Seremos filhos da liberdade?: Freedom Child por The Script
Após um hiato de três anos, os The Script regressaram com o seu quinto álbum, sucessor de No Sound Without Silence (2014). Para a maioria dos críticos, serve para escrever leads jocosos como: “O Trump está na Casa Branca, o Reino Unido está a sair da União Europeia. Quem é que nos fará perceber este mundo dividido?”.
No entanto, Freedom Child não é sequer, como a maioria lhe quer apelidar “uma pior versão dos The Police quando se viraram para a política” (como se pode ler no site Evening Standard). Em algumas das faixas, revela-se como a materialização da revolta e expressa a utilização da música como forma de liberdade de expressão.
Quando o filho de oito anos de Mark Sheehan, guitarrista da banda, o questionou acerca da palavra “terrorismo” que surge constantemente nos media, este não lhe conseguiu responder. Chegou ao estúdio e conversou com Danny O’Donoghue e Glen Power. Juntos chegaram à canção homónima do álbum: “Antes, os artistas utilizavam a música como uma arma e sentimos que isso não tem acontecido ultimamente, por isso, decidimos que este álbum será um mantra para os nossos fãs, nesta época em que a liberdade é mais atacada que nunca”, afirmou Sheehan numa entrevista à Music Choice.
Contudo, ser um “filho da liberdade” remonta a uma organização secreta de patriotas americanos originada nas Treze Colónias durante a Revolução Americana: constituída por patriotas americanos, foi formada para proteger os direitos dos colonos e levar para as ruas protestos contra os impostos e usurpações realizados pelo governo britânico após 1766. Estes filhos da revolução popularizaram-se principalmente devido à Boston Tea Party, de 1773. Com mensagens revolucionárias e subversivas aos sistemas ditatoriais e com versos como: “Put a flower on the top of a gun / Put confetti in an atomic bomb, yeah / It’s time to change now, we’ve seen enough”, Freedom Child constitui a última mas indiscutivelmente marcante faixa do álbum.
Continuando nesta linha revolucionária, mas numa perspetiva mais particular, é impossível não abordar Divided States Of America, dirigida claramente a Donald Trump e à situação hostil vivida nos EUA. Possui referências diretas a políticas do republicano, como a concretização do muro da fronteira EUA-México: “’Cause they built these walls so high / Let’s reach across that great divide” (curiosamente, enquanto escrevo este artigo, acabo de perceber que o Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos já apresentou a sua escolha quanto às empresas que realizarão os protótipos do mesmo).
Num completo desvanecimento do vocábulo “liberdade”, mas com a permanência da preocupação pelas temáticas sociais, passamos a Make Up. Porque falar de pessoas transgénero não é propriamente habitual, esta música merece até aplausos de pé! Que canções nos podem ocorrer quando pensamos neste tema? Talvez Lola dos The Kinks. Com uma letra que combina emoção com a crueza da realidade de quem não se encaixa nos padrões da sociedade e vive preso nos seus pensamentos, os irlandeses evocam o passado de Caroline, que, vestida de rosa, com o seu sorriso vazio e frívolo, se esquece das palavras que o seu pai sempre lhe disse: “No, you don’t need make up to cover your face, love / You’re beautiful now, within and without, be good to yourself / You’re doing me proud / No, you don’t need make up to cover your scars up / You’re beautiful now, within and without, and never Forget / You’re doing me proud”.
Como os Poison nos ensinaram, “Every Rose Has Its Thorn”, e pode dizer-se que os rapazes de Dublin não foram bem-sucedidos com alguns temas, como Mad Love, que através dos versos “Whoever said if you love someone, you should set them free / They don’t know shit about you and me” leva a que se contradigam, na medida em que em If You See Kay do primeiro álbum da banda, pode ouvir-se: “They say you love someone enough you gotta set them free”. Contudo, a alteração de mentalidades em 9 anos é absolutamente plausível, ao contrário de versos desnecessários como “I’m your great white / You’re my piranha / We don’t give a, we love the drama / I’m your snakebite, you’re, you’re my charmer / We don’t give a, we love the drama”.
Menos alarmante, mas igualmente longe de ser brilhante está Love Not Lovers. Sim, afirmar que acreditam no amor “ao modo antigo” é uma boa desculpa para incluir a aplicação Tinder numa canção e alertar os fãs para os perigos dos relacionamentos virtuais, mesmo assim, cantar “Swiped right on Tinder / Had a little fun on the phone / You made up but he got so drunk that you had to swipe left, had to send him home” não é agradável e a repetição de “You will never find love / You will only find lovers” no refrão cria tudo exceto a supostamente almejada simetria musical.
Written In The Scars funciona como uma nova versão de uma canção motivacional após You Won’t Feel a Thing (Science & Faith, 2010), Hall Of Fame do (#3, 2012) e Superheroes (No Sound Without Silence, 2014), contendo toques de magia com o crescendo anterior ao refrão.
Rain é, claramente, uma música de tropical house e dancehall bem conseguida, mas o que é fascinante e nos faz querer ouvi-la uma e outra vez é o facto dos instrumentos musicais se unirem quase de maneira celestial à voz de Danny e, acima de tudo, os ataques, ou seja, a produção inicial de sons por parte da bateria e do piano (neste caso), deixam-nos a ansiar por mais instrumental. Rock The World funciona como um “hino”, que pode ser tocado num concerto em qualquer parte do mundo que os fãs saltarão e gritarão sempre com a mesma garra!
Mas é impossível não falar de Arms Open, a obra-prima do álbum: um autêntico regresso às raízes por parte dos irlandeses, onde nem sequer se deixaram influenciar pela dance pop que os acompanha em grande parte das músicas do álbum e uniram influências de diversos géneros musicais: desde traços de soft rock e soul notórios na voz de Danny, passando pelo andamento que se alterna entre o rápido e o mais lento numa sincronização perfeita até às marcas de gospel existentes, será um desperdício caso não seja lançada enquanto single.
O termo apassionato até podia não estar presente em nenhuma das partituras daqueles que são carinhosamente tratados por “lads” entre os seus fãs, mas uma coisa é certa: entre faixas boas e outras não tão incríveis, os The Script demonstram mais uma vez que a música é a sua maior paixão.
AUTORIA
Se virem uma rapariga com o cabelo despenteado, fones nos ouvidos e um livro nas mãos, essa pessoa é a Maria. Normalmente, podem encontrá-la na redação, entusiasmada com as suas mais recentes descobertas “AVIDeanas”, a requisitar gravadores, tripés, câmaras, microfones e o diabo a sete no armazém ou a escrever um post para o seu blogue, o “Estranha Forma de Ser Jornalista”… Ah, e vai às aulas (tem de ser)! Descobriu que o jornalismo é sua minha paixão quando, aos quatro anos, acompanhou a transmissão do 11 de setembro e pensou: “Quero falar sobre as coisas que acontecem!”. A sua visão pueril transformou-se no desejo de se tornar jornalista de investigação. Outras coisas que devem saber sobre ela: fica stressada se se esquecer da agenda em casa, enlouquece quando vai a concertos e escreve sempre demasiado, excedendo o limite de caracteres ou páginas pedidos nos trabalhos das unidades curriculares. Na gala do 5º aniversário da ESCS MAGAZINE, revista que já considera ser a sua pequena bebé, ganhou o prémio “A Que Vai a Todas” e, se calhar, isso justifica-se, porque a noite nunca deixa de ser uma criança e há sempre tempo para fazer uma reportagem aqui e uma entrevista acolá…!