O custo de ser estudante: entre propinas, rendas e sobrevivência.
Propinas: o primeiro peso na carteira
Apesar das promessas de democratização do acesso ao ensino, em Portugal a universidade continua a ser cara. A propina média ronda os 697€ anuais nas instituições públicas, preço este que está sujeito a um aumento em 2026. Para muitos, é um valor que, quando somado ao resto das despesas, se transforma num fardo. Bolsas existem, mas são insuficientes e muitas vezes chegam tarde ou os alunos não chegam a obter respostas.
O aumento das propinas e a ameaça de aumentos futuros gera ansiedade entre os estudantes. Muitos jovens veem-se obrigados a planear a vida com muitos meses de antecedência, a trabalhar mais horas e a sacrificar experiências académicas ou de lazer. Estudar, que devia ser um investimento em conhecimento e futuro, transforma-se numa gestão constante de orçamento e sobrevivência.
Rendas: o verdadeiro monstro
Lisboa e Porto são os exemplos mais gritantes, porque encontrar um quarto por menos de 400€ ou 500€, hoje em dia, já é quase uma miragem. Muitos estudantes acabam por viver longe da faculdade, o que os leva a gastar tempo e dinheiro em transportes, e outros têm de partilhar casa, sujeitando-se a senhorios abusivos
O mercado imobiliário transformou o direito à habitação num privilégio e os estudantes são as primeiras vítimas: quando ter um teto custa mais do que a própria educação, o sistema mostra claramente onde estão as falhas.

Fonte: Politécnico de Lisboa (IPL), “Alimentação estudantil”
Alimentação e sobrevivência
Com os preços dos bens essenciais a subir, a típica “dieta do estudante” – massas, arroz e enlatados – continua a ser a aposta mais acessível. As cantinas ajudam, mas muitas vezes a qualidade e variedade não acompanham as necessidades dos jovens. Resultado? Muitos estudantes acabam por abdicar de refeições equilibradas para conseguir pagar a renda.
Em tempos de inflação, até o “prato do dia” passou a ser um cálculo mental: quanto sobra para a renda no fim do mês?
Saúde mental: o preço invisível
O custo de vida não se mede só em euros. Mede-se no stress, nas insónias e na ansiedade de não saber se o dinheiro vai chegar até ao final do mês. Muitos estudantes trabalham em part-time para pagar as contas, mas acabam esgotados e sem energia para estudar. A promessa de “ser estudante é a melhor fase da vida” cai por terra quando a sobrevivência da juventude está a ser posta em causa.

Fonte: Bolsa de estudos| DGES
Educação não devia ser um luxo
Ser estudante em Portugal deixou de representar um investimento linear no conhecimento, porque se transformou, mais bem, numa gestão da crise. As bolsas DGES são um suporte indispensável e as recentes revisões do regulamento ajudam, mas não chegam. Enquanto as rendas continuarem a subir e os apoios sofrerem atrasos para muitas vezes nem sequer chegarem, muitos jovens vão ver o sonho académico como algo incompleto ou inatingível. Face a esta realidade, exigir políticas públicas que articulem habitação acessível, reforço de apoios sociais e medidas concretas contra a insegurança alimentar não é radical, é urgente!
O futuro pesa, sim: pesa no bolso, na cabeça e no coração. Mas enquanto houver quem continue a lutar pelo acesso à educação, por ter voz e por fazer parte de um país mais justo, há esperança. E é por isso que, mesmo cansados, continuamos a acreditar.
Imagem de destaque: KFF Health News
Artigo revisto por: Carlota Lourinho
AUTORIA
Joana, 18 anos, adora explorar o mundo à sua maneira. De espírito criativo e comunicativo, encontrou na escrita formas de unir as suas paixões: compreender, questionar e dar voz ao que a inspira. Fascinada por música e pelos anos 2000, curiosa por natureza e apaixonada pela escrita, procura constantemente novas formas de se comunicar com as pessoas.

