WrestleMania 34 – uma noite para a história
Quem acompanha wrestling regularmente, sabe que um ano não acaba na noite de 31 de dezembro e o novo ano não arranca na madrugada do dia 1 de janeiro, mas sim na primeira semana de abril, na qual, normalmente, se realiza a WrestleMania.
Mais do que ser o espetáculo que coloca o ponto final no ano da WWE, a WrestleMania é um palco onde tudo é maior. É um sentimento. É aquele entusiasmo de assistir ao culminar das melhores e maiores rivalidades do ano. É aquele entusiasmo pelas entradas trabalhadas dos lutadores e até mesmo pelo seu attire. Na WrestleMania, tudo é puro entretenimento. E a WrestleMania 34 não desiludiu. Foi, facilmente, uma das melhores dos últimos anos.
O plantel da WWE continua a crescer, quer em números, quer em qualidade, e isso refletiu-se no cartaz desta edição da WrestleMania, que contou com 14 combates (três deles realizados no kick-off).
Kick-off
Matt Hardy venceu o André The Giant Memorial Battle Royal
Inaugurado há alguns anos, este combate tem como principal objetivo incluir todos os lutadores que não conseguiram entrar no main card e dar-lhes alguns minutos de ação. O combate deste ano não apresentou nada de inovador ou de especial, sendo que o momento mais interessante surgiu mesmo antes do final do combate, quando Bray Wyatt, que estava desaparecido desde o combate Ultimate Deletion, onde defrontou Matt Hardy, surgiu para ajudar o Broken One a vencer o combate.
Foi a primeira grande surpresa da noite, que deixa água na boca para o que poderá vir a seguir para estes dois lutadores.
Cedric Alexander derrotou Mustafa Ali (WWE Cruserweight Championship)
Não podiam ser melhores os lutadores presentes na final do torneio pelo Cruserweight Championship, que se prolongou durante as últimas semanas, no 205 Live.
Cedric e Mustafa fizeram um excelente tributo ao trabalho que se tem realizado no programa. Num combate curto, os dois lutadores mostraram a agilidade e velocidade que caracterizam a divisão.
No final, a sorte sorriu a Cedric Alexander, que, desta forma, tornou-se Cruserweight Champion pela primeira vez na sua carreira.
Naomi venceu a Women’s Battle Royal
Foi o culminar de um ano tremendo para a divisão feminina da WWE. Depois do primeiro Money in the Bank, do primeiro Royal Rumble e do primeiro Elimination Chamber, eis que surgiu o primeiro Women’s Battle Royal.
Admito que fiquei desapontado com este combate. Esperava-se mais. Sabia-se que o intuito era o mesmo do que no batte royal dos homens: dar tempo de antena às lutadoras que não conseguiram integrar o main card do espetáculo. Mas continuou a estar uns furos abaixo das expectativas.
Deu a ideia de ser um combate feito a correr. Becky Lynch, uma das principais favoritas à vitória, foi eliminada numa altura ainda muito prematura do combate, o que acabou por gerar algum desinteresse por parte do público.
No final do combate, tivemos um confronto entre Sasha Banks e Bayley, mas até este pareceu curto. Bayley rapidamente eliminou Sasha, sendo, de seguida, eliminada por Naomi, que se tornou, então, na primeira vencedora do troféu.
Como disse, esperava-se mais.
Main Card
Seth Rollins derrotou The Miz (c) e Finn Bálor (WWE Intercontinetal Championship)
Acho que seria muito complicado arrancar a WrestleMania 34 de maneira melhor!
Este era um dos combates pelo qual eu mais esperava. E não me desiludi. Que grande combate!
Rollins, Miz e Bálor proporcionaram-nos momentos incríveis. O combate foi sempre muito intenso, de ritmo elevado e repleto de sensacionais movimentos técnicos.
Esperava que The Miz fosse vencer e tornar-se no Intercontinental Champion com o maior reinado de toda a história da WWE. Contudo, depois de um Stomp impressionante aplicado a Bálor, seguido por outro ao campeão, Seth Rollins venceu o Intercontinental Championship e tornou-se num Grand Slam Champion!
Sê bem-vindo ao clube, Rollins. Mereces!
Charlotte Flair (c) derrotou Asuka (WWE SmackDown Women’s Championship)
Charlotte was ready for Asuka!
Naquele que foi, a meu ver, o melhor combate de toda a noite, Charlotte e Asuka resumiram a evolução que tem ocorrido na divisão feminina da WWE, nos últimos anos.
Nos meus prognósticos para este combate, dizia: “Não acredito que Asuka perca na WrestleMania; mas se há lutadora capaz de acabar com a streak da Empress of Tomorrow, essa lutadora é a Smackdown Women’s Champion, Charlotte Flair!”
