WWE Super Show-Down – Um live event disfarçado de PPV
A WWE deslocou-se até Melbourne, Austrália, para o Super Show-Down, um live event disfarçado de PPV, que acabou por soar a uma espécie de WrestleMania fora de portas, muito por culpa dos mais de 70.000 fãs da modalidade presentes nas bancadas do Melbourne Cricket Ground.
Dito isto, o PPV (vamos chamar-lhe assim) não foi incrível, mas também não foi horrível. Foi razoável. A WWE manteve-se fiel a uma das palavras que consta na sua sigla (entertainment) e conseguiu proporcionar uns momentos bem interessantes ao longo da noite.
The New Day (Kofi Kingston & Xavier Woods (c) derrotaram The Bar (Sheamus &Cesaro (SmackDown Tag Team Championship)
Neste combate, tivemos a chance de ver uma dupla menos comum no trio dos New Day: Kofi e Xavier. A agilidade e velocidade dos dois contrastou e encaixou bem na força e na técnica de Sheamus e Cesaro.
Percebe-se a ideia da WWE ao apostar neste combate. É uma aposta segura, com bons resultados quase assegurados. Ambas as equipas já nos proporcionaram combates incríveis, em ocasiões anteriores. E por isso fica aquela sensação de que este combate poderia ter sido melhor. Os lutadores pareceram ter pouco tempo para poder abrir o livro e tornar este combate mais memorável.
No final, manobra de equipa interessante de Kofi e Xavier, que, não utilizando nenhum dos seus finishers, conseguiram manter os títulos de campeões Tag Team.
Após quatro anos no topo da divisão tag team, os New Day mostram ainda excelentes sinais de vida e prometem ficar por perto mais uns bons tempos. Resta apenas saber qual será a próxima equipa a chegar-se à frente.
Charlotte Flair derrotou Becky Lynch (c) (por desqualificação) – (WWE Smackdown Women’s Championship
Uma das melhores rivalidades da WWE nos últimos tempos. O combate entre as duas lutadoras correspondeu às enormes expectativas.
Combate técnico e físico, com ambas as lutadoras a mostrarem que se conhecem na perfeição, com contra-ataques e respostas quase sempre consecutivas.
Mas a WWE já não é a WWE sem fazer uma má decisão na construção de qualquer rivalidade. Desde o seu turn, Becky Lynch tem feito um jus literal ao seu lema “straight fire”. A lutadora irlandesa tem andado imparável, com uma atitude de lutadora de rua. Rebelde.
Porém, no final deste combate, quando Becky Lynch tentou escapar com o seu título, forçando uma derrota por contagem do árbitro, Charlotte trouxe-a para o ringue e aplicou-lhe o seu Figure Eight, que levou Becky a usar o seu cinto como arma, sendo desclassificada.
A minha questão é: Porquê?
Se Becky Lynch adotou esta nova identidade de guerreira destemida, sem medo de nada, nem ninguém, por que haveria, então, de usar as regras do jogo a seu favor e usar a saída mais cobarde do combate?
É que a falta de coerência acentuou-se logo após o final do combate, quando Becky se dirigia para os bastidores, Charlotte voltou a tentar trazer a campeã para o ringue, num segmento em que Becky volta a mostrar a sua agressividade desmedida e ficou por cima.
Esta decisão só descredibiliza a nova gimmick da campeã. Se a WWE queria uma vitória de Charlotte, mas por desclassificação, bastava fazer um ataque descontrolado de Becky, não havendo outra opção para o árbitro senão a desclassificação.
Apesar deste final algo descabido, foi um avanço interessante na rivalidade, que deverá conhecer o seu final capítulo no próximo PPV da WWE, Evolution, o primeiro PPV exclusivamente composto pelo talento feminino da companhia.
John Cena e Bobby Lashley derrotaram Kevin Owens e Elias
Sendo um live event disfarçado de PPV, é normal que este tipo de combates aconteça. Nos live events é muito comum vermos combates marcados exclusivamente para aquela ocasião, sem grande nexo ou história que origine tais disputas em ringue.
Apesar de Bobby Lashley ter tido algumas picardias com Kevin Owens e Elias nas últimas semanas, a inclusão do regressado John Cena parece ser descabida. E é. Mas um evento destes não poderia passar sem a presença de um dos maiores (senão mesmo o maior) nome da companhia.
O combate foi bom, no geral. Owens e Elias funcionaram muito bem como equipa, evitando, durante quase todo o combate, que Lashley fizesse tag com Cena.
Mas, quando o “powerhouse” o fez, foi xeque-mate. Cena entrou, fez todos os seus típicos golpes, com a inclusão de um novo (e péssimo, diga-se de passagem) finisher, o Sixth Move of Doom, e venceu o combate.
Nada demais a registar, apenas um combate que cumpriu o seu propósito: relaxar e entreter o público.
