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Mudanças no exemplar ensino finlandês são o contrário das mudanças na Educação em Portugal

A Finlândia, país que é habitualmente considerado um exemplo no campo da educação, prepara-se para alterar, a partir de 2016, o seu sistema de ensino para adaptar a escola a um “mundo que está a mudar a grande velocidade”, revelou ao jornal Público a diretora do Conselho Nacional de Educação finlandês.

O novo currículo nacional “clarifica os objetivos de todas as disciplinas escolares, dá ênfase a práticas de cooperação em sala de aula e implementa conhecimentos e competências multidisciplinares, através do estudo de tópicos que será feito com a colaboração entre vários professores em sala de aula”.

Assim, este novo método de aprendizagem vai permitir, por exemplo, que a propósito do estudo da União Europeia sejam dados vários tipos de conhecimentos, simultaneamente, como a estrutura de funcionamento, a história, a economia, em vez de se cingir a União Europeia, neste exemplo, a uma disciplina só, com as suas respetivas limitações. Este método terá aplicações práticas e a diretora do Conselho Nacional de Educação finlandês refere que “todas as escolas terão de criar um módulo por ano letivo, com a duração de uma a quatro semanas, centrado no estudo de tópicos que sejam de especial interesse para os estudantes”.

Cada escola terá autonomia para “definir quais os assuntos a abordar nestes módulos”, bem como o seu funcionamento, mas com uma condição bem assente: “Os estudantes devem participar no planeamento destes módulos. Antes do início das aulas, em conjunto com os professores, estudarão quais as melhores as formas de atingir as metas estabelecidas no currículo, quais os objetivos e tópicos dos módulos”.

Em comparação com Portugal, o que o país escandinavo exemplo da educação se propõe a fazer é radicalmente diferente, aponta José Morgado, professor do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA).

Na Finlândia, aponta-se para “uma modernização do pensamento educativo” que, destaca o professor, se traduz na intenção de pôr em prática “formas de trabalho em sala de aula que transcendam a lógica do trabalho interior a cada disciplina, definindo um conjunto de tópicos que exigem saberes oriundos de diferentes disciplinas e que será trabalhados de forma transversal”.

Portugal, pelo contrário, apostou numa maior separação e compartimentação, com uma nova estrutura curricular com “programas demasiado extensos e excessivamente prescritivos e na definição de metas curriculares, que fazem correr o sério risco de que o ensino se transforme na gestão de uma espécie checklist”, refere o docente do ISPA.

Também a presidente da Associação Internacional de Estudo dos Professores e do Ensino, Assunção Flores, refere a existência de dois modelos distintos. A visão “mais integrada e flexível de currículo” assumida pela Finlândia contrasta com “uma perspetiva mais redutora que se centra nos conteúdos a aprender e nos objetivos a atingir no âmbito das disciplinas, prevalecendo, muitas vezes, uma lógica caracterizada pela rigidez e obesidade curriculares, associadas, entre outros aspetos, à extensão e cumprimento escrupuloso dos programas”.

 

AUTORIA

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Ricardo Farinha frequenta o curso de Jornalismo na Escola Superior de Comunicação Social. Há já alguns anos que se deixou encantar pela Informação e Comunicação. Além de estar noutros núcleos escsianos, está envolvido em vários projetos jornalísticos, sobretudo na área da música.