1, 2, 3… Senhor Engenheiro, outra vez?
Miguel Sousa Tavares disse uma vez “hoje existem tantas engenharias, que um dia poderá haver também a engenharia de torneiras.” Não sei um dia poderá existir a engenharia das torneiras, nem se as torneiras precisam de engenharias. Sei que houve um engenheiro que, em vez de abrir a torneira certa, escolheu o plano errado.
Kazan (Cazã, para alguns), 28 de junho de 2017. Portugal participa pela primeira vez nas meias-finais da Taça das Confederações. O adversário é o bicampeão da Copa América, o Chile, liderado pelas estrelas Alexis Sanchez e Arturo Vidal. Do nosso lado, o onze que se especulava. A inclusão de Adrién foi um aspeto positivo e a novidade era que, afinal, Bernardo Silva estava recuperado e apto. André Gomes voltou a jogar no “lado esquerdo” do meio-campo.
Um dos princípios fundamentais que Fernando Santos seguiu foi o da utilização do jogo direto, seja com André Silva ou com Cristiano Ronaldo a atacarem o espaço nas costas da defesa do Chile, que se encontrava sempre muito distante da sua baliza quando Portugal tinha a bola na primeira zona de construção.
No entanto, houve (diversas) situações nas quais os campeões da Europa tentaram o ataque organizado. A colocação de Bernardo/André Gomes não é inocente, sendo que são dois jogadores que podem criar a partir das alas. Assim sendo, Adrien fica mais “solto” para tarefas defensivas, sendo que no processo atacante tenta transportar a bola até aos dois médios-ala portugueses. Desta forma, Portugal abriu diversas vezes a frágil defesa chilena.
Qual foi, portanto, a necessidade de explorar um jogo direto? Deixou, há muito tempo, de ser o ADN da Seleção Nacional. O jogo português não estava a correr mal, com a Seleção a criar superioridades de forma espaçada. Fernando Santos decidiu, então, desfazer o 4-4-2 para reforçar o meio-campo, trazendo Nani e Quaresma para um 4-3-3, rodando André Gomes para o meio, num triângulo invertido com Adrien e William. O plano A de Santos é substituído pelo plano C, que é a mudança tática, e não pelo plano B.
Quando Portugal assume o ataque organizado cria perigo e tem equilíbrios defensivos e, mesmo assim, Fernando Santos colocou o 4-3-3. A equipa procurou defender mais nos corredores, mas acabou por abrir espaço a mais no meio, com a ausência do trabalho de André Silva. Nani e Quaresma não trouxeram nada de novo. André Gomes esteve claramente num dia pouco (ou nada) inspirado em terrenos mais avançados. Olhando para as soluções, a troca de Quaresma por Bernardo Silva poderia revelar-se acertada. Virtuoso, o “Mustang” poderia desequilibrar sozinho, mas não o conseguiu. Nani entra para o lugar de um André Silva desgastado e num jogo esforçado nos processos ofensivos. Até aqui, tudo justificável. A troca que faltou foi a saída de André Gomes. Claramente desmotivado depois de várias oportunidades perdidas, o médio do Barcelona não mereceu jogar 116 minutos. E até a entrada de Gélson já vem tardia. Não seria, no entanto, o prodigioso extremo do Sporting a solução que considero mais adequada. Não para o caso André Gomes, pelo menos. Olhando para os lados, Fernando Santos tinha a melhor solução. Era extremo, mas já não é. Estava até nos dois bancos, dando-se pelo nome de Pizzi.
Pizzi é um jogador versátil que pode fazer, pelo menos, quatro posições: Nas duas alas, como um “8” (como o faz no Benfica) e ainda jogar no apoio ao ponta-de-lança. Seria, em teoria, o jogador mais próximo daquilo que Fernando Santos procura no seu médio-esquerdo, uma vez que ocupa melhor os espaços defensivamente que um extremo e aparece mais no centro do campo, dando maior liberdade de movimento aos dois homens da frente. Tudo isto faz lembrar aquela teimosia em retirar João Moutinho quando a equipa não tinha a intensidade suficiente na fase de grupos do Campeonato da Europa.
Em jeito de conclusão, algo também no qual a seleção falhou, aconteceram dois erros de leitura de Fernando Santos, que são relacionados: a não entrada de Pizzi para o lugar de André Gomes, que fez a equipa fletir para um 4-3-3 até ao minuto 116. Aí, já era tarde demais. A máxima do futebol é que os penáltis são uma lotaria, mas em mais de 90% dos casos, o guarda-redes escolhe um lado e não fica no meio.