The IIconics (Peyton Royce e BillieKay) derrotaram Asuka e Naomi
Ser uma lutadora americana e poder lutar perante o público da tua terra natal não é assim tão complicado. Ser uma lutadora britânica ou canadiana na WWE e lutar perante o teu público é mais complicado, mas também não é nada incomum. Agora, ser uma lutadora australiana e ter a chance de atuar perante o teu público pela WWE é uma situação excecional e, por isso, acho que a WWE esteve bem em dar este momento às lutadoras da casa.
Numa rivalidade com Asuka e Naomi, que se tem arrastado nos últimos tempos no SmackDownLive!, Peyton e Billie apresentaram um bom nível e deram uma boa performance aos seus conterrâneos.
Um momento que foi bonito de se ver e que foi bem merecido para uma equipa como as IIconics, que poderão ter um papel de grande destaque numa futura divisão de equipas feminina, que eu acredito que não tardará em ser apresentada.
AJ Styles (c) derrotou Samoa Joe – No Count-out, No Disqualification Match (WWE Championship)
Um dos melhores combates da noite. AJ Styles, contra as minhas expectativas, vai dar continuidade a este longo e brilhante reinado que tem tido como WWE Champion. Mensagem clara da WWE, que mostra todo o seu apoio e confiança no “PhenomenalOne”.
Esta tem sido uma das rivalidades que mais me têm cativado, ultimamente. Tornou-se profunda e demasiado pessoal, chegando mesmo a envolver a família de AJ Styles.
O combate foi incrivelmente físico do início ao fim, com momentos de intensidade também elevados. Quando parecia que Samoa Joe já caminhava para a conquista do seu primeiro título, AJ Styles aproveitou uma lesão que Joe contraiu depois de furar uma mesa para focar toda a sua ofensiva na perna esquerda. Pouco depois, Joe não resistiu aos danos causados por AJ e, quando estava preso no Calf Crusher, não teve outra opção senão desistir.
Contudo, há um ponto negativo que não poderia deixar de realçar. Num combate sem desqualificações, foram apenas utilizadas, salvo erro, uma cadeira de aço e uma mesa. Nada mais. Foi a parte mais dececionante do combate, a meu ver. Deixou bastante a desejar, nessa vertente.
Porém, o combate não ficou propriamente a perder por isso. Foi um bom final para uma rivalidade que tem sido muito bem construída, até porque agora já sabemos quem será o próximo candidato ao título, mas já lá vou.
Ronda Rousey e TheBellaTwins (Brie e NikkiBella) derrotaram TheRiottSquad (Ruby Riott, Liv Morgan e Sarah Logan)
Mais um combate sem grande interesse, que tinha como principal objetivo acalmar os ânimos depois do embate entre AJ e Samoa. O combate não foi mau, de todo. Ronda Rousey continua a mostrar a sua evolução dentro de ringue e conseguiu uma nova vitória.
Em primeiro lugar, há que destacar o facto de Brie Bella ter conseguido perdurar um combate inteiro sem um botch grave ou ter magoado seriamente o adversário.
Em segundo, é preciso realçar a forma original como Rousey, que tardou para entrar no combate, conseguiu a vitória, com um DoubleArmbar a Liv Morgan e Sarah Logan.
Foi um combate sem grandes surpresas, com um resultado previsível. Aliás, diria que a maior surpresa foi mesmo a Nikki não ter feito o heelturn naquela mesma noite, ao atacar Rousey. Parece que a WWE vai dar mais uns dias à “amizade” de Ronda e das Bellas Twins.
Bobby Murphy derrotou Cedric Alexander (c) (WWE Cruiserweight Championship)
Facilmente a maior surpresa da noite.
Também a lutar perante o seu público, Bobby Murphy conseguiu fazer a arena explodir de alegria ao derrotar Cedric Alexander e tornar-se no novo CruiserweightChampion.
Um grande combate, que representou bem aquilo que é o 205 Live; spots bem executados, acrobacias para todos os gostos e intensidade do início ao fim.
Com uma interação muito fortedo público, o combate acabou por se tornar num dos momentos mais marcantes de toda a noite.
The Shield (Roman Reigns, Seth Rollins e Dean Ambrose) venceram Braun Strowman, Drew McIntyre e DolphZiggler
Admito que não estava muito vendido a esta rivalidade, mas fui surpreendido pela qualidade do combate. A narrativa foi incrível.
Para fomentar o ambiente de desconfiança e incerteza sobre a continuidade de Dean Ambrose nos Shield, que tinha sido o tema central da rivalidade durante o último mês, Roman Reigns, de forma acidental, atingiu o “Lunatic Fringe” com um Superman Punch. Momentos depois, quando Strowman, Ziggler e McIntyre rodeavam o ringue, numa manobra típica dos Shield, Ambrose segurou um dos lados do ringue e deu a ideia de que se ia virar aos seus companheiros. Mas Ambrose acabou por se manter fiel à sua stable e sacrificou-se uma vez mais pela equipa, sendo ele próprio a arrecadar a vitória com um DirtyDeeds sobre Ziggler.
