Killing Eve: um final com sabor a injustiça
A série protagonizada por Jodie Comer e Sandra Oh termina o seu legado de quatro temporadas num final apressado que não consegue corresponder às expectativas dos fãs e dos críticos.
A vencedora de um Emmy e de um Golden Globe é uma adaptação da novela de Luke Jennings Codename Villanelle, desenvolvida pela criadora de Fleabag, Phoebe Waller-Bridge.
Killing Eve segue a história de Eve Polastri (Sandra Oh), uma agente de segurança do MI5 que vê a sua vida mudar quando aceita um trabalho de espia numa agência de inteligência externa britânica, e de Villanelle (Jodie Comer), uma assassina em série russa que trabalha para um grupo que se aproveita de assassinos para cometer crimes. A série é um thriller de espionagem que navega pelo mistério da organização The Twelve, enquanto as duas mulheres vivem num jogo de obsessão uma pela outra que muda para sempre as suas vidas.
A história de Eve e de Villanelle chegou aos ecrãs em 2018 e terminou no passado dia 10 de abril. A série pode ser assistida na HBO Max.
NOTA: O resto do artigo contém spoilers sobre o final de Killing Eve
Após três temporadas a ser uma das séries mais emocionantes e hipnotizantes da televisão, um mau final era a última coisa que os fãs esperavam vindo de Killing Eve. Mas o imprevisto aconteceu. Não foi só o desfecho da história que foi uma grande desilusão, a temporada inteira não conseguiu alcançar a qualidade das suas antecessoras.
A temporada final começou logo de uma maneira questionável: não abordando os consequentes do “momento da ponte”. A cena final da terceira temporada nunca foi mencionada nem explicada, tornando a dinâmica entre Villanelle e Eve nos novos episódios um pouco estranha e sem nexo. Em vez de explorar esse final aberto e as suas implicações na relação entre as duas protagonistas, Laura Neal – roteirista da temporada final – optou por encher os primeiros episódios com enredos e com novas personagens que só roubaram o pouco tempo que poderia ter sido utilizado para conseguir desenvolver uma boa narrativa que conseguisse explicar todas as facetas desta série complexa.
Depois de assistir ao último episódio, fica-se com a sensação de que a temporada final foi inútil e de que não exerceu a função de concluir a história. Várias questões não tiveram resposta. O grande mistério dos “The Twelve” não foi desvendado; não se ficou a saber quem é que estava no topo e quem eram os seus principais membros. A cena de Villanelle a matar os integrantes foi bastante fraca e rápida; mal se conseguiu ver a cara dos principais membros da organização encarregue de todo o lado misterioso da série. Não se fica a perceber de que lado a enigmática Carolyn esteve este tempo todo (se é que esteve em algum dos lados…) e por que razão mandou matar Villanelle.
A relação de Villanelle e Eve, o verdadeiro coração da série, não é desenvolvida ao longo da última temporada; as duas personagens passam a maior parte dos episódios separadas e de costas voltadas. A única evolução na relação das duas acontece no último episódio, que acaba tragicamente sem explorar o tão esperado “final juntas” (seja este na sua vertente triste ou numa hipotética vertente feliz). Os momentos românticos entre as duas nos instantes finais do episódio só contribuíram para criar uma esperança de um final feliz no imaginário dos fãs, esperança esta que foi destruída no final.
Numa série como Killing Eve, um final dramático sempre foi uma certeza. Porém, não era esperado que a série chegasse ao fim com um drama medíocre e sem sentido. A morte de Villanelle só foi uma opção dos produtores porque deu um toque de choque ao final da série. Esse lado chocante foi conseguido, mas não da maneira que Laura Neal pretendia. Grande parte dos espectadores já está farta da estratégia de separar casais queer em séries; já está farta do cliché de não lhes dar um final juntos.
“Cada momento nesta série existe para que estas duas mulheres possam terminar numa sala juntas. Realmente teria sido uma traição para com o público se elas não acabassem juntas no final” – infelizmente esta afirmação de Phoebe Waller-Bridge (criadora da série) não se concretizou. A história das duas foi maltratada e teve um final que despertou um sentimento de injustiça. Agora cabe aos fãs construírem as suas próprias versões do final, porque as personagens pertencem ao público e fazem parte dele; não pertencem exclusivamente aos seus criadores.
Fonte da capa: PipocasClub
Artigo revisto por Ana Beatriz Cardoso