The Last Days of Disco (1998): uma ode à efemeridade da Disco
Nova Iorque. Primórdios dos anos 80. Esta é a história das amigas e recém-formadas Alice (Chloë Sevigny) e Charlotte (Kate Beckinsale), da discoteca que frequentam todos os fins-de-semana e dos homens que aí conhecem.
Os dias das duas amigas são passados a trabalhar numa editora, enquanto anseiam pela chegada da noite, na esperança de encontrar o amor junto de recém-formados de Harvard. Ao conseguirem entrar numa exclusiva discoteca da cidade, Alice e Charlotte conhecem Jimmy, um publicitário; Tom, um ativista; Josh, um aspirante a advogado; e Des, um dos gerentes do estabelecimento.
E é neste decadente universo de sons e luzes que a história toma forma…
O filme mostra-nos as encruzilhadas pessoais e profissionais de Alice e Charlotte, bem como a relação entre as protagonistas, que, se ao início parece correr “sobre rodas”, dez minutos de fita deitam por terra tal crença.
Alice, ainda que bonita e inteligente, é tímida e pouco segura de si; Charlotte, apesar de extrovertida, é manipuladora, fútil, com traços de personalidade narcisísticos. Dois mundos distintos que vão chocando ao longo do filme. Primeiro, com a convivência forçada e falsa entre as duas ao partilharem um apartamento em Upper East Side; segundo, com o criticismo de Charlotte em relação aos interesses amorosos de Alice; depois, com os ciúmes de Charlotte no que diz respeito à carreira e às convicções profissionais de Alice.
É a típica relação “dominadora” entre duas amigas, com a figura dominante a fazer-se passar por ingénua ou simplesmente a fazer-se passar por tudo aquilo que não é. Um padrão ainda tão presente e comum nos dias de hoje… Quem nunca conheceu uma relação deste tipo? Ou quem nunca teve uma amiga, colega ou conhecida que “expelisse” tiradas mordazes e mal-intencionadas a torto e a direito, em que o único propósito é fazer a outra pessoa tropeçar, der por onde der?
Constatações à parte, pelo meio vamos também seguindo de perto os dramas das personagens masculinas e de como estes interferem nas vivências de Alice e Charlotte.
E são exatamente as encruzilhadas pessoais e profissionais que vão dando molde às vidas das protagonistas, sempre com o Disco como “música” de fundo.
O Disco como um escape ao quotidiano, como um hino à dança e à vontade de o fazer, com ou sem jeito, de ver e de ser visto, quase sempre sem preconceito.
Ao leme da realização vai Whit Stillman, conhecido por filmes como “Metropolitan”, “Barcelona” e “Love & Friendship”. Já a banda sonora conta com êxitos de Carol Douglas, Sister Sledge, Chic, Evelyn ‘Champagne’ King, Diana Ross, The O’Jays, entre outros.
Nota positiva para um filme que, apesar de beber da retórica, de divagações algo dispensáveis e de algum humor “falhado”, ganha e muito no que diz respeito ao plano relacional das protagonistas. Bónus: para quem gosta de moda, este é um tesouro por descobrir.
Do filme podemos absorver algumas ideias, mariná-las e criar lembretes mentais. Podemos proteger-nos contra pessoas indesejadas e escolher a dedo as companhias. Podemos fazer tudo isto. Ou então não. Eu fiz, faço e, agora, aconselho…
É a efemeridade do Disco e das relações interpessoais, de mãos dadas, durante uma hora e cinquenta e três minutos.