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Meet Vincent van Gogh: uma visita interativa imperdível pela vida do artista

A “Exposição Meet Vincent van Gogh” chegou a Lisboa em fevereiro de 2020. Apesar de, infelizmente, o seu início ter coincidido com o alastrar da pandemia, a organização fez os possíveis para contornar as adversidades. Para além de alargar a sua duração – que passou a ser até 3 de janeiro de 2021 –, oficializou o uso obrigatório de máscara e disponibilizou gel desinfetante por toda a exposição.

Fotografia de Diogo Fidalgo

Localizada no Terreiro das Missas, junto ao rio e à saída da estação de comboios de Belém, é uma experiência a não perder. Os meses frios que se avizinham são ainda mais convidativos a esta visita que constitui uma espécie de tenda enorme e espaçosa. Preservar a distância de segurança não é, de todo, problema, graças aos corredores largos e compridos.

Todo o percurso é-nos narrado através do áudio-guia, fornecido à entrada, incluído no valor do bilhete. Em vez de sermos acompanhados por um funcionário, passeamos de forma mais autónoma, com uns auscultadores. Estes são desinfetados após cada utilização, no final do percurso, à nossa frente. Quem preferir pode ainda levar os seus próprios auscultadores/fones, desde que tenham cabo jack 3,5m. O áudio está disponível em duas versões (infantil, dos 8 aos 12 anos, e adulta, a partir dos 13) e em oito idiomas: português, inglês, espanhol, francês, alemão, italiano, mandarim e coreano. Não precisamos de mexer em nada para que o áudio avance, pois está sincronizado com os locais da exposição em que nos encontramos. É uma alternativa inteligente que garante mais independência ao visitante e, em tempos de COVID-19, evita mais um contacto desnecessário.

Fotografia de Diogo Fidalgo

Além disso, o áudio-guia não se limita a debitar factos. Através de uma abordagem deveras mais interessante e apelativa, existe uma simulação, como se se tratasse do pintor e dos seus entes queridos. As vozes são bem escolhidas e conseguem captar a nossa atenção muito melhor, sem descurar da vertente informativa. O guião baseia-se nas cartas pessoais que Vincent van Gogh trocou durante a sua vida, agora pertencentes ao “Van Gogh Museum”, em Amesterdão. Sentimo-nos, efetivamente, como espectadores da sua vida: umas vezes enquanto amigos, outras enquanto fãs e outras até como intervenientes.  

A exposição está organizada de forma cronológica, de acordo com a vida do pintor. Foi dividida em seis momentos, sendo eles:

  • 1853-1879: Infância e Juventude
  • 1880-1885: Emerge o Artista
  • 1886-1887: Emerge o Artista
  • 1888: No Sul
  • 1889-1890: Doença e Criatividade
  • 1891-Hoje: Sucesso

Assim, o percurso tem início nos primeiros anos da vida do pintor que evidenciam uma nostalgia dos tempos da infância. Estes foram passados nos Países Baixos, de onde era natural. Uma das salas mais cuidadas é a que representa a primeira fase da sua vida. Repleta de pormenores deliciosos, está disposta como se de um café se tratasse e cumpre o objetivo de simular essa atmosfera, quer pelo barulho de fundo e pela luminosidade, como também pelos adereços.

Fotografia de Diogo Fidalgo

“No Sul” somos atingidos por uma imensidão de tons amarelos, verdes e azuis – tanto nas obras (neste caso, reproduções 3D das mesmas), como no cenário. Dos famosos Girassóis, que marcam uma presença assídua ao longo de toda a mostra, ao Monte de Feno em Arles – agora em Belém, o mais difícil é saber para onde dirigir a nossa atenção. Queremos, simultaneamente, observar as obras, conhecer a sua história através do áudio-guia e tirar fotografias para mais tarde recordar – tudo isto enquanto permanecemos boquiabertos com a minuciosidade caraterística deste evento.

Fotografia de Diogo Fidalgo

Como se não bastasse podermos ver os clássicos de van Gogh, ainda temos a oportunidade de testemunhar recriações em tamanho real, como é o caso d’O Quarto em Arles. Em “Meet Vincent van Gogh”, entramos nos famosos aposentos do artista, pacatos e diminutos. Enquanto observamos alguns dos seus objetos pessoais, imaginamos a solidão que sentiria. Esta fica também evidente através de jogos com sombras, presentes em toda a exposição.

