Joana Góis: Trabalho na Emirates, vida no Dubai, Instagram e planos para o Futuro
Joana Góis é de Coimbra, tem 27 anos e é comissária de bordo na Emirates. A viver no Dubai, partilha o seu tempo entre os aviões e o Instagram, plataforma na qual conta com cerca de 71 mil seguidores. O seu trabalho já a fez passar por 63 países, 123 cidades e muitas aventuras. Contou-nos tudo sobre o seu percurso.
1- Que formação profissional tens e como surgiu a ideia de te candidatares a um trabalho como comissária de bordo?
Tirei o curso de Comunicação Social, na Escola Superior de Comunicação Social de Coimbra, e nunca trabalhei na área. Fiz estágio curricular na TVI para terminar o curso, no terceiro ano, e, entretanto, comecei a mandar currículos, mas infelizmente não consegui arranjar trabalho na área que queria. Eu gostava de ter trabalhado em televisão, em entretenimento. Depois disso, comecei a trabalhar na Primark, em Coimbra. A ideia de me candidatar à Emirates foi um bocadinho ao calhas. Eu nunca tinha voado antes, nunca tinha saído do país, nunca tinha entrado num avião. Então, como tinha uma amiga que na altura queria ser hospedeira de bordo e eu queria sair do país e trabalhar no estrangeiro, candidatei-me e, por alguma razão, acabei por ficar.
2 – Como foi o procedimento, desde a candidatura até seres aceite na Emirates?
Eu soube que havia um open day em Lisboa. Na altura, o recrutamento da Emirates era feito a partir de open day. Então, apanhei um expresso e fui até Lisboa. Nesse open day, entregas o teu currículo, fazes uns exercícios de grupo, fazes um teste de inglês e passas para um processo de entrevista final. Eu passei em tudo. Passado dois meses, recebi a Golden Call, que é a chamada a dizer que foste aceite.
3 – Quando começaste a trabalhar na Emirates tiveste de te mudar logo para o Dubai?
Para trabalhar na Emirates é obrigatório morar no Dubai. Eles tratam de todo o processo: moro aqui, com casa paga, despesas pagas, tudo pago. Passado um mês de receber a chamada a dizer que fui aceite, enviei as fichas médicas e fiquei com tudo tratado. Soube qual era o lugar onde ia ser a minha casa, porque nós temos várias acomodações de cabin crew no Dubai, e depois eles trataram do processo. E pronto, fui até Lisboa, fiz as minhas malas e tive o voo para vir para o Dubai.
4 – Depois de teres emigrado para o Dubai, como foi o processo até começares a voar?
Quando vens para o Dubai passas por um processo de dois meses de curso intensivo, oito horas por dia, como se fosse um trabalho a full time. Aprendes coisas como em que tipo de avião é que vais voar, sobre a segurança e sobre coisas médicas que podem acontecer. Tens módulos durante esses dois meses e estudas durante todos os dias da semana, que no Dubai é até quinta, pois sexta já é fim-de-semana. Então, tens esses dois meses em que estás a aprender tudo, tudo, tudo e depois sim, podes conseguir voar.
5 – Quais são as principais diferenças entre viver no Dubai e viver em Portugal?
Viver no Dubai é muito caro. O facto de eles nos darem alojamento e pagarem-nos as despesas facilita muito. Em relação a, por exemplo, colocar gasóleo no carro, é muito barato, mas se quiseres comprar coisas com a qualidade que tens em Portugal ou na Europa, como comida, ou ir ao restaurante… em Portugal consegues comer por 15€, aqui por 15€ dá para comeres um hambúrguer sem bebida, então é caro morar aqui. Quando vou para Portugal ou para a Europa tento fazer as minhas comprinhas de supermercado todas lá.
O Dubai é muito liberal e não é assim muito restrito com regras. É um estado muito internacionalizado e, em termos de localização estratégica, está muito bem, está perto da Europa, da Austrália e da Ásia. Então, o Dubai, em termos de localização no mundo, é muito bom. E eu já estou habituada. No início, senti um bocadinho mais diferença, mas não é um choque muito grande. Claro que não vês pessoas aos beijos na rua como em Portugal, mas não é uma coisa de que tenha saudades, para mim é uma questão de respeito. A maior parte da população que vive aqui não é do Dubai, então eles têm as regras deles e nós temos de nos adaptar às regras. Acho que é um país que te acolhe super bem.
6 – Qual é a pior e a melhor coisa de ser comissária de bordo?
A melhor coisa de ser hospedeira de bordo é viajar por vários países, conhecer novas culturas. Consegues ter uma bagagem gigante em relação a tudo o que se passa e ganhas uma interpretação pessoal e uma maneira de lidar com pessoas muito maior do que se não viajasses tanto como nós. Aprendes a lidar com pressão, porque tens várias situações a bordo, coisas que acontecem, com culturas diferentes. Tens de te orientar e às vezes a minha verdade e aquilo que é normal para mim não é normal para os outros, então aprendes muito sobre interação com o público, com pessoas.
A pior coisa talvez seja o jet lag, porque, trabalhando numa companhia internacional, podes voar hoje às oito horas da manhã e amanhã tens de voar às duas horas da manhã. É muita diferença.
7 – Relativamente às redes sociais, contas com mais de 71 mil seguidores no Instagram. Como iniciaste esse percurso?
