor percebe que as histórias focam-se em mulheres com diferentes idades e histórias, no entanto, todas sofrem com as condições que lhes são impostas.
Concluindo, é importante, com as constantes mudanças políticas e demográficas, conhecermo-nos a fundo, ao ponto de saber com quais valores nos identificamos e, assim, saber como lutar por eles. Aliado a isto, nunca se deve subestimar o poder das artes, especialmente da literatura, porque, como ferramenta de resistência, sempre foi e sempre será uma forma de ativismo.
Se queres mais recomendações de livros como estes ou saber mais a fundo sobre este tema, fica atento para uma continuação deste artigo.
Artigo revisto por Constança Alves
Artigo de capa: Outras palavras