Emigração jovem: números oficiais não correspondem à realidade
Todos os anos milhares de jovens abandonam o país em busca de uma vida melhor. Nos últimos tempos, a emigração jovem em Portugal atingiu valores muito superiores àqueles que foram registados no final dos anos 60. Desde 2010, mais de 200 mil portugueses, com idades compreendidas entre os 20 e os 40 anos, deixaram oficialmente o país, ou seja, tornaram-se emigrantes permanentes, por um período superior a um ano. No entanto, investigações feitas por especialistas levam a crer que este número — 200 mil — pode estar muito longe da realidade. Na verdade, o número de emigrantes jovens pode ser muito superior àquele que consta nos documentos oficiais que controlam as entradas e saídas do país.
No ano de 2013, deram entrada no Reino Unido, Suíça e Alemanha — os três países com mais imigrantes portugueses — 55.910 indivíduos. Este número ultrapassa aquele que é indicado nos documentos do Instituto Nacional de Estatística (INE): 53.786 é o número que se pode ler no registo de saídas permanentes, neste ano, para os mesmos destinos.
A razão para que se acredite que os dados oficiais estão errados é simples: com o acordo de Schengen, que permite a liberdade de circulação, tronou-se difícil monitorar o fenómeno da emigração. Muitos jovens, por exemplo, mudam de país mas nunca alteram a morada oficial. Isto faz com que não constem dos registos de emigração.
Através de um inquérito, efectuado pelo projecto Generation E, que pretende analisar os fluxos invisíveis de emigração jovem, em que se perguntou a 1221 jovens de várias nacionalidades se já tinham registado oficialmente a sua morada no novo país, 532 jovens responderam que não.
Mas o que é que pode levar a que os jovens emigrantes nunca alterem a sua morada oficial, contribuindo assim para esta discrepância de números? A socióloga espanhola Amparo González tem uma explicação: há uma falta de estímulos positivos para que os jovens se registem nos países de acolhimento. Aqueles que escolhem outro país para viver perdem, na maior parte das vezes, os direitos que tinham no país de origem. Por exemplo, um jovem espanhol que vá viver durante três meses para o Reino Unido, tendo efectuado o registo da nova morada noutro país, perde o direito a ter um médico de família em Espanha. O mesmo acontece em Itália e em Portugal.
O Projecto Generation E, depois de chegar a estas conclusões, pretende continuar à procura de histórias que alertem os governos para a emigração que as estatísticas não vêem, para que se possa encontrar uma solução de forma a que os dados oficiais se aproximem cada vez mais da realidade, proporcionando, dessa forma, uma melhor qualidade do fluxo emigratório e monitorização do mesmo.