O poder dos artistas musicais na campanha política dos Estados Unidos da América
Às portas das eleições presidenciais dos Estados Unidos da América, com a corrida entre Donald Trump e Kamala Harris a intensificar-se, vemos cada vez mais celebridades a declarar publicamente o seu apoio aos candidatos.
Este fenómeno não é novo, ao longo da história política americana a lista de artistas que se envolvem ativamente em campanhas eleitorais é extensa e revela uma tendência em crescimento. No entanto, com a intensificação do uso das redes sociais, este fenómeno atingiu novos patamares, permitindo aos artistas (que agora têm acesso direto aos fãs) desempenhar um papel cada vez mais visível e influente na política. As celebridades, especialmente aquelas com grande exposição mediática, têm a capacidade de influenciar o comportamento dos eleitores e a sua intervenção em prol de um candidato pode ter um impacto direto nos resultados. Mas esta intervenção não se limita ao apoio público, estes artistas contribuem também para a angariação de fundos e organização de eventos de campanha (fundraisers), peças-chave nas campanhas eleitorais dos EUA.
Um exemplo recente deste poder de influência é o apoio declarado por Taylor Swift a Kamala Harris. Em apenas 24 horas após o comunicado na rede social Instagram, cerca de 406 mil pessoas visitaram o site oficial de registo de eleitores, vote.gov, que até agora tinha recebido, em média, 30 mil visitantes por dia. Mesmo antes de Swift anunciar publicamente o apoio à democrata, os seus fãs, organizados no movimento “Swifties for Kamala”, já tinham arrecadado mais de 140 mil dólares para a campanha política. Estes acontecimentos demonstram o alcance e poder que os artistas podem ter em mobilizar bases eleitorais
No entanto, este apoio é unipolar (nunca abrangendo ambos os candidatos) e pode ser até controverso. Após este anúncio por parte de Taylor Swift, uma pesquisa da NBC News indicou que a opinião dos republicanos sobre a artista tinha caído drasticamente, com quase 50% afirmando possuir uma visão negativa da mesma. Ainda assim, muitos dos seus fãs republicanos consideram que se pode admirar um artista sem partilhar as suas convicções políticas.
O caso de Swift revela, portanto, a complexidade e ambiguidade do efeito do apoio de músicos na política moderna. Por outro lado, há artistas que optam por não se posicionar publicamente sobre as suas escolhas políticas. Um exemplo disto é a estrela pop em ascensão, Chappell Roan, que foi alvo de críticas extensas após ser publicada uma entrevista ao The Guardian em que afirmou que “existem problemas em ambos os lados” do espectro político. A repercussão negativa foi tão grande que Roan sentiu-se obrigada a esclarecer a sua afirmação num vídeo do TikTok, onde clarificou que votaria na candidata democrata, mas destacou que “apoiar publicamente um candidato e votar nele são coisas completamente diferentes”.
Apesar do impacto mediático e financeiro nas campanhas eleitorais, muitos questionam até que ponto o endorsement de candidatos por parte de artistas é realmente eficaz ou desejável. Alguns críticos da Wharton School of Business sugerem que este fenómeno pode ser até contraproducente ao alienar eleitores que preferem fazer uma escolha mais racional e analítica.
Arimeta Diop, da Vanity Fair, argumenta que o problema na verdade não reside na expectativa de que artistas como Taylor Swift ou Chappell Roan determinem o resultado de uma eleição, mas sim o perigo dos eleitores transferirem para as celebridades a sua responsabilidade na decisão de voto, evitando o “trabalho árduo da política”. Estas críticas lançam duas questões importantes: Devemos basear as nossas decisões no apoio de artistas que não possuem formação ou experiência na esfera política? A popularidade de um artista pode dissimular certas questões, conduzindo os eleitores a uma decisão superficial, baseada mais na lealdade ao seu ídolo do que na compreensão da campanha política do candidato; Por outro lado, será justo pedir a estes mesmos artistas que tomem uma posição pública política que de outra forma não teriam de tomar, pronunciando-se sobre temas sobre os quais, em última análise, podem não ter conhecimento suficiente? A pressão para discutir questões do cerne político, apesar de estas serem sigilosas e unipessoais, tal como o voto, pode fazer até mesmo com que certos artistas percam fãs e oportunidades profissionais. Assim, é fundamental refletir sobre o equilíbrio entre liberdade de expressão, a que todos temos direito, e a esfera de responsabilidade que vem com a influência que os artistas exercem.
Apesar de tudo isto, é inegável que o envolvimento de artistas tem um impacto real, sobretudo na mobilização de uma demografia crucial e decisiva: os jovens eleitores. Independentemente da eficácia, justiça, ou moralidade destes apoios políticos, estes continuam, e cada vez mais continuarão, a ser uma força poderosa na política moderna.
Fonte da Capa: Deadline
Artigo revisto por: Inga Carvalho
AUTORIA
Embora esteja (ligeiramente) mais perto dos 30 do que dos 3, a Beatriz nunca passou da idade dos porquês. A sua curiosidade inata é o que a faz interessar-se por mil e um temas, podendo ficar horas a falar sobre qualquer assunto (se não a mandarem calar). Não troca nada deste mundo por um bom café acompanhado de uma conversa que a faça pensar. Entrou para a ESCS Magazine com o desejo de reavivar a paixão pela escrita, algo que cultiva desde a infância, e para continuar a satisfazer o seu amor por conversas intermináveis, agora traduzidas em texto.