Cinema e Televisão

Óscares 2018: O regresso das menções honrosas

Como em qualquer outra indústria ou modalidade, também a Sétima Arte laureia quem mais se destacou ao longo do ano. Centenas de filmes, elencos e realizadores são profundamente analisados por um painel que tem de tomar a mais difícil das decisões: encurtar uma lista ínfima de nomes para cerca de meia dúzia e revelar as nomeações aos Óscares.

Ora, este é um dos temas que mais discussão provoca – e não, não me refiro aos casos de assédio sexual que assombram Hollywood. Refiro-me, sim, às grandes ausências na lista de nomeados que podiam ter figurado como pretendentes a arrecadar a Estatueta de Ouro. Por isso, tal como no ano passado, volto a enumerar um pequeno rol de nomes deixados de fora da corrida aos Óscares, mas que arrecadam a minha prestigiante menção honrosa.

 

James Franco como Tommy Wiseau em The Disaster Artist – Melhor Ator

Ironia ou não, foi ao encarnar no realizador de The Room, aquele que é considerado um dos piores filmes da história do cinema, que James Franco exibiu uma das interpretações do ano. Se as peculiares idiossincrasias de Tommy Wiseau pareciam irreplicáveis, Franco provou, mais uma vez, que os impossíveis não existem, ao conseguir representar na perfeição os singulares traços do artista desastroso. Contudo, a presença na lista final dos Óscares foi-lhe gorada, muito provavelmente por, dias depois de ter subido a palco para receber um Globo de Ouro, ter sido envolto em mais uma polémica de assédio sexual. “He did naaaaaaht”? Poucos parecem saber. A única certeza é que James Franco é o primeiro a constar na minha lista. E merece.

 

Tom Hanks como Ben Bradlee em The Post – Melhor Ator

Tom Hanks parece ter caído em esquecimento junto da Academia. Sem receber uma indicação aos Óscares desde 2000, o cenário continua sem se inverter dezoito anos depois. E a justificação não reside no facto de ter sido protagonista num vídeoclip de Carly Rae Jepsen, pois esse só foi para o ar em 2015. Parece seguro afirmar que Hanks se tornou no ator mais subvalorizado de Hollywood. Ainda que se tenha esmerado como Ben Bradlee na história de bravura de The Post, onde trouxe cor a um filme que podia ter sido bem cinzento, a sua interpretação não foi merecedora de um lugar na lista final de nomeados. Já Meryl Streep, como manda a regra, recebeu a sua indicação. Não critico, mas creio termos chegado a um ponto em que a galardoada atriz pode ser candidata a um Óscar num papel que se resuma a tocar bateria com os pés, enquanto lê um livro de olhos vendados. Porque não há nada que Streep não faça, na verdade.

 

Martin McDonagh – Melhor Realizador

Ainda que a realização de Three Billboards (E o Título Deste Filme Nunca Mais Acaba) não estivesse ao nível de The Shape of Water, Martin McDonagh merecia uma distinção entre os cinco indicados a esta categoria. A forma como consegue equilibrar personagens tão distintas e fulcrais para a narrativa sem sobrepô-las e correr o risco de perder o sentido à narrativa é, para mim, merecedor de tal nomeação. Além disso, a escolha de planos e a forma como os consegue associar às emoções dos protagonistas, criando intriga e surpresa no público, são outros pontos fortes que podiam ter colocado McDonagh na corrida ao prémio final.

 

Luca Guadagnino – Melhor Realizador

Num filme onde a beleza e a estética assumiram pontos de relevância, estranha ver Luca Guadagnino ausente dos nomeados a Melhor Realizador. Os cenários da paisagem campestre italiana, a mestria do elenco e uma abordagem corajosa ao tema em Call Me By Your Name são os meus argumentos a favor de Guadagnino. E, obviamente, a sua nacionalidade, pois Itália é perita em lançar talentos para o mundo do cinema. Quero acreditar que a difícil pronunciação do seu apelido foi a razão que levou a Academia a renegá-lo para segundo plano. Não fosse Warren Beatty subir a palco.

 

I, Tonya – Melhor Argumento Original e Melhor Filme

I, Tonya, não tem cartazes à beira da estrada, nem criaturas anfíbias, nem personagens que atinjam elevados níveis de prazer com alperces. Mas, tem tanta qualidade quanto outros nomeados às categorias acima referidas. Tal como mencionei na minha crítica, trata-se de um filme biográfico que se reinventa e foge às regras do género em questão, sem deturpar factos ou assumir juízos de valor. O humor é utilizado de modo sublime e acaba por ser um fator que diferencia e personaliza a narrativa, engrandecida pelas representações de Margot Robbie e Allison Janney. Porém, o Painel da Academia decidiu fechar a porta a I, Tonya, ficando a faltar maior reconhecimento ao filme na globalidade.

 

In the Fade – Melhor Filme Estrangeiro

In the Fade não é o melhor filme alemão dos últimos anos, nem sequer supera outras produções estrangeiras realizadas em 2017. No entanto, a sua vertente altamente humana, tocando em temáticas atuais e extremamente sensíveis, aliada à interpretação de Diane Kruger, fazem com que merecesse outro tipo de atenção. Vencedor de vários prémios internacionais dentro desta categoria, é uma das principais ausências na lista de nomeados dos Óscares. Dificilmente conseguiria bater The Square ou A Fantastic Woman, mas tinha todas as condições reunidas para poder sonhar com a Estatueta de Ouro.

 

Wonder Woman – Melhor Filme, Melhor Argumento Adaptado, Melhor Fotografia, Melhor Banda Sonora, Melhor Guarda-Roupa, Melhor Montagem, Melhor Mistura de Som

Wonder Woman, apesar de não ser um fã ávido de filmes de super-heróis, é dos projetos mais vanguardistas dentro do género que estrearam nos últimos anos. E a sua completa ausência da cerimónia é algo que me traz perplexidade. Pelo menos, nas categorias mais técnicas. Aliás, O mais próximo que tivemos a Wonder Woman na cerimónia foi Frances McDormand – que discurso, que atriz e que mulher! Creio que a desconfiança da Academia relativamente a super-heróis pode servir de fundamentação, contudo, é um paradigma que deveria ser alterado no futuro próximo. Pois, até eu que em anos anteriores também lhes torcia o nariz, acabei por me render à fantasia heroína.

 

Michael Stuhlbarg – Óscar de Faz Tudo

A minha menção final vai para Michael Stuhlbarg. O ator norte-americano teve um ano atarefado, participando em três longas-metragens nomeadas para Melhor Filme. Tudo começou com The Post, de onde partiu para fazer uma paragem para se refrescar em The Shape of Water, pois necessitava de máxima força para terminar grandiosamente em Call Me By Your Name. Foram papéis secundários, mas importantes, pautados pela sua versatilidade. Seja como jornalista, cientista soviético ou pai apoiante e compreensivo com raízes francesas e italianas, pode-se afirmar que Stuhlbarg é um “Faz Tudo”, e um “Faz Tudo Bem”. O reconhecimento deveria ser maior, mas pode contentar-se com a minha sempre honrosa menção.