GRAMMYs 2025: uma vitória para artistas negros
A 67.ª edição dos mais cobiçados prémios da música aconteceu na madrugada de 2 para 3 de fevereiro.
Anunciadas no início de novembro, as nomeações para os prémios da Recording Academy prometiam uma vitória fácil para as “meninas do pop”, mas a noite mais esperada do mundo da música trouxe surpresas para todos.
A edição de 2025 dos GRAMMY Awards teve atuações de Charli xcx, Chappell Roan, Shaboozey, Raye, Shakira, e muitos outros. Entre os nomes que marcaram presença estão Alicia Keys, Cardi B, Olivia Rodrigo, Green Day e Kanye West e a esposa Bianca Censori, que deram que falar por terem sido expulsos do tapete vermelho ainda antes da cerimónia ao aparecerem sem convite.
Por fim, foi feito um tributo a Los Angeles – no qual participaram Bruno Mars e Lady Gaga –, outro a Quincy Jones e uma homenagem em memória de artistas falecidos no ano passado, como Liam Payne. No intervalo, Lady Gaga, como tinha prometido aos fãs, transmitiu uma música inédita, Abracadabra, e o videoclipe que a acompanha, numa parceria com a Mastercard.
As “Grandes Quatro” vitórias
Eram muitos os nomes conhecidos para as “Grandes Quatro” categorias da noite (Canção do Ano, Gravação do Ano, Álbum do Ano e Artista Revelação). Sabrina Carpenter, Billie Eilish, Taylor Swift, Chappell Roan e Charli xcx foram as artistas a representar o pop feminino este ano, mas para estes galardões estavam nomeados também The Beatles (rock), Beyoncé (country) e Kendrick Lamar (hip-hop).
A primeira categoria a ser anunciada foi a de Artista Revelação, por Victoria Monét, vencedora na cerimónia passada. Monét entregou o prémio a Chappell Roan, conhecida pelos êxitos HOT TO GO! e Good Luck, Babe – esta última concorria também para Canção e Gravação do Ano.
Depois de artistas como Jennifer Lopez, Will Smith e SZA passarem pelo palco para entregar as categorias de géneros musicais específicos, chegou a altura da Gravação do Ano, apresentada por Miley Cyrus, também vencedora do GRAMMY no ano passado. A cantora norte-americana fez o seu discurso e, antes de anunciar o grande vencedor brincou: “E o GRAMMY vai para… mesmo que não sejas tu, Beyoncé, talvez diga só que és.”. No final, o prémio foi entregue a Kendrick Lamar, com Not Like Us, música amplamente conhecida por fazer parte da “feud” com Drake.
Já perto das 4h30 da manhã em Portugal, Diana Ross subiu ao palco para anunciar o galardão de Canção do Ano, que, ao contrário da Gravação do Ano, é entregue aos compositores e não apenas ao artista principal. As previsões apontavam para que esta fosse uma luta forte entre Birds of a Feather (Billie Eilish) e Die with a Smile (Lady Gaga e Bruno Mars), mas a vitória foi novamente de Kendrick Lamar. Com este feito, o rapper tornou-se apenas o sexto artista negro a vencer ambas as categorias na mesma noite.
Para o último prémio da noite foi homenageado o Departamento de Bombeiros de Los Angeles, que entregou o mais cobiçado de todos: Álbum do Ano. Apesar de parecer inesperado para muitos, Cowboy Carter, o mais recente projeto de Beyoncé, recebeu o principal galardão da noite. A cantora norte-americana havia sido nomeada cinco vezes para esta categoria e, na cerimónia do ano passado, ao aceitar o prémio de homenagem (Dr. Dre Global Impact), o marido Jay-Z declarou: “Não quero envergonhar esta senhora, mas ela tem mais GRAMMYs do que qualquer pessoa e nunca ganhou o Álbum do Ano. Então, mesmo pelas vossas próprias métricas, isso não funciona.”. Em reação e de acordo com as próprias vitórias de Beyoncé ao longo da noite, calculava-se que Cowboy Carter o levasse para casa, mas também surgiu como surpresa por ter sido recebido por parte do público com pouco carinho.
