Somos conhecidos pela sardinha, não precisamos de que nos relembrem
Ainda me lembro dos tempos em que tinha espaço para respirar, não levava cotoveladas e não tinha de me preocupar constantemente com o fecho das portas do metro no preciso momento em que todo o meu corpo consegue finalmente entrar neste belíssimo transporte público da cidade de Lisboa.
Comecei a notar há bem pouco tempo manifestações e, eu própria, mesmo reparando e confirmando que todos os problemas de que se queixam vão ao encontro da realidade, tentei ignorar esses factos para que não se tornasse numa preocupação ou irritação permanente no meu dia a dia. Mas é escusado. Tenho de aceitar que isto começa a tornar-se ridículo. Sempre que espero que chegue o momento da abertura das portas das carruagens, consigo ver a falta de civismo, educação e noção das pessoas que me rodeiam. Desde encontrões uns nos outros, a colocarem-se mesmo em frente da passagem dos restantes passageiros que pretendem sair e até por vezes não cederem uma primeira entrada e lugar a crianças e idosos, tenho a dizer que estou indignada.
Já ando de transportes públicos há mais de uma década e posso dizer que a diferença é estrondosa na quantidade de utentes e “horas de ponta” que se registam. Não sei como é que, sempre que estou a sair da estação de metro do Cais do Sodré, na hora em que as pessoas regressam do trabalho, não tropeço por trocar os passos a tentar acompanhar os da pessoa que se segue à minha frente. Falar de passo de caracol naquela zona é pouco, é mais passo de caracoleta (partindo do pressuposto que esta é mais vagarosa).
Se não tinha claustrofobia antes, vos garanto que passei a ter um pouco e que, de cada vez que me tenho de enfiar para dentro das carruagens do metro e me vejo apertada por pessoas que invadem por completo a minha bolha pessoal e me fazem sentir uma sardinha enlatada, sinto que o ar que ali circula não é nem aconselhável, nem suficiente para sobrevivência. Eu sei que Portugal é conhecido pela sardinha, mas isto é só uma piada de muito mau gosto fazerem-nos a nós nos transportes o que fazem ao famoso peixe no seu processo de conserva.
Claro que toda esta situação não se tem sentido apenas nas manifestações. Todos aqueles erros humanos de que falei, que honestamente não entendo ainda como é que existem tantos seres a cometer os mesmos diariamente, todos os momentos de desrespeito perante o outro, essas mesmas situações causaram impacto não só à minha pessoa felizmente. Criaram-se caricaturas em que se demonstram situações desagradáveis no metro, como é o caso de dificultar a passagem quando alguém pretende sair do transporte público, entre outras, e colocaram as mesmas em pequenos placards e mupis nas carruagens e estações. Quanto a isso, por um lado acho ótima a iniciativa, por outro envergonha-me que tenhamos de ensinar regras de civismo na sociedade em que vivemos.
No meu caso, os transportes continuam a ser a minha única opção, quanto a vocês não sei, mas vos garanto que continuarei a praticar as minhas técnicas de meditação em plenas estações de metro para sobreviver a todo este processo de enlatamento.