Fake news e universidades: estamos preparados para o combate à desinformação?
A circulação de notícias falsas tornou-se um desafio crítico para as instituições de Ensino Superior. Pesquisas recentes mostram que a informação falsa se propaga de forma mais rápida e ampla nas redes sociais do que os conteúdos verdadeiros porque tende a ser mais surpreendente e, por isso, mais partilhável. Esta realidade cria uma janela de oportunidade muito curta para corrigir as perceções erradas antes que se consolidem na esfera pública. O presente texto analisa a capacidade das universidades para enfrentar a desinformação, destacando fragilidades, boas práticas e estratégias inovadoras que podem ser implementadas no contexto académico.
A ciência académica é lenta: a janela para debunking eficaz é curta
O processo académico tradicional exige tempo para a conceção de estudos, revisão por pares e publicação, enquanto as notícias falsas circulam de forma quase instantânea. Estudos indicam que correções tardias têm menor efeito, pois a familiaridade com informações erradas aumenta a resistência à correção. Por isso, as universidades devem criar protocolos de comunicação rápida e estabelecer parcerias estratégicas com meios de comunicação e plataformas digitais, para ser possível intervir no momento adequado.
Laboratórios universitários: centros de deteção valiosos (que podem ser) vulneráveis
Os centros de investigação especializados compilaram ferramentas e metodologias para monitorizar campanhas coordenadas e narrativas virais. Contudo, mesmo instituições de topo enfrentam fragilidades. Em 2024, o Stanford Internet Observatory sofreu uma redução significativa da sua equipa devido a pressões políticas, processos judiciais e uma não renovação de contratos de investigadores, evidenciando a tese de que fatores externos podem comprometer o trabalho destes laboratórios. Ou seja, a fragilidade institucional reduz a capacidade de resposta e coloca em risco o papel da academia como produtor independente de evidência. Esta situação sublinha a necessidade de diversificação do financiamento e de salvaguardas institucionais.
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Prebunking: uma ferramenta de eficácia comprovada e escalável
A investigação experimental sobre “inoculação” mostra que expor indivíduos a versões simplificadas de técnicas de manipulação reduz significativamente a probabilidade de aceitarem informação falsa. Intervenções pedagógicas, sejam jogos, cursos teóricos e/ou práticos ou outros, já demonstraram eficácia e são escaláveis para comunidades académicas. Integrar estas metodologias em ações específicas cria uma camada preventiva que é, do ponto de vista custo-benefício, uma aposta ganha para as universidades.
O problema curricular: literacia informacional pouco transversal
Frameworks internacionais, como os da DigComp 2.2, definem competências digitais e de literacia mediática essenciais. Apesar disso, a sua integração em todos os cursos universitários é ainda limitada. Tornar obrigatórios módulos de literacia informacional e digital pode ser uma estratégia de grande impacto, preparando os estudantes para lidar de forma crítica com conteúdos online e contribuindo para uma sociedade mais informada e resiliente. A autoridade epistemológica das universidades como vantagem estratégica
Apesar de desafios e flutuações de confiança em alguns setores, a comunidade académica continua a gozar de elevada credibilidade pública. Esta autoridade deve ser convertida em ação concreta: fact-checking transparente, formação prática, produção de conteúdos verificados e consultoria especializada. Para estudantes e profissionais de Relações Públicas, onde me incluo, estas iniciativas representam oportunidades reais de criação de serviços, projetos de investigação aplicada e parcerias estratégicas.
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As universidades dispõem de recursos intelectuais, técnicos e de credibilidade para liderar a resposta à desinformação. No entanto, para cumprir este papel de forma sustentável, devem acelerar protocolos de comunicação institucional, proteger laboratórios de investigação, implementar programas de prebunking e literacia informacional obrigatórios e transformar conhecimento em serviços e produtos verificáveis. Estas ações fortalecem a resiliência democrática e criam oportunidades concretas para estudantes e docentes de Relações Públicas e Comunicação, consolidando o papel da academia como referência de confiança e autoridade epistemológica.
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Artigo revisto por Carla Vitório
AUTORIA
Atualmente, colaborador da agência de comunicação e publicidade “VML”, na account da Microsoft, e responsável pelas pastas de «Apoios e Parcerias» e «Voluntariado» de uma entidade do terceiro setor - LABIT&E -, o Tiago frequenta o primeiro ano da licenciatura de Relações Públicas e Comunicação Empresarial. Formado em Artes do Espetáculo - Interpretação, pela Escola Profissional de Teatro de Cascais, iniciou a sua atividade profissional, fundando e presidindo uma associação sem fins lucrativos - Associação Sócio-Cultural e Artística Sem Tábuas -, uma entidade que utilizava a cultura e arte como ferramentas de desenvolvimento em contextos de bairros sociais, hospitais e escolas. Após 8 anos desta experiência, resolveu integrar uma empresa de Recursos Humanos e, desta, voou para a Lisbon Cruise Port, a entidade que gere os terminais de cruzeiros de passageiros de Lisboa, onde coordenou a sua Comunicação.
Resolveu, depois de alguns anos no mercado laboral, ingressar na universidade para poder consolidar aprendizagens e experimentar: formas de fazer e aprender.