E parece que estava correto. Não esperava mesmo que a streak de Asuka fosse quebrada no maior palco de todos, especialmente por Asuka estar no main roster da WWE há relativamente pouco tempo.
O combate foi muito físico do início ao fim. As duas lutadoras apresentaram uma agressividade e um ritmo tremendo.
Ao longo do combate, Asuka foi focando a sua ofensiva no braço esquerdo da campeã, com o intuito de, mais tarde, aplicar o seu típico Asuka Lock e obrigar a campeã a desistir. Contudo, a Queen não arredou o pé e proporcionou um dos momentos mais históricos da noite: depois de aplicar o Figure 8, fazendo a ponte apenas com o braço direito, Charlotte acabou com a streak de vitórias de Asuka, que se prolongava há já mais de 900 dias.
Jinder Mahal derrotou Randy Orton (c), Bobby Roode e Rusev (WWE United States Championship)
Este era, facilmente, um dos combates mais desinteressantes do pay-per-view. Não pelos lutadores em si, mas sim pela forma apressada e pobre com que o combate foi construído. Mais do que haver uma verdadeira rivalidade, pareceu-me apenas ser uma Fatal 4-Way com quatros grandes lutadores a disputarem um título.
Quanto ao combate em si: não foi mau, de todo. Os quatro lutadores apresentaram um bom rendimento e conseguiram manter um elevado nível de intensidade durante todo o combate. Mas faltou aquele momento que marcasse e tornasse o combate inesquecível.
Sendo certamente o menos favorito à vitória, Jinder Mahal aplicou o seu finisher ao favorito do público, Rusev, (em pleno Rusev Day!) e confirmou o incrível ano que tem tido na WWE: por esta altura do ano passado, o Modern Day Maharaja havia conquistado o WWE Championship pela primeira vez.
Kurt Angle e Ronda Rousey derrotaram Triple H e Stephanie McMahon
Este era um combate que tinha tudo para correr mal, mas que acabou por ser muito melhor do que o previsto.
Se formos a analisar as coisas de forma individual: de um lado, tínhamos Ronda Rousey, que apesar de ser uma das lutadoras mais destemidas e talentosas de MMA, nunca combateu num ringue da WWE, que é completamente diferente, e Kurt Angle, que apesar de ser um enorme lutador, já não é tão novo, intenso ou agressivo, como outrora. Do outro lado, temos Stephanie McMahon, que apesar de ter praticamente nascido no seio da WWE, nunca passou assim tanto tempo dentro de um ringue e Triple H, um dos maiores nomes da história da companhia, que tem o mesmo problema de Kurt Angle. Na WWE, mais importante do que ter talento, só mesmo ter ritmo dentro de um ringue.
Tendo em conta todos estes fatores, o combate surpreendeu-me imenso. Rousey não cedeu à pressão de fazer a sua estreia no maior espetáculo da WWE e mostrou estar mais do que preparada para embarcar nesta nova aventura.
Triple H e Kurt Angle souberam gerir as suas prestações e manter um nível de qualidade bastante elevado durante os 20 minutos do combate, sem acusarem, de forma evidente, um grande nível de desgaste.
Destaque também para Stephanie McMahon, que embora nunca tenha sido uma lutadora a tempo inteiro ou até uma boa lutadora, no geral, fez uma prestação bastante decente, não ficando nem um furo abaixo dos restantes membros do combate.
O desfecho foi o mais previsível: Ronda aplicou um armbar a Stephanie e obrigou a comissária do Raw a desistir. Estou entusiasmado para saber que papel irá Rousey desempenhar nos quadros do Raw, a partir de agora.
Bludgeon Brothers derrotaram The Usos (c) e New Day (WWE SmackDown Tag Team Championships)
Depois de 9 anos nos quadros da WWE, os Usos conseguiram finalmente participar no main card de uma WrestleMania. Um prémio merecido, para aquela que tem sido uma das melhores Tag Teams da última década.
Adoraria ver os irmãos a reterem os títulos, mas estava mais do que visto que os vencedores seriam os Bludgeon Brothers. O rasto de destruição deixado por Luke Harper e Eric Rowan só poderia culminar com a conquista dos SmackDown Tag Team Championships.
O combate foi exatamente o que se esperava dele: curto, intenso e acabou com o completo domínio dos Bludgeon Brothers sobre duas das melhores Tag Teams dos últimos anos, na WWE.
Esta mudança de campeões deixa agora a questão: quem conseguirá roubar os títulos aos Bludgeon Brothers?
The Undertaker derrotou John Cena
Após longas semanas a tentar “invocar” o Undertaker, John Cena entrou na WrestleMania como um mero fã. Mas depois de ser informado de que o Undertaker estava no edifício, Cena rapidamente saltou a barreira de proteção e dirigiu-se aos bastidores.
