De Herói a Vilão
Ser guarda-redes não é para qualquer um. É a posição mais desvalorizada e injusta do Futebol.
“O gordo vai à baliza!” Quantas foram as vezes, ao longo da nossa infância, é que ouvimos esta frase? Principalmente quando éramos crianças e íamos jogar futebol com os nossos amigos, ninguém queria ir à baliza. Todos queriam ser como o Cristiano Ronaldo e marcar golos, mas ninguém se lembrava de que o Ronaldo não marca golos nem ganha jogos, sozinho. Com ele estão, pelo menos, outros dez jogadores em campo, incluindo um guarda-redes. De que é que interessa o Cristiano marcar três golos se sofrer quatro? Tem de haver alguém atrás que se entregue física e psicologicamente ao jogo para evitar que a sua equipa sofra golos. Este é apenas um pormenor.
Para ser mais fácil entender para quem nunca experimentou ser guarda-redes, vou utilizar um sentimento pelo qual todos nós passamos na vida em geral, de modo a fazer uma breve comparação. Conhecem aquele sentimento de quando queremos muito fazer uma coisa com a melhor das intenções e não corre bem? Pois, é isso. Costuma-se dizer que de boas intenções está o inferno cheio. Um guarda-redes quando “franga”, isto é, quando erra, cai-lhe o mundo em cima, o que até é normal, visto que normalmente um erro de um guarda-redes custa sempre um golo. E é assim que facilmente passa de herói a vilão. O “frangueiro”, quando entra em campo, carrega consigo uma tremenda responsabilidade. Carrega consigo a responsabilidade de proteger a baliza de uma equipa que pode ter muitos adeptos e por vezes chega mesmo a carregar consigo o sonho de uma nação inteira, e, por um momento de desconcentração, pode ver-se comprometido.
“Falta um minuto para acabar o jogo. O resultado encontra-se empatado. Lá vai Tó Zé com a bola, isolado frente ao guarda-redes… e atira para fora. Que desperdício! Na resposta, a equipa adversária chuta de bastante longe, a bola vai na direção do guarda-redes, que não consegue agarrar a bola, larga-a, e esta acaba por entrar na baliza. É golo! 2-1, e o árbitro apita para o final da partida. Os Joaquinzinhos sagram-se campeões”. É sobre isto ser guarda-redes. Nas redes sociais só se comenta que o guarda-redes é fraco, que não tem nível para a equipa que representa, que é um “frangueiro” e que a culpa é dele… muitas vezes até mesmo dentro do balneário se pensa assim. O guarda-redes em questão até pode ter defendido três penaltis antes desse momento, mas não interessa. Para as pessoas já só interessa que ele não conseguiu defender aquela bola fácil, que até ia molhada porque estava a chover. “Espera, deixa puxar atrás. Ah, mas então o avançado falhou isolado? Só com o guarda-redes pela frente? Ah, pois é, já não me lembrava que ele falhou aquilo, mas é o meu ídolo porque já fez 30 golos esta época. Um guarda-redes profissional é que não pode cometer aquele erro.” Isto é um pouco ilustrativo daquilo que são as injustiças de que um guarda-redes é vítima. Se calhar, é por isso que poucos querem ser guarda-redes e esta posição acaba tão desvalorizada. Afinal de contas, com um grande poder vem uma grande responsabilidade e nem todos têm a capacidade e a coragem de assumir tal responsabilidade. Então, talvez seja melhor pregar que ser guarda-redes é fácil, que é secante, ou até mesmo que estes não se cansam porque não correm.
Ser guarda-redes é ser perfeito durante todo o jogo, manter-se focado e concentrado, ser corajoso e resiliente e, acima de tudo, é saber reconhecer que tal como os seus restantes colegas de equipa não é um robô e vai cometer erros. É importante que seja feito este trabalho de consciencialização aos amantes de Futebol e a todos aqueles que sobre ele falam cujas opiniões podem influenciar pessoas.
Fonte da capa: Unsplash
Artigo revisto por Pedro Filipe Silva
AUTORIA
Era uma vez um jovem de 18 anos que, agora, estuda na Escola Superior de Comunicação Social no Instituto Politécnico de Lisboa. Ele sempre foi uma criança cheia de sonhos, dos quais nunca desistiu. Ele ama desporto, principalmente futebol por isso escolheu jornalismo com o intuito de um dia se tornar jornalista desportivo. Isto tudo o levou a entrar para a ESCS Magazine na secção de desporto