No fim de contas:
- Kendrick Lamar venceu cinco das categorias a que estava nomeado: Canção e Gravação do Ano, Melhor Videoclipe, Melhor Canção Rap e Melhor Performance Rap (com Not Like Us)
- Sabrina Carpenter venceu três: Melhor Performance Pop a Solo (com Espresso), Melhor Álbum Pop Vocal (com Short n’ Sweet) e Melhor Gravação Remix, Não-Clássica (com Espresso – Working Late Remix de FnZ e Mark Ronson)
- Charli XCX venceu três: Melhor Álbum Dança/Eletrónica e Melhor Encarte (com BRAT) e Melhor Gravação Dance Pop (com Von Dutch)
- Beyoncé venceu três: Álbum do Ano e Melhor Álbum Country (com Cowboy Carter) e Melhor Performance Country Duo / Banda (com II Most Wanted, colaboração com Miley Cyrus)
- Billie Eilish e Taylor Swift, nomeadas a sete e seis categorias, respetivamente, foram para casa de mãos a abanar.
A celebração de artistas negros
A Recording Academy tem sido amplamente criticada pela exclusão de artistas negras, não apenas das nomeações, mas também das vitórias. Para colocar isto em perspetiva, ao vencer o Álbum do Ano com Cowboy Carter, Beyoncé tornou-se apenas a terceira mulher a vencer o galardão – a primeira desde há 26 anos (1999), quando Lauryn Hill venceu com The Miseducation Of Lauryn Hill.
Além de Beyoncé, Kendrick Lamar varreu cinco das sete categorias para que estava nomeado. Outra artista de destaque na noite foi Doechii, cantora e rapper em ascensão, que marcou a sua presença pela primeira vez este ano na cerimónia e venceu o Melhor Álbum Rap — a terceira mulher a vencer o GRAMMY.
Durante a cerimónia, Harvey Mason Jr. (CEO da Recording Academy) abordou a injustiça sentida pelos artistas, fazendo um pedido de desculpas à indústria da música e dando como exemplo a controvérsia com The Weeknd, que chegou a boicotar os GRAMMYs.
Em 2019, o artista lançou Blinding Lights, êxito que rapidamente se tornou a música mais ouvida de todos os tempos no Spotify globalmente (e integrante do projeto After Hours, de sucesso semelhante). Em 2021, era um dos nomes apontados para receber um grande número de nomeações à 63.ª cerimónia, mas acabou por não receber uma única.
Em resposta à desconsideração, The Weeknd tweetou que não participaria mais nos GRAMMYs: “Os GRAMMYs continuam corruptos. Devem-me transparência a mim, aos meus fãs e à indústria”. Este ano, The Weeknd e Playboi Carti apareceram para uma atuação surpresa de Cry for Me e Timeless, faixas do mais recente álbum do primeiro, após o pedido de desculpas do CEO, momento que rapidamente viralizou nas redes sociais.
Após 67 anos, a cerimónia de 2025 foi possivelmente a que mostrou maior representação na história dos GRAMMYs. Apesar de revelar ser ainda muito pouca, é um grande passo para destacar novos artistas e dar maior inclusão a mulheres e etnias e identidades sexuais distintas, tal como para criar melhores direitos para os artistas musicais.
Chappell Roan aproveitou o seu discurso de Artista Revelação para destacar este ponto: “As gravadoras precisam de tratar os seus artistas como funcionários valiosos, com um salário digno, seguro de saúde e proteção. Gravadoras, nós cuidamos de vocês – mas, e vocês, cuidam de nós?”.
Fonte da Capa: GRAMMY
Artigo revisto por Constança Alves
AUTORIA
Duarte tem 20 anos e foi apenas no fim do primeiro ano no curso de Publicidade e Marketing na ESCS que decidiu que Jornalismo era o seu futuro. Desde sempre que a música foi a sua grande paixão, associando cada uma das memórias mais antigas com uma música diferente. Com um gosto especial por pop e pop alternativo, sonha um dia poder fazer parte da equipa de uma rádio.