Um novo olhar sobre Pinóquio
Desde pequenos que nos ensinam que “mentir é feio” e que não se deve fazê-lo. Contudo, o dia 1 de abril abre uma exceção a essa regra, sendo conhecido como o “Dia da Mentira”. No mês das partidas, comenta-se um clássico do cinema. Todos conhecemos a história de Pinóquio, todos a ouvimos em criança. Mas será que a conhecemos assim tão bem? Será que percebemos realmente a sua mensagem?
Guillermo Del Toro pega neste clássico e dá-lhe um novo ar. Sem dúvida que foi um desafio cumprido de forma exímia! Esta recente animação dá-nos a conhecer uma inovadora história do Pinóquio e oferece uma mensagem bastante distinta da que estamos habituados a associar ao conto infantil. Nesta versão moderna, lançada a 9 de dezembro de 2022, a história desenrola-se na Itália fascista de 1930 e é narrada pelo grilo falante, que vive no coração de Pinóquio e torna-se o seu “fiel escudeiro” e protetor.
Na nova narração, Gepeto, um marceneiro engenhocas, cria Pinóquio na esperança de preencher o vazio deixado pela morte do seu filho Carlo. Depois de o velhote perder o filho durante a Grande Guerra, viajamos pela reflexão do que é a perda e do que esta pode causar em alguém.
Ao longo do filme, a relação entre Gepeto e Pinóquio solidifica-se: no início pode parecer distante e fria, mas acaba por se tornar numa verdadeira relação de pai e filho. Apesar de a história manter a premissa já conhecida por todos, não se fica por aí. A certo ponto, o conto ficcionado toma um rumo surpreendente e desconhecido (como já era de se esperar), o que nos faz olhar de uma maneira diferente para este clássico. O boneco de madeira ganha um novo destino, que nos prende ao ecrã na expectativa de descobrir o que vai acontecer depois.
Além da reinvenção bem concebida da história, há outros aspetos a destacar. O que mais me prendeu foi o detalhe da animação. De facto, parece que tudo é feito em madeira – o que vai ao encontro da narrativa. Dei por mim a elogiar mentalmente a perfeição da cenografia inúmeras vezes. Além do mais, sendo um filme musical podemos contar com a ajuda da própria trilha sonora, responsável por nos transportar para a pele das próprias personagens. Em muitos momentos, a obra consegue transmitir a sensação de movimento do cenário a quem está a ver, como se nós próprios fizéssemos parte daquele universo.
Ao acabar de ver o filme senti que esta experiência é como ouvir uma história já conhecida, mas que soa como algo novo. A narrativa brinda-nos com uma reflexão profunda acerca da morte que nos faz, involuntariamente, questionar o sentido da vida. A história distingue-se da versão que conhecemos em pequenos, que se preocupa, maioritariamente, em transmitir a mensagem de que não se deve mentir e em prender a atenção dos mais pequeninos.
Apesar de se tratar de um trabalho de animação, não recomendo esta longa-metragem ao público mais novo pois, apesar de ter como base uma história infantil, sinto que esta versão conta com um toque mais terrorífico e até mesmo sombrio. Contudo, recomendo ao resto do público que dê uma oportunidade a esta obra cinematográfica incrível: a premissa já conhecida desperta curiosidade e surpreende com o novo rumo da história reinventada.
Fonte da capa: IMDb
Artigo revisto por Maria Beatriz Batalha
AUTORIA
A Daniela está no segundo ano da licenciatura de Jornalismo e sempre teve um bichinho por tudo o que fosse relacionado a histórias e escrita! Com uma imaginação muito fértil, coleciona blocos e cadernos repletos de narrativas autorais. Para além disso, não desperdiça uma boa tarde passada no universo das séries e dos filmes! Viu na Magazine, em especial na editoria de Cinema e Televisão, uma boa oportunidade de unir o melhor do seu mundo: a escrita e a ficção!