General iraniano morto após ataque dos Estados Unidos
O general Qassem Soleimani morreu na sequência de um ataque aéreo dos Estados Unidos na sexta-feira. Washington já confirmou que Donald Trump deu ordem para a investida. As reações internacionais temem a escalada de tensões e a iminência de um conflito de larga escala entre os países.
O general iraniano Qassem Soleimani, líder da Força Al-Quds, foi morto durante um ataque aéreo norte-americano à saída do aeroporto de Bagdad, no Iraque. Durante a ofensiva também morreu o “número dois” da Mobilização Popular iraquiana, Abu Mehdi al-Muhandis.
Qassam Soleimani encontrava-se no Iraque para se reunir com líderes de milícias do país, e ambos os militares, assim como as suas comitivas que seguiam em automóveis, foram mortos pelo disparo dos mísseis americanos. Segundo a Al Jazeera, o ataque fez pelo menos 8 vítimas.
O Departamento de Defesa dos Estados Unidos publicou uma declaração onde confirmou que o ataque ocorreu por ordem de Donald Tump. A ofensiva teve como objetivo “dissuadir o Irão de planear futuros ataques “e proteger norte-americanos, segundo o mesmo comunicado.
O Pentágono culpa também o general pelas mortes de milhares de americanos e iraquianos na região, e de o mesmo estar a planear novas investidas. Na declaração, o Departamento de Defesa lembra que os Estados Unidos consideram a Guarda Revolucionária Islâmica, da qual faz parte a Força Al-Quds, uma organização terrorista.
Donald Trump falou à imprensa durante uma ação de campanha em Miami sobre ataque em Bagdad. O Presidente norte-americano garantiu que o objetivo da sua Administração é manter a paz entre as nações, mas que a defesa da segurança dos cidadãos americanos é uma prioridade.
“Agimos ontem à noite com a intenção de impedir uma guerra, não de provocar uma.”, disse Trump aos jornalistas.
Após o anúncio da morte do general iraniano, Teerão manifestou-se imediatamente ao declarar três dias de luto nacional e prometeu uma forte resposta à decisão de Washington. O Presidente do Irão garantiu que “o martírio de Soleimani cimenta a decisão do Irão de resistir ao expansionismo americano e defender os nossos valores islâmicos”.
O líder supremo do Irão, Ayatollah Ali Khamanei, afirmou que a “vitória definitiva aguarda os guerreiros da guerra santa”. O Ministro das Relações Externas, Mohammad Javad Zarif, escreveu no Twitter que o “ato de terrorismo internacional” dos EUA é uma “escalada disparatada” das tensões internacionais.
Com o ataque dos Estados Unidos morreu também “número dois” da Mobilização Popular iraquiana, Abu Mehdi al-Muhandis. O Primeiro Ministro iraquiano censurou o ataque, dizendo que “o assassinato de um comandante militar [do país] é uma agressão ao Iraque, enquanto estado, ao seu governo e às suas pessoas”.
A líder dos democratas na Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, também emitiu um comunicado onde revelou que o Congresso não foi informado previamente das intenções de Donald Trump. Pelosi exigiu que a administração coloque o órgão executivo a par do assunto e o informe sobre futuras decisões.
Joe Biden, candidato às eleições norte-americanas, também está preocupado com as intenções da Administração Trump. O candidato publicou uma declaração no Twitter onde afirmou temer o pior pela falta de “disciplina e visão a longo prazo” que esta tem demonstrado durante o mandato. Mesmo assim, espera que a administração tenha pensado nas diversas consequências desta decisão. Biden diz que, apesar do general merecer “ser levado à justiça” pelas mortes e terror que causou, o maior conflito no Médio Oriente está no horizonte.
As Forças Al-Quds e o General Qassem Soleimani
Qassem Soleimani tinha 62 dois anos e era desde 1998 o comandante das Forças Al-Quds, que pertence à Guarda Revolucionária Islâmica iraniana (IRGC).
A IRGC foi criada há 40 anos, e 1979, para proteger o sistema islâmico do país e é uma das maiores forças políticas, económicas e militares do Irão. A organização é composta por 150,000 membros distribuídos por terra, pela marinha e força aérea. Os membros nos lugares mais elevados da hierarquia da IRGC também aconselham o líder supremo do país, Ayatollah Ali Khamanei.