Fotografia de Diogo Fidalgo

No entanto, o verdadeiro nó na garganta instala-se quando se inicia o seu período enfermo. Logo ao início, as imagens do hospital psiquiátrico onde esteve internado fazem pesar o ar. Este período coincide com o surto psicótico em que cortou a sua orelha esquerda. A lâmina, as vozes, o sangue, a faixa. O desespero, a confusão, o delírio, o caos. É aqui que as naturezas ficam distorcidas e carregadas e assim continuam até à secção que revela os seus últimos dias – que terminam com a tentativa de suicídio, com um tiro no peito. Morre dois dias mais tarde. Contudo, a visita não termina na lápide de Vincent. Depois destes momentos sombrios e carregados, somos alertados acerca da publicação das suas cartas e da abertura, em 1973, do “Van Gogh Museum”.

Fotografia de Diogo Fidalgo

No fim da visita, vislumbramos uma homenagem magnífica que finda qualquer tristeza. Na última sala, foram compiladas dezenas e dezenas de obras inspiradas em Van Gogh. Parte do seu legado eternizado por quem o admira. Apaixonados pelo artista, somos encaminhados para uma loja em que podemos comprar inúmeras lembranças a ele ligadas – tudo inspirado nas suas obras. O pior é ter de escolher o que levar para casa e o que deixar lá. 

Fotografia de Diogo Fidalgo

Se as obras do pintor já eram suficientes para a visita valer a pena, torna-se imperativo conhecer a exposição pela forma como tudo está disposto, pela atenção ao detalhe, pelas diferentes experiências sensoriais, pela adaptação a todas as idades, pela união entre a vertente do lazer e da aprendizagem. São vários os ecrãs interativos, os cenários enormes, os adereços caprichados. Podemos conhecer a história por detrás dos quadros através de uma lente, os materiais e técnicas que o pintor utilizava ou saber mais acerca da teoria das cores enquanto nós próprios desenhamos.

Fotografia de Diogo Fidalgo

Não somos meros passageiros, mas partes intervenientes da exposição. Somos convidados a utilizar o tato ao longo da mesma, sendo que o staff se esforça por desinfetar tudo com regularidade. Podemos visitá-la sem pressas – sendo que uma hora chega para a ver na totalidade – e, se quisermos fazer uma pausa, podemos sentar-nos nos muitos lugares disponíveis. Há atividades para todas as faixas etárias e é acessível a pessoas em cadeiras de rodas.

Fotografia de Diogo Fidalgo

Por já ter tido a oportunidade de visitar o “Van Gogh Museum”, em Amesterdão, temi que esta exposição me soubesse a pouco. Ainda assim, as minhas expectativas eram altas e foram superadas. Vale a pena visitar ambas e, para quem não tiver oportunidade de viajar até à Holanda, é uma ótima solução de compromisso. Não desilude em nenhum aspeto, nem deixa a desejar. Inclusivamente, na altura em que conheci o museu de Amesterdão, o famoso quadro ‘Noite Estrelada’ não estava em exposição. O desgosto foi curado pela exposição “Meet Vincent van Gogh”, que me permitiu ver várias réplicas do mesmo. Quem já é fã do artista experiencia o que seria conhecê-lo. Quem não o é passa, muito provavelmente, a ser. Fica a minha recomendação.

Fotografia de Diogo Fidalgo

Apesar de ter bilheteira no local, é-nos aconselhado a que compremos o bilhete antecipadamente para gerir melhor o fluxo de visitantes. Este pode ser adquirido no site ou nos locais habituais, como a Fnac e a Worten. Os preços variam consoante a faixa etária (9-15€) e a entrada é grátis para menores de 4 anos, se acompanhados por um adulto portador de bilhete. Pode visitar a exposição “Meet Vincent van Gogh” de quarta-feira a domingo, entre as 10 e as 19 horas (sendo que a última entrada é feita uma hora antes do encerramento).

Fotografia cedida pelo Departamento de Comunicação da UAU

A 8 de setembro, celebraram o marco dos 50.000 visitantes, tendo contado, entre outros, com a visita da ministra da Cultura, Graça Fonseca. A ministra apela a que os portugueses “voltem aos museus, voltem aos teatros, voltem aos cinemas. Venham ver esta exposição”, para que exista um “retomar da participação cultural”. Incentiva ainda a visita à experiência “Meet Vincent van Gogh”, que carateriza como “extraordinária” e sublinha a adaptação do espaço para que “cada um de nós que passa por esta experiência sinta que está seguro”.

Esta produção UAU – uma das mais importantes promotoras de espetáculos em Portugal – em parceria com o “Van Gogh Museum” está disponível até dia 3 de janeiro de 2021.

Artigo corrigido por Mariana Plácido

AUTORIA

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Depois de integrar a maioria das secções da revista, a Mariana ficou encarregue de incumbir esta paixão aos restantes membros. O gosto pela escrita esteve desde sempre presente no seu percurso e a licenciatura em Jornalismo veio exacerbar isso mesmo. Enquanto descobre aquilo que quer para o futuro, vai experimentando de tudo um pouco.