LEFFEST: Dois de uma vez
E o 3.º dia do Lisbon and Sintra Film Festival foi marcado pela estreia de diversos filmes em competição: “Western”, “As Guardiãs” e “LERD – A Man of Integrity”. A ESCS MAGAZINE teve a oportunidade de ver os dois primeiros.
Comecemos com o filme “As Guardiãs”, que contou com a apresentação de Iris Bry (uma das protagonistas) e de Jean Douchet (crítico de cinema).
Na apresentação, Jean Douchet revelou ao público presente que esta era a estreia de Iris Bry na 7.º arte, elogiando a sua performance no filme.
Focando a nossa atenção agora no filme em si. Ele passa-se durante a 1.º guerra mundial.
Sim. Este é mais um filme sobre a 1.º guerra. Mas ao invés de mostrar o que as tropas tiveram de enfrentar na batalha, a narrativa mostra o outro lado, isto é, revela a guerra emocional com que as mulheres foram confrontadas durante os quatro anos em que desesperadamente ansiavam pelo retorno dos seus entes queridos são e salvos das linhas de batalha.
Acompanhamos, nomeadamente, três mulheres: Hortense (Nathalie Baye), a matriarca da família; Solange (Laura Smet) e Francine Riant (Iris Bry), contratada para ajudar Hortense, sendo nesta última que a história mais se foca, sem descurar, no entanto, as outras protagonistas.
O filme consegue contar de forma magnífica a história destas mulheres, nunca se arrastando na narrativa e sendo coeso do início até ao fim, apesar do seu fim um pouco brusco.
Uma parte do filme investe na relação entre Hortense e Francine, sendo que este desenvolvimento leva a que o impacto emocional de uma reviravolta se amplifique muito mais do que o esperado.
Outro ponto de destaque é sem dúvida a banda sonora de Michel Legrand, que, de cada vez que é ouvida numa cena, consegue tocar-nos sempre, sendo um complemento de extrema importância ao filme, ajudando a que a narrativa possua um maior efeito no espectador.
Por último, não poderíamos deixar de falar da performance de Iris Bry, que, no seu primeiro filme, já pode ser considerada uma das grandes revelações do ano. A atriz consegue representar com imensa naturalidade e a sua atuação não consegue deixar qualquer um intacto pela sua força, nem que seja pelos dotes vocais que revela.
Na conversa que se seguiu à exibição d’’As Guardiãs”, falou-se na importância das mulheres durante a 1.º guerra mundial e nas suas mentes progressistas.
Muitas das intervenções da audiência foram dirigidas a Bry, elogiando a sua estreia cinematográfica.
Passemos agora para o filme “Western”, onde nenhum dos atores é profissional, algo que já ocorrera no filme “Longing”, da mesma realizadora (Valeska Grisebach).
Neste retorno da realizadora, 11 anos após o seu último filme, é contada a história de um grupo de trabalhadores alemães que vão para uma zona rural da Bulgária construir uma barragem. Desse grupo de trabalhadores, a narrativa foca-se em Meinhard (Meinhard Neumann).
Meinhard vai funcionar como uma ponte entre a população local e os alemães, mas não sem antes enfrentar as diversas barreiras culturais e linguísticas entre as culturas.
À medida que o filme avança, Meinhard começa a aproximar-se dos aldeões, sentindo-se em casa naquela localidade.
O filme não deixa de mencionar o passado da Alemanha, que invadiu o território búlgaro durante a II Guerra Mundial. Tal leva a que a presença alemã seja vista com grande desconfiança por parte dos locais.
Por muito que o filme seja interessante, que os temas abordados sejam relevantes e que as atuações sejam boas, não consigo continuar a falar nele sem abordar o seu grande problema: a progressão da ação é exageradamente lenta, um lento aborrecido e não aquele lento que nos deixa deliciar cada momento da história e nos faz imergir para dentro do filme. Entendo que seja para dar um aspeto mais documental e que, sem dúvida, aproxima o filme à realidade. Mas é simplesmente d e m a s i a d o l e n t o. Mesmo a pessoa mais paciente poderá desligar-se, por vezes, do que está a acontecer em cena e o mais grave é que essa desconexão tem graves consequências, perdendo-se detalhes muito importantes para percebermos completamente a narrativa.
Deixando essa crítica de lado, o filme, face aos pertinentes temas que aborda, poderá ser um filme a ver.
De ambos os filmes em competição que vimos, sem dúvida que foi “As Guardiãs” que nos conquistou.