Quando eu soube que ia entrar na Emirates, comecei um blogue em português. Nunca tinha saído do país, nunca tinha viajado, não tinha passaporte, então criei o meu blogue em português para acompanhar e para mostrar às pessoas, desde fazer a mala, o que ia trazer, quais eram as minhas expetativas, como correu o colégio, etc… Depois, quando vim para o Dubai, continuei a escrever em português. Morava com duas raparigas que falavam só inglês e eu não falava português em casa nem no colégio, então queria, de certa forma, continuar conectada ao meu país e criei esse blogue. No entanto, passado algum tempo comecei a morar com uma brasileira, que se tornou a minha melhor amiga aqui no Dubai, então já não sentia essa necessidade tão grande de escrever em português, porque queria aproveitar o tempo que estava em casa com ela para falar em português. Então, o que é que eu resolvi fazer? Tinha conta no Instagram como toda a gente tem, em privado, só para os meus amigos, e decidi abrir a conta para público. Comecei a ver que, quando eu publicava o uniforme ou quando publicava alguma coisa relacionada com o meu trabalho, as pessoas gostavam, tinha muitos likes e tinha mais seguidores. Então, desde há três anos para cá que tento publicar quase todos os dias para manter as pessoas conectadas. É um trabalhinho que eu adoro fazer, porque me lembra do meu curso, de comunicação social, que é aquilo de que gosto, porque foi isso que estudei.
8 – A tua carreira como comissária de bordo impulsionou o teu trabalho como criadora de conteúdos?
Sim, eu acho que impulsionou muito, porque as pessoas que seguem a minha conta conseguem viajar um bocadinho com as fotografias, com as coisas que eu faço, com as coisas que eu mostro, então é esse o meu objetivo: mostrar os países, mostrar as culturas, mostrar onde podes ir, o que podes comer. Eu gosto muito de pedir dicas a pessoas de certos países. Por exemplo, vou amanhã para a Grécia e aí pergunto “alguém daqui dos meus seguidores tem alguma dica de onde devo comer? Do que devo ir ver? E fazer?”. Eu gosto muito de poder fazer o meu trabalho como criadora de conteúdos em diversas partes do mundo e contar, assim, com a ajuda do público que me vê, que está sempre do outro lado e que me acompanha para me ajudar.
9 – Que conteúdos gostas mais de partilhar nas tuas redes sociais?
O que eu gosto mais de partilhar nas redes sociais são aquelas dicas, aquelas coisas básicas, aquelas stories que eu faço sobre o que fazer em Paris. E aí tu vais em 24 horas, que é o tempo que nós temos para visitar um país – nunca são 24 horas, porque tu aterras num país ao meio dia e no outro dia às 10h da manhã já tens de estar a sair de lá, então, quando chegas ao hotel já são duas da tarde e tens meio dia para visitar um país, uma cidade, digamos assim. Eu esforço-me sempre para ir até ao monumento mais conhecido ou até visitar outras partes que não são assim tão comuns. O meu favorito é mesmo aquela foto da Torre Eiffel, do Big Ben, da Sidney Opera House. Eu gosto dessas fotos de turista, é aquilo que eu gosto mais de fazer: publicar a minha foto lá por baixo do monumento, tipo ‘estou aqui’!
10 – Qual foi o país e qual foi a cidade que mais gostaste de visitar?
Eu acho que a minha parte favorita do mundo é a Ásia. Eu adoro comida asiática, adoro a cultura asiática, o clima, as praias, e acho que eles são super humildes. O meu país preferido é a Tailândia e o país ao qual não me importo de voltar é o Brasil. Adoro ir para o Rio, talvez porque tenha uma cultura mais parecida com a nossa. A língua é a mesma. Sinto-me em casa.
11 – Dentro da tua profissão, qual foi o episódio mais engraçado que tiveste durante uma viagem?
Nós passamos por tanta coisa. Não me lembro de nenhum episódio engraçado, mas eu adoro fazer os voos portugueses, adoro fazer Lisboa e Porto, porque é muito bom estares a 38 mil pés e estares a falar a tua língua e a cultura. Então eu adoro quando levo aqueles casais mais velhinhos que querem beber o seu vinho e comer a sua comidinha, e então eles perguntam “O que é que tem aqui para almoçar menina?”, e então eu digo assim “Olhe, tenho frango e tenho bacalhau, mas o bacalhau não é como o nosso” e eles riem-se. Às vezes estão com os headphones nos ouvidos e falam super alto e as mulheres riem-se dos homens. Eu adoro fazer os voos portugueses, sinto-me muito mais perto de casa e é bom.
12 – A longo prazo, pensas em continuar a tua carreira como comissária de bordo na Emirates ou tens algum projeto em mente?
Eu penso ficar aqui mais tempo. Por agora, não tenho nenhum plano concreto. Claro que este não é um trabalho para a vida toda, porque aqui nos Emirados Árabes Unidos não descontas nada para a segurança social. Todo o dinheiro que ganhas é limpo, não tem taxas, é um dinheiro que tu ou és esperta e consegues poupar, ou então vens para cá e, se gastas tudo o que ganhas, sais daqui com a mesma coisa com que vieste.
Quero muito pensar em alguma coisa para fazer no futuro. Não sei se está nos meus planos voltar para Portugal, possivelmente não, mas está nos meus planos sair daqui um dia e fazer alguma coisa diferente. Agora o que é, se é relacionado com comunicação, gostava muito, talvez relacionado com moda e com comunicação, porque agora eu descobri que é disso que eu gosto mesmo. Não tendo um plano concreto, sei que realmente o meu futuro daqui a dez anos não vai ser estar aqui.
Artigo revisto por Mariana Coelho
Foto de capa: fonte – https://www.instagram.com/joana.ek/
Gostei do teu testemunho Joana. A minha filha foi selecionada e eu estou muito apreensiva. Fiquei mais esclarecida. Obrigada.