Networking Universitário: amizade ou estratégia?
Abordar o conceito de networking em contexto universitário pode parecer, à primeira vista, um exercício fútil. Para muitos estudantes, esta palavra é sinónimo de eventos formais, cartões de visita distribuídos sem uma diretriz funcional e contactos acumulados em redes sociais profissionais. Contudo, reduzir o networking a uma lista de nomes é negligenciar a complexidade de um processo, que tanto pode ser construído a partir da amizade como da estratégia. O ambiente académico, sobretudo no ensino superior, assume um carácter laboratorial em que essas duas dimensões se cruzam e no qual se desenha, silenciosamente, o início de uma parte significativa das nossas trajetórias profissionais.

A sociologia das redes sociais trouxe contributos decisivos para a compreensão desta realidade. Mark Granovetter, através da teoria dos “laços fracos”, demonstrou que os contactos ocasionais, apesar de aparentemente superficiais, revelam-se frequentemente os mais determinantes na criação de oportunidades profissionais. Tal deve-se ao facto de proporcionarem acesso a informação nova, habitualmente indisponível no círculo restrito de amigos próximos, cuja rede tende a reproduzir a nossa própria. Essa constatação revela o potencial estratégico do networking: não se trata apenas de cultivar relações de proximidade, mas também de criar pontes com realidades distintas. Ronald Burt reforçou esta ideia ao explicar que aqueles que ocupam posições de intermediação –os chamados brokers– obtêm vantagens competitivas, justamente por unirem grupos desconectados e permitirem a circulação de recursos e conhecimento.
Por outro lado, reduzir o networking a uma dimensão puramente estratégica seria um erro. As amizades estabelecidas no espaço académico constituem um capital emocional indispensável. Estudos recentes mostram que vínculos fortes fortalecem a persistência dos estudantes, aumentando a resiliência face a dificuldades inerentes à vida académica e reduzindo a probabilidade de abandono escolar. Para além disso, a confiança construída em ambientes de amizade gera recomendações mais credíveis e de maior valor para o futuro profissional. Nos setores onde a reputação é determinante, como a Comunicação e as Relações Públicas, por exemplo, a autenticidade e o compromisso pessoal não são acessórios, mas fatores centrais.
É igualmente necessário reconhecer os riscos de uma rede mal gerida. A homofilia, conceito trabalhado por McPherson, Smith-Lovin e Cook, descreve a tendência de nos ligarmos a pessoas semelhantes a nós. Quando aplicada ao contexto universitário, essa tendência pode limitar a diversidade de perspetivas e reduzir, entre tantos outros parâmetros, a inovação. Em paralelo, o que Casciaro, Gino e Kouchaki chamaram de “dirty networking” revela o lado ético problemático de relações puramente instrumentais: quando a intencionalidade é percebida como manipulação, a reputação sofre danos difíceis de reparar. O networking puramente estratégico, per se, sem autenticidade, converte-se rapidamente em ruído social.

Deste modo, a questão não deve ser formulada em termos de uma exclusão entre amizade ou estratégia. A experiência universitária demonstra que a eficácia surge precisamente da combinação entre ambas. As amizades criam um espaço seguro de experimentação e aprendizagem colaborativa; a estratégia assegura a diversidade, a expansão e a projeção profissional. Quando gerido de forma ética e consciente, o networking torna-se um recurso híbrido, no qual a confiança e a intencionalidade coexistem. Para estudantes de Relações Públicas e de outras disciplinas, isso significa usar ferramentas analíticas, como o mapeamento de stakeholders, sem perder de vista a dimensão humana que sustenta qualquer relação duradoura.
A universidade é, assim, mais do que um lugar de aulas e avaliações: é um terreno fértil para semear redes que podem florescer como amizade, estratégia ou, idealmente, ambas. O desafio está em não aceitar a caricatura do networking como uma mera troca de interesses, nem cair na ingenuidade de acreditar que a amizade, por si só, garante oportunidades profissionais. Entre a autenticidade da relação e a intencionalidade da ação reside a possibilidade de um futuro mais justo, inovador e inclusivo. Cabe-nos a nós, enquanto estudantes, escolher construir redes que não sejam apenas úteis, mas também verdadeiras.
Fonte de Capa: Freepik
Artigo revisto por Inês Félix
AUTORIA
Atualmente, colaborador da agência de comunicação e publicidade “VML”, na account da Microsoft, e responsável pelas pastas de «Apoios e Parcerias» e «Voluntariado» de uma entidade do terceiro setor - LABIT&E -, o Tiago frequenta o primeiro ano da licenciatura de Relações Públicas e Comunicação Empresarial. Formado em Artes do Espetáculo - Interpretação, pela Escola Profissional de Teatro de Cascais, iniciou a sua atividade profissional, fundando e presidindo uma associação sem fins lucrativos - Associação Sócio-Cultural e Artística Sem Tábuas -, uma entidade que utilizava a cultura e arte como ferramentas de desenvolvimento em contextos de bairros sociais, hospitais e escolas. Após 8 anos desta experiência, resolveu integrar uma empresa de Recursos Humanos e, desta, voou para a Lisbon Cruise Port, a entidade que gere os terminais de cruzeiros de passageiros de Lisboa, onde coordenou a sua Comunicação.
Resolveu, depois de alguns anos no mercado laboral, ingressar na universidade para poder consolidar aprendizagens e experimentar: formas de fazer e aprender.

