Ser feliz é ser eterno!
Lembro-me de um dia ter ouvido a minha mãe proferir que Deus a livrasse de alcançar os cem anos de idade. A ideia de envelhecer, permanecer confinada em casa, sem atividade e provavelmente doente, era aterradora. Essa frase, apesar do meu habitual esquecimento, ficou gravada na minha memória — talvez porque, como todos, tenha o desejo irrealizável de que ela viva eternamente, ou talvez porque também tenha cultivado o medo de envelhecer e me tornar impotente. Mas a minha perceção mudou quando descobri o documentário recente da Netflix, Viver até aos 100 do Dan Buettner.
Buettner é um investigador e autor que ficou conhecido pelo seu trabalho sobre as “Zonas Azuis“, regiões do mundo onde as pessoas vivem de forma particularmente longa e saudável. Hoje, são cinco no mundo: Okinawa, no Japão, Sardenha, na Itália, Nicoya, na Costa Rica, Ikaria, na Grécia, e Loma Linda, na Califórnia.
A minissérie desfez muitos equívocos sobre o que significa viver até aos cem anos e inspirou-me a definir um novo objetivo de vida: reformar-me em Okinawa e atingir o centenário. Se, aos cem anos, eu tiver a mesma energia e alegria que os habitantes dessas áreas exibem, então eu, definitivamente, também quero lá chegar. Assim, a questão que inevitavelmente se levanta é:
Quais são os segredos para uma vida longa e saudável?
Entre os Power 9, os nove hábitos que contribuem para a longevidade nas “Zonas Azuis”, o primeiro destaca a importância do exercício, expresso na ideia de “Movimento Natural”. Estas pessoas mantêm-se ativas sem nunca terem pisado o chão de um ginásio. Atividades simples como caminhar, subir escadas, dançar e, até, cuidar do jardim oferecem-lhes força e vitalidade. Particularmente, caminhar é uma das formas mais fáceis e eficazes de melhorar a saúde. Contudo, felizmente para o nosso conforto e conveniência, e infelizmente para a nossa saúde, os tempos modernos incentivam a um estilo de vida sedentário.
Os mesmos ideais guiam também os hábitos alimentares. Embora o site oficial das “Zonas Azuis” ofereça diretrizes sobre as suas dietas, o que distingue verdadeiramente a “dieta” destes habitantes é a não restrição calórica e a não obsessão por tomar vitaminas, pesar proteínas ou decifrar rótulos. Estas comunidades não limitam a sua alimentação; pelo contrário, a comida é motivo de celebração. A restrição muitas vezes leva à perda da força de vontade. Uma alimentação saudável deve ser tão natural e prazerosa que se torna um hábito inconsciente. A verdadeira sabedoria reside na preferência por alimentos frescos em detrimento dos processados e na atenção para a origem do que se consome.
Dispenso a insistência na importância do sono, que já todos conhecemos, mas a filosofia das “Zonas Azuis” enfatiza outro tipo de repouso: o lazer, um aspeto muitas vezes negligenciado na nossa sociedade obcecada pela produtividade.
“A busca pela produtividade é como beber água do mar”, diz Buettner. “Quanto mais se bebe, mais sede se tem. Vivemos num ambiente em que temos de ganhar mais dinheiro para comprar o nosso seguro, pagar o aluguer da casa e vestir os estilos que nos mantêm socialmente aceites, e isso é uma pena. É um desperdício de uma boa vida.”
Por isso, o terceiro dos Power 9 é “Desacelerar”. Existem muitas maneiras de o fazer e dar scroll nas redes sociais, certamente, não é uma delas. Ainda ontem, deitei-me na relva do Jardim Calouste Gulbenkian para desfrutar da tarde de primavera. Ao meu lado, um grupo de dez pessoas partilhava uma caixa de uvas numa toalha de piquenique, jogava cartas, cantava e ria. Vi também duas mulheres que conversavam e bebiam vinho, um jovem que desenhava o jardim no caderno, um avô que brincava com o neto e uma mulher adormecida (e queimada) ao sol. Isso, sim, é “desacelerar”.
Em Okinawa, as pessoas dedicam-se à jardinagem ou às orações aos antepassados. Em Ikaria, fazem sestas ou reúnem-se com os amigos. Na Sardenha, bebem um copo de vinho durante a Happy Hour ou conversam com os avós. Em Loma Linda, dedicam tempo à oração, meditação e reflexão. Estas atividades não nos oferecem uma sensação passageira de bem-estar: elas proporcionam uma verdadeira paz interior e ajudam-nos a conectar com quem amamos, inclusive connosco.
A melhor parte desta abordagem à saúde é a sua natureza não intencional – trata-se de um estilo de vida livre de restrições, punições e atividades forçadas. É uma maneira de viver que incentiva decisões que equilibram o bem-estar do corpo e da alma.
“As pessoas nas zonas azuis não estão a pensar na sua saúde, numa dieta ou num programa de exercícios. Elas simplesmente estão a viver as suas vidas”, afirma Dan Buettner.
A quem me perguntar, recomendo o documentário Viver até aos 100 por estar cheio de ensinamentos valiosos. Pessoalmente, a maior lição que absorvi é a de encontrar alegria e satisfação nas coisas consideradas simples – isso implica cultivar gratidão pelo que temos, viver o momento presente, estabelecer conexões significativas com os outros e concentrarmo-nos no que realmente importa na vida. Acima de viver uma vida longa, importa viver uma vida feliz.
Fonte da capa: IOL
Artigo corrigido por: Beatriz Mendonça
AUTORIA
Daniela nasceu nos Estados Unidos, mas cedo se mudou para a ilha da Madeira, onde foi criada. Embarcar para a cidade de Lisboa é um primeiro passo para conquistar o seu sonho de criança: ser uma renomada Jornalista. Ambiciona criar conteúdos para grandes revistas turísticas, porque, para além da escrita, a sua paixão é viajar. São os pequenos prazeres da vida que a movem, e deseja partilhar esse olhar único sobre a vida.