Liliana Marques: A Experiência de uma Ex-ESCSiana na Vogue e na LuxWOMAN
Liliana Marques e Cátia Matos têm em comum muito mais que o simples facto de terem passado pela Escola Superior de Comunicação Social. São jovens, apaixonadas por moda e beleza, interessam-se pelas áreas da comunicação e estão atualmente a trabalhar em duas das revistas femininas mais conhecidas em Portugal, a LuxWOMAN e a Vogue. Aceitaram dar esta entrevista à ESCS MAGAZINE para revelarem o outro lado deste campo específico do jornalismo e da comunicação, para desmistificarem tabus e revelarem alguns segredos, e, acima de tudo, mostrarem como esta é uma área interessante não apenas para mulheres, mas para quem quer que se interesse pelas mais variadas áreas culturais.
Esta é a entrevista à Liliana Marques, da Vogue e da LuxWOMAN.
Liliana, passaste por todos os cursos da ESCS exceto Jornalismo. Como é que chegaste, então, a trabalhar em revistas femininas?
Apesar de gostar de ler revistas femininas, o Jornalismo não foi algo que me despertasse o interesse no início, mas depois, um bocadinho por destino, acabei por ser levada nesse caminho. Comecei no 5 para a Meia-Noite, de lá passei para a LuxWOMAN, e daí passei para a Vogue. E aí confirmei que sim, este seria mais o meu caminho que propriamente o caminho da publicidade. Mas as duas coisas juntam-se porque as revistas femininas estão cheias de marcas! Para mim era muito fácil perceber a mecânica da publicidade, como é que as marcas comunicam para chegarem às revistas, o que nós fazemos com e por elas, por isso não está muito distante. Estaria mais distante se estivesse a fazer jornalismo puro e diário, num jornal diário, por exemplo no Correio da Manhã ou no Público.
Quais são as principais diferenças entre a LuxWOMAN e a Vogue?
A LuxWOMAN é muito mais virada para quem tem um estilo de vida com mais rotinas, mas também mais “normal”; para as mulheres portuguesas no geral que se interessam pela cultura e pelo mundo da moda, mas que não chegam ao nível da Vogue, que está muito mais ligada à moda em si e às experiências de vida de luxo, e que acaba por ser um bocadinho um “farol” para todas as outras que estão um pouco abaixo.
Como foi a experiência geral na LuxWOMAN, onde estiveste de novembro do ano passado até ao princípio deste mês?
Foi muito boa. Foi a minha primeira experiência numa redação, onde fazia conteúdos online, portanto deu-me a “estaleca” necessária para perceber como é que as coisas funcionam, porque eu não sabia nada, não tinha vindo de Jornalismo e não fazia ideia de como era estar numa redação. Foi na LuxWOMAN que comecei, com a Cátia, a aprender a escrever notícias para o site, a receber e analisar os presses, ver que marcas é que comunicam e que importância é que têm certas marcas estarem junto de certas notícias. Nós recebemos centenas de emails por dia e temos de ver quais é que são dignos de serem uma notícia, o que é que é o “crème de la crème” de hoje, aquilo de que se tem de falar e aquilo que pode ficar para trás.
Diz-se que os jornalistas dos jornais diários, das rádios e das estações televisivas não têm um horário muito estável, nem muito fácil, e têm pouco tempo livre. Isso também se aplica às revistas, em especial às femininas?
Na LuxWOMAN, na verdade, há muito tempo livre. Claro que temos um horário, mas também temos de respirar, de fazer as nossas pausas tranquilamente, sair a horas e ir para casa, e também passar os fins-de-semana tranquilas. É uma revista um bocadinho mais pequenina que as outras, e eu diria um bocadinho mais “familiar”. A Vogue é muito mais puxada, há muito a noção de que tens um horário, mas no fim podes não te conseguir ir embora porque as coisas têm de ficar feitas. A qualidade e o nível de exigência também têm de ser mais puxados, e portanto espera-se mais de ti e não podes ter tantas falhas. Mas não acho que seja como as redações dos jornais diários, não é alucinante a esse nível. Discute-se muito as coisas, e às vezes vamos almoçar e continuamos a trabalhar apenas por falarmos nos temas daquele dia, mas isso também acontece nos jornais diários. A redação da Vogue é “no meio” de outros grandes diários da Cofina, por isso consigo perceber que o ritmo é ligeiramente mais calminho que nos diários. Até porque estamos a produzir um número mensal, por isso há sempre diferenças no ritmo da produção, principalmente na primeira semana a seguir à reunião de edição, aquela em que só estamos a arrancar o mês. No final do mês, no fecho da revista, aí trabalhas até às horas que forem precisas!
