Inovador, surpreendente e memorável.
O MetLife Stadium acolheu, no dia 7 de abril, a 35ª edição da Wrestlemania. O evento ficou marcado pelo primeiro main event formado por lutadoras e por campeões inesperados.
Devido à longa duração do evento (sete horas e meia), apresentarei os maiores destaques da noite.
O espetáculo começou a todo o gás e de uma forma surpreendente com o combate pelo título Universal. Paul Heyman dirigiu-se até ao ringue e exigiu que o combate do seu cliente, Brock Lesnar, abrisse o evento. A justificação dada foi que queriam despachar o combate para poderem viajar de jato até Las Vegas (e por não ser o estar presente no evento principal). Quando o desafiante pelo título, Seth Rollins, descia a rampa até ao ringue, Lesnar atacou-o brutalmente e aplicou o seu finalizador (F5) na parte exterior do ringue. Debilitado, Rollins deu o seu aval e permitiu que o combate se iniciasse. O momento que desbloqueou o combate foi quando o campeão atirou o árbitro para fora do ringue por ter sido empurrado. O membro dos Shield usou um golpe baixo para imobilizar a “besta encarnada”.
O campeão, que venceu o título Universal no passado SummerSlam, ficou exposto a três golpes poderosos de Seth Rollins. A investida do campeão grand slam foi letal e suficiente para vencer Brock Lesnar. A Wrestlemania começava com um choque geral do público com a coroação de um novo campeão de um título mundial e com o cumprimento daquilo que foi prometido, por Rollins, durante várias semanas consecutivas nas noites de Monday Night Raw: vencer o campeão Universal.
Seguiu-se um combate com um background bastante peculiar, muito marcado pelo passado dos lutadores em questão. De um lado, Randy Orton – lutador de 3ª geração, múltiplas vezes campeão da empresa e classificado por muitos como futuro Hall of famer – que desejava provar que era superior a qualquer tipo de talento formado fora da WWE. Do outro, Aj Styles – campeão na TNA, na New Japan Pro Westling, na ROH, na IPW, etc. – que, valorizando o seu passado, queria mostrar que alguém que se esforça e luta por aquilo que quer também pode ter o mesmo sucesso de um “projeto de desenvolvimento” da WWE. O confronto, apesar de bastante físico, não deixou de ter momentos recheados de agilidade. Tanto Orton como Styles exibiram-se a grande nível, mas o fim do combate acabaria por se revelar “fenomenal”: o lutador que percorreu o mundo e que construiu o seu nome nas empresas indi saltou da terceira corda para aplicar uma potente cotovelada no rosto do filho de Bob Orton. O “Phenomenal One” vencia assim a “Viper”.
De seguida, quatros equipas iriam disputar os títulos de duplas do Smackdown Live. A equipa de Ricochet e Aleister Black, a dupla internacional de Rusev e Shinsuke Nakamura e os The Bar iriam tentar destronar o reinado de Jimmy e Jey Uso. Foi um dos mais habilidosos combates da Wrestlemania, não estivéssemos a falar de oito talentosos performers. Cada uma das equipas teve o seu momento para brilhar, mas os títulos de duplas ficaram mesmo na “prisão” dos irmãos Uso.
O quarto confronto foi o culminar de uma intensa rivalidade. The Miz enfrentou Shane McMahon num combate em que a estipulação legalizava o assentamento em qualquer lugar da arena. Esta rivalidade começou quando o filho de Vince McMahon decidiu virar costas ao seu parceiro de dupla e atacar o pai de The Miz. Shane, ao longo das noites do Smackdown Live humilhava a família Mizanin, o que alimentou ódio do antigo campeão mundial. Os dois antigos membros da “melhor tag team do mundo” permaneceram pouco tempo no ringue e deslocaram-se pela arena à procura dos objetos ou dos lugares mais perigosos para criarem danos mais profundos ao adversário. Mas no ringue apareceu o pai de The Miz para defender o seu filho de mais danos. Porém a bravura de George Mizanin não foi respeitada pelo antigo comissário da brand azul que com joelhadas e pontapés derrubou o homem de 68 anos. The Miz não se ficou e começou então a circular pela arena com intenções de magoar o seu antigo parceiro. O final do combate foi um verdadeiro “Wrestlemania moment”. As expressões de fúria na face de The Miz conjugadas com a aparente rendição de McMahon foram as últimas expressões antes de ambas as caras esboçarem sofrimento. Um sofrimento causado por The Miz que aplicou um suplex que começou no topo de uma superfície e que só acabou no chão da arena. É importante salientar que o chão e a superfície estavam separados por alguns metros de altura.
Com muita sorte, e sem o próprio expectar, Shane McMahon saiu vencedor por ter caído com o braço por cima de The Miz.
O exato momento em que The Miz aplicou o suplex na plataforma. Fonte: WWE
Resultado de outros combates:
– T. Nesse venceu Murphy e conquistou o título Cruserweight
– Curt Hawnkins e Zack Ryder derrotaram os The Revival pelos títulos de duplas do RAW
– Carmella venceu a anual Batalha Royal feminina
– Braun Strowman venceu o Andre “The Giant” Battle Royal
– As Iconics derrotaram as equipas de S. Banks e Bailey, de Nia Jax e Tamina e de Beth Phoenix e Natalya pelos títulos de duplas femininos
– Roman Reigns derrotou Drew McIntyre.