Mais tarde, voltou ao ringue já equipado e esperou pelo Phenom. Depois de um apagão e do delírio do público, apareceu Elias, que teve a oportunidade de cantar para um Superdome inundado de pessoas, antes de ser “calado” por John Cena.
Prestes a abandonar o ringue, mais uma vez desiludido, há outro apagão e ouve-se na arena o típico sino, que inicia a entrada de Undertaker.
Incrédulo com o que se estava a passar, John Cena entrou no ringue e foi humilhado pelo Undertaker, num combate muito, muito curto, com o único intuito de agradar o público, pois uma WrestleMania já não é uma WrestleMania sem a presença do Undertaker.
Este combate teria sido um combate de sonho, se tivesse acontecido há uns anos. Aliás, sempre achei que seria John Cena a acabar com a streak do Undertaker na WrestleMania.
Ciente de que o Undertaker já não consegue apresentar o mesmo tipo de rendimento e qualidade num combate de longa duração, esta foi a melhor solução que a WWE arranjou para preservar o legado que o Undertaker criou ao longo das últimas décadas.
John Cena não precisava de vencer; John Cena é dos lutadores mais credíveis e possivelmente o maior nome da história da companhia, juntamente com o Undertaker.
Foi um momento de puro entretenimento, onde fomos presenteados com todos ataques característicos do Phenom e, no fim, ficou a ideia de que o Undertaker “still got it”.
Daniel Bryan e Shane McMahon venceram Kevin Owens e Sami Zayn
Yes! Yes! Yes! Daniel Bryan está de volta!
Apenas algumas semanas depois de anunciar o seu regresso aos ringues, Daniel Bryan juntou-se a Shane McMahon para “expulsar” Kevin Owens e Sami Zayn do SmackDown Live!.
Após ter colocado um ponto final na sua carreira, há dois anos, devido a lesão, foi um prazer testemunhar o regresso de um dos maiores fenómenos da WWE. São muito poucas, as superstars que conseguem o mesmo tipo de reação e de apoio que Daniel Bryan consegue. O Superdome uniu-se em uníssono a cada “Yes!” chant e foi um momento delicioso para qualquer fã da modalidade.
Quanto ao combate, não arrancou da melhor forma para o ainda comissário do SmackDown Live!. Depois de um ataque pelas costas de Owens e Zayn, ainda antes do início do combate, Bryan sofreu um powerbomb na borda do ringue, precisando de receber assistência.
Assim, Shane viu-se numa posição complicada, mas, mesmo assim, deu ordens para que começasse o combate.
Mais tarde, Daniel Bryan recuperou e mostrou-nos que parece não ter perdido nem um segundo de ação. Uma exibição brilhante, por parte do regressado lutador, que deixa todo o Universo da WWE em pulgas pelos capítulos seguintes.
Nia Jax venceu Alexa Bliss (c) (WWE Raw Women’s Championship)
Esperava que este fosse um combate curto, onde Nia iria destruir Alexa e vencer o título. Estava enganado, e ainda bem!
Após muitos e longos meses, a WWE decidiu finalmente apostar em Nia Jax, que me impressionou imenso, no último ano.
Numa rivalidade muito emocional e bem construída, as duas lutadoras apresentaram um grande nível durante o combate, que acabou por ser bem mais longo do que o esperado.
Ficarei, agora, à espera da desforra da Godess e dos próximos capítulos nesta rivalidade.
AJ Styles (c) venceu Shinsuke Nakamura (WWE Championship)
O “dream match”. Sem dúvida, o combate mais esperado de toda a noite.
Apesar de ter sido dos combates mais longos do evento, o combate foi… curto. Mal aproveitado, diria.
O ritmo do combate foi maioritariamente lento, marcado pelas ofensivas alternadas dos lutadores, que souberam respeitar-se e, acima disso, respeitar o público.
Quando o combate finalmente começou a ganhar alguma velocidade e entrar naquele ponto de suster a respiração, AJ Styles aplicou um Styles Clash impressionante e derrotou o vencedor do Royal Rumble deste ano, Shinsuke Nakamura.
Contudo, a maior surpresa surge mesmo depois do final do combate, quando, num momento aparentemente de respeito mútuo entre os lutadores, Nakamura ajoelhou-se para entregar o título a AJ e aplicou-lhe um golpe baixo, numa heel turn completamente inesperado, que deixou a arena completamente perplexa.
Por estas razões, acredito que teremos uma segunda ronda no próximo pay-per-view da WWE, Backlash, onde esperarei um autêntico clássico entre estes dois lutadores.
Braun Strowman e Nicholas derrotam Sheamus e Cesaro (c) (WWE Raw Tag Team Championships)
Numa altura em que pensava já ter visto de tudo, eis que surge o momento mais inédito e, ao mesmo tempo, estranho da noite.