Quando entraste para a LuxWOMAN, como é que era o teu dia básico?
Quando chegava via os emails, tinha de fazer uma triagem porque recebemos muita coisa, e falava com a Cátia para ver o que poderia ou não servir, e organizava as coisas do departamento de moda e o de beleza, quer dos press-releases quer de todas as coisas que recebemos. Normalmente recebemos press-kits, produtos para experimentarmos, e tem de estar tudo mesmo muito organizado, porque quando a quantidade de material recebido é muito grande, a organização é muito importante. E através das coisas que eu via que recebíamos percebia o que estava a acontecer nessa altura. Por exemplo: se estávamos a receber muitos batons vermelhos, eu perguntava-me “será que é uma tendência?”, “o batom vermelho voltou?”, ou recebíamos muitos champôs para cabelos brancos e pensava “será que as marcas estão a apostar numa classe mais idosa?”. Quando temos aquela capacidade mais analítica de não apenas receber os produtos mas também perceber as tendências e os caminhos que estão por trás, e podemos escrever sobre isso, perceber como tornar aquele assunto interessante para os leitores.
E chegaste a desenvolver algum desses artigos, ou tinhas de os passar a outros colegas da revista?
Não, desenvolvia-os eu. Produzia os conteúdos para o site, até porque a Cátia precisava de uma mãozinha, e depois de facto fazia alguns conteúdos para a revista impressa. Coisas muito pequeninas, claro, porque ainda estou muito no início, não tinha aquele know-how de Jornalismo, que eu tive de aprender porque quis mostrar à revista que conseguia fazê-lo. Valeu muito a pena pela experiência de levar um artigo do princípio ao fim, de passar pelas fases de revisão, de projeção, de publicação e feedback, contactar as pessoas ligadas às fotografias, etc.
Qual foi a experiência mais interessante por que passaste, até agora, na LuxWOMAN?
Algo que adorei muito não foi uma única tarefa, mas sim a forma como a equipa da revista trabalha. Por ser uma equipa mais pequena, faz um trabalho muito próximo e muito unido. É algo que também temos muito na ESCS, o espírito de equipa, de trabalharmos todos para o mesmo fim. Nesse aspeto, é uma aprendizagem que trago de lá, a de promover este tipo de espírito, porque há empresas que perdem muito por não se preocuparem com como é que os funcionários ou os colaboradores, dentro de uma determinada equipa, se dão uns com os outros. Mas, num caso mais particular, destacaria as produções de moda!
Ficaste com vontade de fazer algo na revista que, por falta de tempo ou de oportunidade, não conseguiste fazer?
Gostava de ter escrito artigos mais longos. Mas, claro, temos de ser realistas: já foi muito bom eu ter conseguido chegar ao formato impresso, não ter ficado só pelo online! Mas gostava de ter feito uma coisa maior, com mais liberdade de tempo e mais “carta aberta”, sem limite de caracteres. Mas acho que isso é o que qualquer jornalista quer, ter essa liberdade do género “pronto, tens 20 páginas, agora escreve o que te apetecer!”. Isso não acontece em praticamente lado nenhum, muito menos nos jornais diários e semanários, porque tens sempre o tempo contado, os caracteres contados, os temas têm de bater certo com aquilo que está a acontecer à nossa volta, não podemos fugir do mundo!
Disseste há pouco tempo, no teu Facebook, que a Cofina era o segundo campus da ESCS. Em que sentido é que fizeste esta comparação?
