João Amorim: “Não tenham medo de ter um percurso diferente”
João Amorim tem 28 anos e é natural de São João da Madeira. Fez uma licenciatura e um mestrado em Bioquímica, mesmo não tendo a certeza de que aquele era o rumo que queria para a sua vida. Mais tarde, participou na 1ª edição do Gap Year Portugal, o que fez com que aumentasse o seu gosto por viajar e percebesse que estar fechado num laboratório não era para ele. Hoje, é líder de viagens pela Landscape e divide a sua vida entre a Colômbia, a Guatemala e a Islândia.
“Não sabia aquilo de que gostava. Mas acho que nós não somos muito estimulados a perceber de que é que gostamos. Somos estimulados a estudar e a aprender. Na realidade, sem muita noção da responsabilidade que era escolher um curso universitário, optei por Bioquímica. E entrei na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.”
Recorda a vida académica como uma “experiência brutal”, mas nem tudo foi um mar de rosas. Quando entrou no mestrado é que percebeu que não tinha tomado a decisão certa e, aos poucos, notou que não estava realizado. “Foi uma constatação um bocado complicada, porque tudo o que eu tinha feito até agora era no sentido de ser um profissional em Bioquímica e de trabalhar num laboratório.” De repente, para além de não gostar do que fazia, não sabia quais eram os seus verdadeiros interesses.
“Fui trabalhar em duas fábricas, fiz algum dinheiro. Depois voltei para Bioquímica, mas continuava a não ser uma coisa que me satisfazia.” Ter a noção de que não estava feliz fez com que sentisse o clique para ir viajar. Acreditava que viajar podia trazer respostas sobre os seus gostos, sobre quem era e sobre o que é que queria fazer.
Naquele momento precisava de embarcar numa aventura, mas os amigos não se identificavam com essa experiência. “Eu não conhecia ninguém que tivesse feito algo deste género, portanto não me sentia propriamente integrado. Nessa altura conheci a Associação Gap Year Portugal.”
Através da associação, soube que a sua aventura tinha um nome. Não era só viajar; era fazer um Gap Year. Parar. Fazer uma coisa diferente, conhecer-se a si próprio e voltar com mais respostas. Todos os anos a associação promove um concurso para dar uma bolsa para uma ou duas pessoas terem a oportunidade de fazer um Gap Year. O João ganhou e foi viajar durante um ano pela América Latina.
“Vivi milhões de experiências incríveis. Conheci culturas completamente diferentes, formas diferentes de ver a vida, de interpretar o futuro e, com tudo isso, percebi que não existe uma lei. Não existe um percurso certo. Tu podes escolher o percurso e, desde que seja teu, vai ser o certo. Isso deu-me tranquilidade. Já não tinha aquela ansiedade de encontrar as respostas. Quando regressei, conhecia-me melhor e sabia mais do mundo, mas continuava a não saber muito bem o que gostava de fazer. “
“Às vezes tu estás de viagem, vives, vives e vives e de repente há um momento: um pôr de sol, um dia, uma pessoa ou uma coisa que te dizem e apercebes-te de que estás a viver uma experiência inacreditável.” O João conta que conheceu pessoas muito diferentes, com histórias de vida tão distintas e todas elas eram felizes. Nenhuma história era igual, nenhuma delas era igual à dele. Ou igual àquilo que lhe disseram que ele tinha de ser. “No Peru foi das primeiras vezes que percebi que estava onde devia estar. Era ali que tinha de aprender, com aquelas pessoas. Começou a crescer em mim a vontade e a perceção de que, mesmo que eu voltasse a trabalhar em Bioquímica, podia sempre parar e fazer outras coisas. Podia fazer o que me apetecesse. Quando realmente sentes que podes fazer o que te apetece, é uma liberdade brutal.”
Quando regressou, percebeu que gostava muito de levar os amigos a viver as experiências que teve. “Foi aí que organizei uma viagem à Guatemala e uma viagem ao Peru, sem nunca pensar na parte comercial.”
Seis meses depois de ter terminado o Gap Year começou a trabalhar com a Landscape, como líder de viagens. Sentiu-se realizado e deixou a Bioquímica para trás. Atualmente, tem a possibilidade de ajudar as pessoas a viajar de forma diferente. Para a Colômbia, a Guatemala e a Islândia. “Muitas vezes vivem experiências que sozinhas nunca viveriam. E dizem-me: eu sozinha não tinha subido aquele vulcão, não tinha feito aquela caminhada de quatro dias, nem nunca tinha conhecido esta realidade.”
Como tudo na vida, nada é perfeito. Para poder estar a viver um sonho, tem de abdicar de estar com os amigos e a família.
O João deixou-nos alguns conselhos. Se te queres aventurar numa viagem longa, leva o mínimo possível. Tens de te desprender das coisas, pois vais ser tu a carregar a tua bagagem. Tens de estar leve. Se precisares de algo, podes comprar durante a viagem.
Se estás na faculdade e te sentes meio perdido, não desistas já do curso. “Têm de pensar se aquilo que estão a fazer é por vocês ou se alguém disse que tinham de o fazer. Não devem ter medo de tomar decisões quando as souberem. Eu não desisti do curso à primeira dificuldade; aliás, eu terminei-o. Devem fazer o máximo e perceber de que é que gostam. Aí, decidem se querem desistir, acabar, viajar, fazer voluntariado… Não tenham medo de ter um percurso diferente. Há pessoas que tiveram um percurso “anormal” e são felizes. Se pudesse escolher, voltava a tirar um curso. Aquilo que eu vivi faz parte de mim. Ajudou-me a tomar decisões. Hoje tirava um curso diferente, talvez fotografia, vídeo ou marketing.”
Podes seguir os projetos do João no Instagram, em @followthesuntravel.
Artigo revisto por Carolina Marques