Cinema e Televisão

Mudbound (2017): A América de 40

Os Óscares estão à porta e com eles chegam as nomeações. Muitos dos filmes nomeados já enchem as salas de cinema portuguesas em janeiro.

Entre eles encontra-se Mudbound – As Lamas do Mississipi, que, no passado dia 18, estreou em Portugal. O filme foi nomeado para os Óscares em quatro categorias.

Hoje trazemos-te a nossa análise.

Mudbound – As Lamas do Mississipi passa-se durante os anos 40 nos Estados Unidos e retrata a vida de duas famílias (uma afro-americana e uma caucasiana), nos campos rurais do Mississipi. O enredo cai sobre a amizade proibida entre dois homens, depois de ambos regressarem da guerra. A narrativa aborda temáticas como a 2.º Guerra Mundial e a chamada “Era Jim Crow”, na qual a segregação racial estava legislada.

Garrett Hedlund e Jason Mitchell

O filme, tal como muitos outros, dá uso à narração. No entanto, neste a história é narrada por várias das personagens apresentadas, possibilitando-nos uma visão do pensamento e das preocupações das mesmas. Permite assim, desde o ponto de partida, conhecer intrinsecamente as personagens. Isto é algo que se torna refrescante, quebrando com o padrão de filmes narrados por só uma personagem, que cada vez mais enchem o pequeno e o grande ecrã.

Destaque também para outro pormenor, também ele uma lufada de ar fresco: a forma como é retratada a 2.º Guerra Mundial, uma vez serem raros os filmes que mostram a perspetiva da população americana nessa época. Às vezes esquecemo-nos, principalmente “nós” europeus, que no decorrer da 2.º Guerra Mundial, os Estados Unidos, principalmente no sul, viviam uma segregação racial muito forte. É raro que no mesmo filme ambos os temas sejam retratados em simultâneo, embora fossem reflexos da mesma época.

Se não nos lembrarmos deste aspeto, diversas são as cenas que perdem um pouco de sentido, já que não nos recordamos de imediato como é que era a vida na América para os afro-americanos na década de 40.

A última meia hora de filme leva-nos para um patamar inesperado e elevado. Somos quase como que atingidos por um raio emocional quando um acontecimento trágico abala a história, momento esse que não deixa ninguém indiferente.

Aliadas a um argumento incrível, as atuações dos atores são simplesmente fenomenais.

Mary J. Blige

Mary J.Blige é o grande destaque do filme, tendo o seu desempenho sido reconhecido com a nomeação para um Globo de Ouro e para o Óscar de Melhor Atriz. A atuação não deixa ninguém indiferente. No entanto, não se pode menosprezar o trabalho do restante elenco, que desempenha o seu papel de forma irrepreensível.

O único grande problema do filme é a dispersão narrativa causada pelas diversas narrações, que nos faz querer acompanhar certas personagens para além do que nos é apresentado.

Pode não ser o melhor filme desta temporada de prémios, mas é sem dúvida um dos mais impactantes e socialmente relevantes.