– Samoa Joe reteve o título dos Estados Unidos frente a Rey Mysterio
– O “Demon” Finn Balor derrotou Bobby Lashley pelo título Intercontinental
Não há dúvidas quanto ao grande combate da noite. Kofi Kingston teve a sua primeira oportunidade pelo título da WWE ao fim de onze anos. Para concretizar o seu sonho e se tornar campeão mundial, teria de derrotar um dos mais técnicos lutador da empresa: Daniel Bryan. Pelas palavras de Vince McMahon e do campeão, Kofi até era um bom atleta, mas não era digno de disputar um combate com calibre de main event. A verdade é que o membro dos New Day conseguiu ultrapassar todos os obstáculos que se foram intrometendo no seu percurso. A respeito daquilo que aconteceu no ringue, podemos descrever esta luta como brutal, emocionante e memorável. Tanto o campeão como o desafiante proporcionaram momentos a rondar a perfeição. Os dois atletas contaram uma verdadeira história com os seus golpes e manobras arriscadas. Kofi esteve perto de dar razão a aqueles que não acreditavam nele, mas mostrou-se resiliente e conseguir aplicar o “trouble in paradise” a Daniel Bryan. Partiu para o assentamento e aquele que era visto como muitos como um “B+ player” tornou-se num “A+” e capturou o título mais privilegiado da companhia. O público “rebentou” com o sucesso do membro dos New Day e não ficou indiferente quando os filhos do novo campeão se juntaram à celebração. Para a festa se tornar ainda mais histórica, Big E e Xavier Woods substituíram o título ecológico pelo antigo e clássico formando do cinturão.
Dando continuidade a combates que foram o culminar de boas “narrativas”, aconteceu a luta entre duas lendas do sports entretainment: Triple H e Batista. A história por detrás deste combate começou no episódio número 1000 do SmackDown. Dave Batista, que não aparecia num episódio semanal da WWE desde 2014, compareceu numa reunião dos Evoluction – grupo ao qual pertenceu – e depois de elogiar o “The Game” terminou a sua intervenção a provocá-lo: “Fizeste de tudo na empresa (…), exceto derrotares-me”, disse o “Animal”. A verdade é que a rivalidade entre estes dois colossos parecia estar morta. Mas reacendeu-se quando Batista atacou Ric Flair na noite do seu aniversário. Segundo o mesmo, este fê-lo para ter total atenção de Triple H. As semanas seguintes até à Wrestlemania estiveram cheias de insultos e provocações de parte a parte e com um combate cuja derrota do CEO da empresa significaria o seu final de carreira.
Aquilo que não faltou ao combate foi agressividade. Podemos dizer que estiveram dois guerreiros sem meios termos para alcançar o seu objetivo. Mesas, degraus, marretas, alicates, correntes metálicas, sangue. Todos estes elementos foram protagonistas neste combate nostálgico. O final, porém, não favoreceu muito o atual ator de Hollywood. Numa altura em que ambos os lutadores se encontravam em cantos do ringue opostos, Ric Flair deu uma marreta a Triple H e deslocou-se ao outro canto para provocar Batista. O “assassino cerebral” saltou nos degraus e espetou o topo da marreta na face de Batista. Seguiu-se um Pedigree e a vitória de Triple H naquele que foi o último combate do ex-campeão mundial na empresa.
E por falar em combates que encerram carreiras, o vencedor olímpico, Kurt Angle, enfrentou Baron Corbin no seu último combate. O desfecho acabou por não agradar a maioria dos fãs. Pela idade avançada de Kurt Angle, não se expectava um combate muito físico ou demorado, mas para além de curto, o vencedor acabou por ser Baron Corbin. Para muitos, esta última luta de Kurt Angle deixou a desejar.
E como cereja no topo do bolo: a grande storyline desta “Estrada para a Wrestlemania”. O evento principal da “Galeria dos Imortais” foi o combate entre a vencedora do combate Royal Rumbe de 2019, Becky Lynch, a campeã feminina do SmackDown Live, Charlote Flair e a campeã feminina do Raw, Ronda Rousey, cuja vencedora teria como prémio os dois títulos femininos. Pela primeira vez, o último combate do espetáculo não teve a participação de lutadores do sexo masculino. Este facto demonstra a qualidade das wrestlers dos dias de hoje.
A grande favorita a vencer o combate e a levar os dois cinturões para casa era Becky Lynch. A irlandesa tem vindo a angariar bastantes fãs de há meio ano para cá e é atualmente uma das Superstars com mais merchandise vendido. Como obstáculo teve de derrotar Ronda Rousey que chegou invicta ao combate e Charlotte Flair que tinha acabado de vencer o seu oitavo título da carreira.
Se dúvidas existissem sobre o valor destas três mulheres, o produto que foi criado e deixado no ringue por elas erradicou-as. A luta que encerrou a Wrestlemania 35 foi a prova de que há espaço no desporto e nos grandes palcos para quem se esforça, sejam homens ou mulheres. Mas não é por serem mulheres que foram o evento principal; mereceram-no. Emocionante desde as entradas até à vitória (inesperada) de Lynch. Pela primeira vez a imagem de uma mulher a levantar dois títulos encerrou uma Wrestlemania e é indiscutível que foi a cereja no topo da melhor Wrestlemania dos últimos anos.
Revisto por: Beatriz Pardal