Paulo Bernardo: promessa ou certeza?
Os anos passam e a fábrica do Seixal continua a produzir muitos e bons jogadores. Paulo Bernardo é o nome do momento e o mais recente diamante por lapidar na equipa encarnada, que, agora liderada por Nelson Veríssimo, parece ser mais forte quando o jovem está em campo.
Paulo Guilherme Gonçalves Bernardo nasceu a 24 de janeiro de 2002 e só sabe o que é vestir a camisola do Benfica. Cumpriu o sonho de criança de jogar pelas águias, no mítico Allianz Arena, quando aos 78 minutos do Bayern-Benfica, altura em que o marcador estava 5-2 para o Bayern, entrou para substituir João Mário, ainda com Jorge Jesus como treinador. A estreia a titular ocorreu este ano, no Estádio da Luz, no empate a uma bola com o Moreirense. Nesta temporada o jovem médio soma 21 jogos, dois golos e duas assistências entre equipa B e equipa principal.
Ainda com 18 anos, estreou-se no Benfica B na época 2019/2020. Na temporada seguinte, tornou-se mesmo uma das figuras da equipa, primeiro com Renato Paiva no comando técnico e, mais tarde, com Nelson Veríssimo. A maturidade que revela no seu jogo, quer com bola quer sem ela, possibilitou uma rápida afirmação no, sempre difícil, contexto da Segunda Liga. Já nesta época, apesar de ter realizado a preparação com a equipa principal, o jovem voltou a começar a temporada na equipa B, no entanto, a qualidade evidenciada nos primeiros jogos do campeonato e a escassez de médios no plantel principal rapidamente levaram Paulo Bernardo a ser aposta de Jorge Jesus.
Falar de Paulo Bernardo é falar de um médio criativo com características ofensivas que atua preferencialmente na posição “8”. É, aliás, no momento ofensivo que mais se destaca e para o qual tem mais condições de contribuir positivamente. As suas exibições não têm sido vistosas, mas à medida que vai ganhando confiança o rendimento da equipa vai também crescendo, como no recente Tondela – Benfica, que contou não só com a melhor exibição de Paulo Bernardo desde que foi lançado na equipa principal, mas também com a melhor réplica das águias sob o comando de Nelson Veríssimo. Dotado de uma invejável qualidade técnica, o jovem permite à equipa uma grande variabilidade de jogo. Fruto de ter sido por diversas vezes, na formação encarnada, utilizado como uma espécie de número “10”, garante à equipa qualidade entrelinhas e capacidade para resolver situações em espaços curtos. A isso o jogador acrescenta vários movimentos de rutura nas costas da defesa, permitindo-lhe, por vezes, trocar de posição com um dos avançados, baralhando as marcações adversárias e aproximando-o das zonas de decisão no último terço adversário. Já no momento defensivo, revela ainda algumas dificuldades nos timings de corte/interseção, mas a sua agressividade e capacidade física permitem à equipa pressionar constantemente em zonas altas.
Paulo Bernardo vs. João Mário ou Paulo Bernardo & João Mário?
Com a chegada de Nelson Veríssimo ao comando técnico da equipa principal, Paulo Bernardo parece ter mesmo ultrapassado Taarabt na hierarquia dos números “8” do Benfica. No habitual 4-4-2, a tendência será para a titularidade de apenas um, mas o 4-3-3 com os dois em campo não é uma opção descartável, talvez pelo contrário. Paulo Bernardo e João Mário garantem qualidade, mas são dois jogadores diferentes.
No ataque:
São ambos criteriosos no momento do passe, mas até nesse capítulo as coisas diferem um pouco. João Mário arrisca menos e talvez por isso erre menos, permitindo à equipa atacar de forma mais equilibrada e pausada. Por outro lado, P. Bernardo assume mais o risco, não só no passe, mas também na condução, queimando metros com mais facilidade e aproximando a equipa da área adversária constantemente. Outra diferença prende-se com a variabilidade de movimentos. Ambos têm capacidade para recuar e ligar o jogo a partir de atrás, bem como para se aproximarem dos avançados para combinações curtas, mas é sobretudo o mais jovem que permite também a exploração da profundidade adversária através dos seus movimentos de rutura, algo que João Mário não tem oferecido à equipa.
Na defesa:
É este o momento do jogo em que os dois sentem mais dificuldades. João Mário é mais inteligente na ocupação dos espaços e na gestão dos timings. Já Paulo Bernardo demonstra ser mais agressivo, sendo, portanto, normal que ganhe mais duelos individuais, fruto também de uma dimensão física superior. Além disso, como foi referido acima, a presença do jovem em campo permite ao Benfica uma maior capacidade para pressionar em zonas altas.
No entanto, é com os dois jogadores em campo que, a meu ver, o Benfica poderá ter mais a ganhar. O critério de ambos, juntamente com a temporização de João Mário e a criatividade de Paulo Bernardo, poderá ser parte da solução para os problemas do futebol encarnado, que se tem revelado extremamente pobre em ideias.
Uma coisa é certa: Paulo Bernardo conquistou mesmo um espaço de relevo no plantel encarnado, prometendo cada vez mais eficácia com o passar do tempo.
Foto de capa: FCBN
Revisto por Catarina Peixe