Durante as últimas semanas, Strowman foi escondendo a identidade do seu parceiro de equipa para o embate na WrestleMania, deixando mesmo essa revelação para a própria noite.
Sinceramente, esperava o regresso de um lutador da WWE, que fosse de estatura baixa, como Rey Mysterio, por exemplo. Admito ter sido genuinamente surpreendido, quando Strowman passeou por entre o público e escolheu um jovem rapaz de 10 anos, para ser seu parceiro de equipa.
Percebo o porquê deste combate ter sido marcado para preceder o “verdadeiro” main event do espetáculo. Tinha como intuito preparar o público, relaxá-lo antes do embate brutal. Mas a verdade é que o combate não surtiu esse efeito, especialmente porque o público já se mostrava muito desgastado pelo espetáculo, que já decorria há largas horas.
Para a história, fica o dia em que Braun Strowman venceu os Raw Tag Team Championships com Nicholas, uma criança de 10 anos, que estava no público.
Brock Lesnar venceu Roman Reigns (WWE Universal Championship)
Andou a WWE três anos a preparar Roman Reigns para este combate, para fazê-lo perder…
Desde o primeiro embate entre Lesnar e Reigns, na WrestleMania 31, na altura interrompido pelo cash-in de Seth Rollins, que a WWE remodelou a imagem do Big Dog. Uma reconciliação com Seth Rollins e Dean Ambrose, que marcou o regresso dos Shield, para conquistar o apoio do público. A brutal rivalidade com Braun Strowman para tornar Roman credível suficiente para enfrentar The Beast. E mesmo assim perdeu.
É um cenário que não se percebe. Depois de toda esta construção, a WWE mantém o título nas mãos de Brock Lesnar, que tem tido um reinado terrível, devido a esta estupidez de ser part-timer. Sim, o Lesnar é intenso. É brutal. É dominante. Mas o Lesnar luta 4x ano, apenas nos pay-per-view mais importantes. Sou totalmente contra este tipo de reinados.
Quanto ao combate em si, foi, honestamente, dos piores main events da história da WrestleMania.
E isto aconteceu por várias razões: em primeiro lugar, o main event deveria ter sido de AJ Styles e Nakamura; em segundo lugar, o público já estava demasiado cansado do show e, assim, mostrou um desinteresse nunca visto num main event de uma WrestleMania; e, em terceiro lugar, foi mais do mesmo: todas as lutas do Brock Lesnar são o mesmo. São agressivas e brutas. Brock atira o adversário de um lado para o outro, como se fosse um boneco de trapos e depois vence ao aplicar o F5. É um filme que já vimos demasiadas vezes e já estamos todos um poucos fartos de ver.
Roman Reigns até podia nem ter o apoio de todo o público, mas era o lutador certo para acabar com este péssimo reinado de Brock Lesnar.
Foi o pior final possível para uma WrestleMania que estava a ser francamente positiva. Sabes que o combate foi desastroso quando o público prefere gritar: “CM Punk!” e “This is Awful!”, em vez de prestar atenção ao que se está a passar no ringue.
No final, The Miz é quem tem razão, quando diz que tornou o Intercontinental Championship o título mais prestigiado da WWE…
Em suma, penso que o balanço geral da WrestleMania 34 é muito positivo. A edição deste ano foi rica em momentos históricos, em combates de grande qualidade e em surpresas inesquecíveis.
Contudo, espero que fique a lição: às vezes menos é mais e a WrestleMania 34 foi claramente vítima do extenso cartaz que apresentou.
AUTORIA
Num universo tão vasto como o nosso, quantas são as pessoas que são açorianas (micaelenses), ouvem música todos os dias, não falham um jogo do Sporting, leem livros e veem wrestling? Algumas, reconheço. Mas a pessoa que está a redigir este pequeno texto introdutório chama-se André Medina, tem 20 anos e, há dois anos, embarcou na maior aventura da sua vida.
Sair de casa nunca é fácil, e fazê-lo quando não se sabe cozinhar nem dobrar roupa é ainda mais complicado. Mas, muitas saladas de atum, pizzas do Pingo Doce e noodles depois, aqui estou eu: vivo e no último ano do curso de Jornalismo.
E, em jeito de recompensa por ter sobrevivido a estes duros anos, tive o privilégio de poder ser o primeiro editor da secção de Deporto na MAGAZINE. Eu, uma pessoa que ainda não sabe dobrar uma t-shirt como deve ser.
De qualquer forma, espero poder retribuir a confiança depositada em mim e quero que todos se sintam bem-vindos a esta escola e a este magnífico projeto, que é a nossa querida ESCS MAGAZINE.