Capital

Castro Beer – mais que um restaurante, um espaço de heterónimos

Entre a Bica e o Cais do Sodré, eis que nos deparamos com um espaço com grandes janelas de vidro e a zona de entrada completamente aberta, bastante convidativa a quem por lá passa e agradável para quem lá está dentro.

Entramos e vemo-nos inseridos num ambiente vintage, organizadamente desorganizado, que mistura diferentes materiais e nos faz regressar ao passado. O proprietário, Hélio Girão, recebe-nos com simpatia. É um dia de semana, pelo que o ambiente ainda está calmo. Há um grupo de estrangeiros a petiscar no sofá, à entrada do Castro Beer, e duas pessoas numa mesa a tomar uma bebida.

Enquanto é feito o pedido e ao longo do tempo de espera, o proprietário vai contando a história daquele seu cantinho. Com formação em Informática, entrou naquele negócio um bocadinho por acaso, com um sócio, há cerca de três anos. Com o tempo, o sócio começou a não aparecer e a não atender as chamadas. Aí, Hélio pensou mesmo em encerrar o espaço, mas resolveu não desistir. “Tinha um pé fora e um pé dentro, mas decidi continuar e mudar o estilo”, afirma. Subiu o preço da cerveja para alterar o público-alvo, redefiniu a ementa e apostou mais nos vinhos e nas cervejas artesanais.

Hélio vai mais longe e traz-nos as memórias daquele espaço. Faz-nos saber que ali já tinha funcionado um cabeleireiro, um bar, uma oficina de barcos – da qual ainda resta um guindaste na zona da cozinha –, e que até Fernando Pessoa lá tinha trabalhado entre 1920 e 1924, enquanto correspondente nos então escritórios da firma Toscano & Cruz, Lda., que se dedicava à venda de motores, máquinas e automóveis.

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Outro aspeto surpreendente surge quando nos dirigimos para a cave. Mais do que o local das casas-de-banho, há todo um espaço de convívio, onde há sofás, duas mesas de matraquilhos, uma mesa de snooker e ainda uma sala vazia, usada para aulas de capoeira e workshops.

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Consciente de que o seu espaço é muito visitado por estrangeiros, não se mostra, no entanto, com receio dos meses de Inverno. “Aí não há problema. O nosso pior mês é o dos Santos, porque as bancas da rua roubam-nos a clientela”, garante.

Vão chegando pessoas. Entre elas, uma família de ingleses. Hélio leva-os para a mesa mais original que tem ― uma mesa feita de uma porta que o próprio restaurou ― e explica-lhes, vanglorioso, o processo e o conceito. Mais tarde, partilha-o connosco.

Grande parte da ementa é composta por petiscos, juntando-se cinco pratos de peixe e cinco pratos de carne, o suficiente para largos minutos de indecisão. O preço dos pratos é acessível, nunca ultrapassando os oito euros. Existe ainda um menu de almoço no valor de 7.20€ e aos fins-de-semana são servidos jantares de grupo com menus especiais. Pedimos pataniscas de pota com arroz de tomate malandrinho, um prato que se revelou bastante requintado e saboroso.

O ambiente é bastante descontraído. Há um projetor ligado a transmitir videoclipes numa das paredes. Aberto até largas horas da noite, são também muitos os grupos que chegam depois de jantar para aproveitar a faceta de bar daquele espaço e brindar com os amigos. Mais que um restaurante, é um bar, uma sala de jogos, um espaço de convívio e de memórias. Tal como Fernando Pessoa, também este espaço é muitas coisas. A essência do n.º 121 ficou.

 

Morada: Rua de São Paulo, 121, Cais do Sodré, Lisboa 1200 426
Horário: Seg a Qui ― 12h às 2h; Sex ― 12h às 3h; Sáb― das 15h às 3h; Dom ― encerrado
Preço para dois: 20€
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