Moda e Lifestyle

Moda para todos: A mudança na imagem de moda

A imagem de moda é uma ilustração que representa o que está in fashion no momento, através da sua popularização na Europa com o fashion plate, evoluindo para as revistas de moda até chegarmos à era digital, tendo sempre o papel é traduzir o momento social que vivemos na forma de vestir.

Durante anos, a imagem de moda foi e ainda continua a ser demonstrada por corpos perfeitos e belezas exuberantes que inspiram, fazem sonhar e tornam os contos de fada em vida “real”. As famosas top models estampam as capas de revistas, editoriais e campanhas publicitárias com o propósito de colocar em imagens e fotos a realidade da sociedade, com coisas e experiências de que precisamos (ou não). Porém, com o passar do tempo, surgiram questões sobre a representatividade dessas imagens, porque deveriam traduzir uma sociedade atual, mas continuavam a mostrar mais do mesmo: mulheres e homens altos, magros, predominantemente brancos e aparentemente perfeitos. Onde está o espaço para as pessoas reais e para as suas diferenças? E para as características que nos tornam únicos e que fomentam uma sociedade?

O fim da era Victoria’s Secret

Durante quase 20 anos, a marca de lingerie Victoria’s Secret desfilou as suas famosas Angels com peças extravagantes e glamourosas, mas a falta de representatividade na passarela fez com que a audiência dos últimos anos despencasse: as mulheres não se conseguiam mais identificar com as “perfeitas” loiras extremamente magras e com a objetificação das mulheres. Clientes da marca pediam uma mudança no posicionamento, porém, em 2018, o então diretor de Marketing da marca descartou a possibilidade de incorporar modelos transgéneros ou com mais curvas nos desfiles e, assim, foi decretado o fim do fashion show, devido a crise financeira e a escândalos envolvendo diretores e modelos.

Em contrapartida, os fãs não se viram desamparados por muito tempo. A marca da cantora Rihanna, Savage x Fenty, trouxe ao público um formato muito parecido de mostrar a sua coleção, mas ao mesmo tempo completamente diferente, com um casting diversificado, com mulheres e homens reais de todos os tamanhos e formas – o show foi um sucesso! Foi a celebração do corpo feminino e a mudança da ideia do sexy. Disponível na Amazon Prime Video, o show teve uma segunda edição em 2020 e tudo indica que continuaremos a ver performances impressionantes nos próximos anos.

Fonte: Twitter
Fonte: Twitter

Na fashion week de Milão, onde foram apresentadas as coleções para Primavera/Verão 2021, a Versace foi uma grande surpresa por colocar modelos no seu casting com corpos reais, normalizando mulheres de todos os tipos nas passarelas de alta moda. A marca italiana sempre foi conhecida por ousar e ir contra as “regras” da moda – nas palavras da estilista Donatella, ela quis “criar um mundo cheio de cores e de criaturas fantásticas, um mundo onde todos possam coexistir em paz” e mostra que a diversidade veio para ficar.

Fonte: versace.com
Fonte: versace.com
Fonte: versace.com

Inclusão e estilo

Em 2016, o estilista americano Tommy Hilfiger inovou ao ter a primeira grande marca de moda a lançar uma coleção pensada e feita para pessoas com deficiência física. O projeto nasceu em parceria com uma organização chamada Runway of Dreams, que procura criar uma moda mais inclusiva a pessoas com deficiência. A linha cresceu e tornou-se permanente na marca com o nome Tommy Adaptive e a cada ano mais roupas são criadas e desenvolvidas com especificidades para cada tipo de necessidade: roupas com zíperes que podem ser utilizados somente com uma mão, botões magnéticos e bolsos em locais mais acessíveis são algumas das opções disponíveis – unindo sempre a praticidade ao estilo.

Fonte: tommy.com

Já em 2019, a marca de luxo brasileira À La Garçonne juntou-se à gigante loja de departamento Riachuelo e à Barbie para celebrar os 60 anos da boneca mais famosa do mundo e lançou uma coleção como meta de ser possível para todos: roupas genderless e inclusivas que celebram a diversidade. As peças desenhadas por Alexandre Herchcovitch trazem estampas como a Barbie em cadeira de rodas e escritas em Linguagem Brasileira de Sinais. Parte da renda arrecadada com as vendas foi doada para a Associação de Assistência à Criança Deficiente.

Fonte: riachuelo.com

A luxuosa Gucci surpreendeu toda a gente quando, em parceria com a Vogue Itália, escolheu a modelo Ellie Goldstein para um editorial da linha de maquilhagem Gucci Beauty, sendo esta a primeira modelo com Síndrome de Down a fotografar para a marca.

Fonte: vogue.in

Já a extravagante italiana Moschino anunciou que o novo rosto da sua campanha para a coleção Outono/Inverno 2020 será Aaron Philip, a primeira modelo negra, trans e deficiente a assinar com uma grande agência de modelos, a Elite Model Management. Com apenas 19 anos, a modelo tem aberto portas no mundo da moda e mudado a forma como a imagem de moda pode ser representada para atingir todos.

Fonte: moschino.com
 

A realidade do mundo não é única – é diversificada, com características únicas e vem em todos os tamanhos, cores, orientações e credos. A imagem de moda deveria transparecer a realidade à nossa volta. A representatividade proporciona às pessoas a compreensão de que não estão sozinhas. Quando nos apercebemos do mundo à nossa volta, fica mais fácil compreendermos quem somos e qual o nosso papel na sociedade. É importante que a indústria da moda continue a mudar, pois sem mudanças não há evolução.

Artigo revisto por Miguel Bravo Morais

Fonte da foto de capa: Twitter