No sentido em que a Cofina está cheia de alunos da ESCS! Isso é um bom sinal, é sinal de que a ESCS está a conseguir colocar lá os alunos, não só de Jornalismo, mas também de outras áreas, e é bom porque é uma empresa grande, que produz em muitas áreas. Também é um bom sinal que os nossos alunos estejam a procurar espaços como a Cofina e tenham interesse neste tipo de comunicação. Por aquilo que vejo, e por alguns amigos com que me tenho cruzado até agora, estamos contentes com a Cofina enquanto empresa.
Uma vez dentro da Cofina, há facilidade em passar de uma publicação para outra?
Não tenho bem a certeza de que isto seja sempre assim, mas tenho a sensação de que entrar para a Cofina não é como entrar para uma empresa qualquer em que “não importa o posto em que estás”. Acho que se quiseres passar de um número mensal para um semanário ou um diário, ou daí para a televisão, terás de fazer como se estivesses fora da Cofina: o desafio é pensares que não é pelo facto de já estares lá dentro que tens todas as vantagens para chegares exatamente onde queres. E depois, de certa maneira, eu penso que deve ficar “cada macaco no seu galho”. Eu, por exemplo, não me via a fazer um diário, e, se calhar, as pessoas do diário nunca na vida pensariam em fazer a Vogue.
Como é que encaras o facto de muitas pessoas julgarem que as revistas femininas não são realmente jornalismo, uma vez que não tratam de temas “sérios”?
A importância destas revistas é que elas comunicam uma vertente da cultura que é pouco explorada e não é tomada como uma forma de cultura a sério no mundo inteiro. Há pessoas que simplesmente olham para a moda como uma coisa muito fútil, que é só para pessoas ricas ou que, para as outras, não importa aquilo que vestem ou a maquilhagem que usam. Mas não é por acaso que as pessoas estão a falar do último desfile da Gucci! Não é só porque há umas pessoas com dinheiro que decidem fazer esse tipo de coisas, é porque é o resultado da cultura que envolve os criadores e que eles transportam para as suas criações que depois vão influenciar o mundo em geral e a moda em particular. E as revistas femininas, especialmente aquelas que apostam mais na moda, contam as histórias que são importantes do ponto de vista artístico da moda, e é algo a que as pessoas no geral dão pouco valor, mas não é fútil falar de moda como não é fútil falar de música ou de cinema!
As áreas da moda e da beleza são as que mais te interessam, mas se tivesses de escolher outras em que trabalhar, quais seriam?
Acho que, uma vez que a função das revistas femininas é comunicar cultura, gostaria de poder explicar às pessoas o que é que está por trás de um certo filme, ou porque é que é bom ler um certo livro, porque é que é bom ir a uma ópera ou ao teatro. Gostava, no fundo, de poder fazer uma ponte entre a cultura geral e a moda. O cinema baseia-se na moda e na música e vice-versa. Talvez as pessoas tenham começado a perceber isto com a morte do David Bowie, porque perceberam que o destaque foi dado não apenas à sua música mas também à sua personalidade enquanto homem da cultura. Foi um excelente músico, mas foi mais que isso, foi uma influência para o mundo durante todos os anos em que viveu e recriou-se sempre. Até a Lady Gaga é importante para a moda, porque criou a discussão sobre a forma como se vestia, e nos leva a pensar “porque é que não escrevemos e não analisamos a forma como os músicos se apresentam?”. E se as pessoas não tiverem a capacidade analítica para perceberem essa ponte entre os vários aspetos da cultura, as revistas femininas dão-na!
AUTORIA
Jéssica Rocha nasceu a 27 de Março de 1995, em Lisboa. Fazendo jus às características do seu signo, Carneiro, é de uma teimosia extrema, muito competitiva, criativa e com vontade de melhorar e fazer sempre mais e melhor. Durante a infância quis ser médica, veterinária, professora, bailarina e até bombeira, até chegar ao 9º ano e perceber que era pelas Línguas que o seu futuro passaria. Concluiu o 12º ano na Escola Secundária de Gago Coutinho, em Alverca. Está actualmente no curso de Jornalismo na ESCS e divide o seu tempo entre as aulas, os vários núcleos da faculdade, os amigos, a família e a sua maior paixão - escrever as suas histórias.