Triplo Salto
Há dias li um artigo em que era dito que os professores de Educação Física estavam descontentes com o desinvestimento na disciplina em prol de outras como a Matemática ou o Português. O Governo retirou 30 minutos de carga horária semanal de Educação Física (de 180 minutos passou-se para 150) e a disciplina não conta para a média. Não sei exactamente quando é que estas medidas entraram em vigor (se calhar, o facto de não ter ido procurar é causado pelo sedentarismo), mas são as que causam mais revolta.
Eu consigo perceber a indignação dos professores. Talvez se tivéssemos mais horas de Educação Física conseguíssemos correr com a crise e abater as gorduras do Estado. No entanto, o Desporto não augura apenas coisas positivas. Devo recordar, por exemplo, que as aparições públicas de Sócrates a fazer jogging ficaram famosas e veja-se no que deu.
Parece-me evidente que a Educação Física não deve ser um factor capaz de deixar alunos fora de cursos como Economia ou Medicina. Enquanto todas as outras disciplinas de determinada área, ainda que não sejam específicas, contribuem para a formação de um aluno nessa mesma área, Educação Física não tem esse papel. Dois alunos com 17 e picos de média não podem ser desempatados pelo impacto da nota de Educação Física na média para entrar no curso de Arquitectura, por exemplo. Não faço especial questão de que a minha casa seja projectada por um arquitecto extremamente flexível, rápido ou com uma apetência para os triplos no basquetebol invulgar.
A Educação Física, ainda assim, tem o seu espaço. O dever da Educação Física é o de inculcar valores de cuidado com a saúde tão importantes como o combate ao sedentarismo, uma alimentação saudável ou hábitos de higiene. O facto de os alunos estarem numa disciplina que não conta para a média só prejudica a sua postura se os professores não souberem passar a mensagem da função da disciplina. Tal como acontece com todas as outras que, mesmo contando para a média, não têm comportamentos brilhantes em muitos dos casos.
Esta é uma opinião de alguém que adora Desporto e que, apesar de nunca ter conseguido os mínimos para estar presente em Olimpíadas, sempre teve boas notas a Educação Física.
Gostaria apenas de recordar aqueles que são contra aquilo que eu disse que o Cristiano Ronaldo ainda não se retirou da corrida à Presidência da República. No entanto, talvez fosse melhor votarem no Nélson Évora. Sempre podia ser que ele conseguisse um triplo salto e as agências de notação financeira retirassem Portugal da categoria “lixo”.
AUTORIA
O Francisco Mendes é licenciado em Jornalismo e pauta a sua vida por duas grandes paixões: Benfica e corridas de touros. Encontra o seu lado mais sensível na escrita de poesia, embora se assuma como um amante da ironia e do sarcasmo. Aos 22 anos é um alentejano feliz por viver em Lisboa.