Todo o Dinheiro do Mundo – Um filme irregular
Ridley Scott sempre foi conhecido pela sua irregularidade no que diz respeito às suas obras cinematográficas. Se, por um lado, já nos apresentou trabalhos de qualidade esplêndida, como “Alien” ou “Blade Runner”, o diretor britânico de 80 anos também já nos apresentou obras de qualidade… inferior, querendo evitar ferir suscetibilidades, como “Robin Hood”.
E, depois de “Alien: Covenant”, Ridley voltou ao grande ecrã com “Todo o Dinheiro do Mundo”, uma adaptação bastante adulterada do livro de John Pearson.
Sem querer entrar em muitos detalhes do filme, a trama é baseada em factos verídicos e num momento particular da vida de J. Paul Getty (Christopher Plummer), um dos homens mais ricos do planeta da altura, em 1973.
Depois de ter falhado como figura paterna e não ter conseguido trazer o seu filho, J. Paul Getty II (Charlie Plummer) para o negócio da família, o magnata acabou por cortar relações, quer com o seu filho, quer com a sua mulher. É neste contexto que surge a história que é desenvolvida e explorada no filme, quando Getty III, neto de J. Paul Getty, é sequestrado em Itália e os raptores exigem uma quantia exorbitante ao magnata pelo resgate do seu neto. No entanto, e apesar de essa quantia elevada não representar realisticamente qualquer problema para o então homem mais rico do planeta, este recusa ceder às exigência e não pagar o resgate.
Neste momento, são-nos apresentados dois lados e duas linhas de raciocínio: por um lado, temos J. Paul Getty, magnata que se recusa a ceder às exigências dos raptores por achar que isso só levaria a que este tipo de situações aumentasse, especialmente contra ele; e por outro, temos Gail Harris (Michelle Willliams), uma mãe desesperada e disposta a fazer de tudo para reaver o seu filho, que entra em conflito com o seu sogro, figura com a qual nunca acabou por se dar muito bem.
A longa de Ridley Scott acabou por gerar algum “buzz” no mundo cinema, nem tanto pela qualidade do filme, que, no geral, acaba por ser medíocre, mas sim pela sua construção. Isto acontece especialmente porque o filme foi praticamente gravado duas vezes. E para quem acabou de ficar confuso, passo a explicar: numa fase inicial, o roteiro e todas as cenas do filme foram gravadas com Kevin Spacey, ator que já venceu Óscares em múltiplas ocasiões. Mas, depois de explodir o escândalo dos assédios sexuais em Hollywood, o ator de 58 anos acabou por ser despedido da produção da Netflix, House of Cards, bem como afastado do filme de Scott. Mas, e aqui entra o mérito que deve ser reconhecido a este filme, apesar desse contratempo, Ridley Scott não quis adiar a data de lançamento do filme, preferindo apenas substituir Spacey pelo veterano Christopher Plummer e regravar todas as cenas do filme, o que acabou mesmo por valer a Plummer uma nomeação para o Óscar de “Melhor Ator Secundário.”
Contudo, é impossível não imaginar o quão perfeito este papel assentaria em Kevin Spacey. Depois da sua sucedida perfomance na série House of Cards, e até mesmo pela forma como o desenrolar da história nos tenta manipular para apoiarmos o amor irracional de uma mãe desesperada, ao invés da racionalidade teimosa de um magnata, estavam todos os ingredientes reunidos para a construção de um vilão memorável.
Por outro lado, essa é talvez a principal falha em “Todo o Dinheiro do Mundo”: essa tentativa de envolver o espetador na trama, onde tudo acaba por parecer artificial e algo forçado.
Seja pelo desgaste de ter de gravar o filme praticamente duas vezes num curto espaço de tempo ou talvez até mesmo pela mediana qualidade do argumento do filme, “Todo o Dinheiro do Mundo” acaba por ser uma produção medíocre, que permite a continuação desta nuvem de incerteza e inconstância que paira sobre as obras que Ridley Scott produz.
AUTORIA
Num universo tão vasto como o nosso, quantas são as pessoas que são açorianas (micaelenses), ouvem música todos os dias, não falham um jogo do Sporting, leem livros e veem wrestling? Algumas, reconheço. Mas a pessoa que está a redigir este pequeno texto introdutório chama-se André Medina, tem 20 anos e, há dois anos, embarcou na maior aventura da sua vida.
Sair de casa nunca é fácil, e fazê-lo quando não se sabe cozinhar nem dobrar roupa é ainda mais complicado. Mas, muitas saladas de atum, pizzas do Pingo Doce e noodles depois, aqui estou eu: vivo e no último ano do curso de Jornalismo.
E, em jeito de recompensa por ter sobrevivido a estes duros anos, tive o privilégio de poder ser o primeiro editor da secção de Deporto na MAGAZINE. Eu, uma pessoa que ainda não sabe dobrar uma t-shirt como deve ser.
De qualquer forma, espero poder retribuir a confiança depositada em mim e quero que todos se sintam bem-vindos a esta escola e a este magnífico projeto, que é a nossa querida ESCS MAGAZINE.