Também quero destacar o timing perfeito do Spear de Roman Reigns, que, quando Strowman se preparava para abalroar Dean Ambrose, acabou por enviar o “Monster Among Men” contra uma das barreiras de segurança.
Daniel Bryan derrotou The Miz (Number #1 Contender pelo WWE Championship)
Para mim, a maior desilusão do PPV.
A rivalidade de Miz e Bryan tem sido assente em frases feitas, que ambos os lutadores não se fartavam de repetir todas as semanas. Desde o “punch you in the face” ao “you’re nothing more than a coward”. A rivalidade ganhou uma nova faceta neste PPV, quando Miz afirmava que Daniel Bryan jamais o venceria enquanto não abandonasse os seus valores morais e “roubasse”.
E foi isso mesmo que Daniel Bryan fez. Quando finalmente nos vimos livres de Brie Bella e Maryse; quando havia uma oportunidade pelo título de AJ Styles, a WWE decide fazer um combate que nem cinco minutos durou.
Numa altura em que Miz ensaiava o Skull Crushing Finale, Daniel Bryan fez um roll-up, apanhou Miz desprevenido e carimbou a sua presença no CrownJewel, próximo PPV da WWE, onde defrontará AJ Styles pelo WWE Championship.
Não estou, de todo, desapontado com o resultado e até estou entusiasmado para esse combate! Mas não posso deixar de ficar dececionado com a oportunidade que a WWE perdeu. Este combate tinha tudo para ser um autêntico clássico.
Triple H derrotou The Undertaker (No Disqualification Match)
O regresso de uma Era.
TheUndertaker e Triple voltaram a defrontar-se cinco anos depois do clássico Hell in a Cell, na WrestleMania 28 – Fonte: WWE
Pareceu-me que este era um daqueles combates marcados apenas para a ocasião. Sem grande contexto ou história. Mas rapidamente isso mudou. Começou a ser feita promoção do combate. Chamou-se Shawn Michaels e Kane para o barulho. E, subitamente, temos main event.
Ver este tipo de lutadores deixa-me sempre um sabor agridoce na boca. Por um lado, ver lutadores como Triple H ou Undertaker no ringue, com HBK e Kane a ver de fora, deixa-me a babar da boca e com os olhos a cintilar. Por outro, este tipo de combates também me deixa uma certeza: ninguém é imortal.
Fora do ringue, Triple H e Undertaker são duas das maiores lendas da história da WWE, que já fizeram literalmente tudo o que havia para fazer e ganharam tudo o que havia para ganhar na companhia. Naquela noite, dentro do ringue, Triple H e Undertaker parecem dois homens de meia idade a tentar replicar o fenómeno que eram há uma década.
Não obstante tudo isso, o combate foi excelente. Tirando um ou outro momento em que se percebeu a “ferrugem” dos dois lutadores, notou-se todo o esforço e suor que deixaram no ringue para dar o melhor espetáculo possível ao público, que o soube reconhecer. Aliás, esse foi para mim o melhor momento do combate (e de todo o PPV). Não sei precisar bem quando, mas há uma altura em que os dois lutadores estão caídos no ringue, completamente exaustos, e o público levantou-se para uma enorme ovação, reconhecendo que este combate não é, de todo, parecido com o clássico da WrestleMania 28, mas que, mesmo assim, “they still got it”.
Com uma interferência excessiva de Shawn Michaels, Triple H conseguiu, finalmente, obter uma vitória sobre o “Deadman”. Mais uma derrota para manchar o legado incrível que criou na empresa, mas que neste caso faz sentido, pois permitiu um maior equilíbrio na rivalidade histórica dos dois lutadores.
No final do combate, os Brothers of Destruction atacaram os DX, dando vida aos rumores que circulavam sobre um eventual tagteam match no CrownJewl.
Agora a única questão é: “Are you ready?”
Artigo corrigido por Gonçalo Taborda
AUTORIA
Num universo tão vasto como o nosso, quantas são as pessoas que são açorianas (micaelenses), ouvem música todos os dias, não falham um jogo do Sporting, leem livros e veem wrestling? Algumas, reconheço. Mas a pessoa que está a redigir este pequeno texto introdutório chama-se André Medina, tem 20 anos e, há dois anos, embarcou na maior aventura da sua vida.
Sair de casa nunca é fácil, e fazê-lo quando não se sabe cozinhar nem dobrar roupa é ainda mais complicado. Mas, muitas saladas de atum, pizzas do Pingo Doce e noodles depois, aqui estou eu: vivo e no último ano do curso de Jornalismo.
E, em jeito de recompensa por ter sobrevivido a estes duros anos, tive o privilégio de poder ser o primeiro editor da secção de Deporto na MAGAZINE. Eu, uma pessoa que ainda não sabe dobrar uma t-shirt como deve ser.
De qualquer forma, espero poder retribuir a confiança depositada em mim e quero que todos se sintam bem-vindos a esta escola e a este magnífico projeto, que é a nossa querida ESCS MAGAZINE.