Na composição da IRGC destacam-se as Forças Al-Quds, que agem a nível da política externa, sendo responsáveis pelo aconselhamento a nações aliadas do Irão e fornecimento de armas e dinheiro a esses países. Segundo a BBC, estas também operam em ações militares, como por exemplo na guerra da Síria, onde apoiaram o regime de Bashar Al-Assad e outras mílicias; também no Iraque apoiaram a luta contra o Estado Islâmico.
O general Qassem Soleimani era admirado no Irão enquanto militar pelo desempenho das Forças Al-Quds nestes dois conflitos. Em anos mais recentes, o general aparecia frequentemente ao lado do líder supremo do Irão e discursava em diversas cerimónias políticas.
Qassem Soleimani era tido em boa conta no seu país, mas também noutras regiões do Médio Oriente.
“Soleimani foi um dos líderes militares iranianos que teve um papel importante no apoio da resistência Palestiniana.”, afirmou o Hamas, grupo palestiniano que administra a Faixa de Gaza, em comunicado após o anúncio da morte do general.
Reações dos países ao ataque dos Estados Unidos
A nível internacional, vários países alertaram para as consequências deste ataque. O Ministro dos Negócios Estrangeiros russo, citado pela agência de notícias TASS, afirmou que a decisão dos Estados Unidos não ajuda a resolver os problemas entre os países.
“A decisão de Washington acarreta graves consequências para a paz regional e para a estabilidade. Somos guiados pela premissa de que este tipo de ações não conduzem a uma solução para os problemas que se têm vindo a acumular no Médio Oriente. Pelo contrário, levam a uma escalada de tensões na região”, afirmou Sergei Lavrov.
Também a secretária de Estado dos Assuntos Europeus, Amélie de Montchalin, também mostrou temer o “crescente equilíbrio de poder” entre ambos os países. “Acordamos num mundo mais perigoso”, disse à radio francesa RTL.
No Reino Unido, o Ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Dominic Raab, disse, num breve comunicado, que um futuro conflito não tem interesse para o país.
O Primeiro Ministro de Israel manifestou uma posição totalmente diferente dos restantes países ao apoiar a decisão de Trump. Benjamin Netanyahu sublinhou o direito à autodefesa que os Estados Unidos têm, e acusou Soleimani da morte de milhares de inocentes e de americanos.
“O Presidente Trump merece todo o crédito por ter agido rápida, enérgica e decisivamente. Israel apoia os Estados Unidos na sua justa luta pela paz, segurança e autodefesa.”, afirmou em comunicado.
A tensão entre Washington e Teerão
A tensão entre Washington e Teerão tem vindo a aumentar desde que os Estados Unidos abandonaram, em maio de 2018, o Plano Conjunto de Ação assinado em 2015. O acordo limita a produção de armas nucleares por parte do Irão e foi assinado pelos EUA, China, Rússia, Reino Unido, França e a Alemanha.
A República Islâmica do Irão aceitou as condições em troca de não serem impostas sanções internacionais. Os Estados Unidos desistiram do acordo, acusando o Irão de incumprimento. Desde aí, Washington tem vindo a impor várias sanções ao governo iraniano.
Em abril de 2019, os Estados Unidos classificaram a IRGC como “organização terrorista”. Washington acusou-a de planear ataques terroristas em diversos países e de apoiar outras organizações consideradas também terroristas pelos Estados Unidos.
As tentativas de abertura ao diálogo têm falhado até agora, já que os países recusam negociar um com o outro.
Mais recentemente, na última semana, dois acontecimentos continuaram a aumentar a tensão entre ambas as partes. Primeiro, a morte de um empreiteiro norte-americano no Iraque durante um ataque de mísseis. Os Estados Unidos atribuíram a autoria da investida a uma milícia da Mobilização Popular iraquiana, apoiada pelo Irão.
De seguida, na véspera de ano novo, uma manifestação chegou às portas da embaixada dos Estados Unidos, em Bagdad. Segundo a Al Jazeera, os manifestantes, membros e apoiantes da mesma milícia iraquiana, tentaram forçar entrada e vandalizar o espaço.
Este aumento de tensão culminou com a morte do general Qassem Soleimani.