A esperança das vacinas contra a Covid-19
Nas últimas semanas, várias empresas de biotecnologia e farmacêuticas têm demonstrado sinais de esperança ao apresentarem os resultados dos ensaios clínicos das suas vacinas. Há, neste momento, 47 candidatas a vacinas em ensaios clínicos e dez já se encontram na fase três, em que é feita a avaliação dos resultados em milhares de voluntários.
Começando pela vacina desenvolvida pelo grupo farmacêutico norte-americano Pfizer e a empresa alemã BioNTech, a última fase de testes, que está a ser desenvolvida, demonstrou que a sua eficácia em prevenir a infeção pelo novo coronavírus é agora de 95%, sem ter apresentado efeitos secundários graves. O ensaio da vacina incluiu quase 44.000 voluntários, sendo que os testes clínicos estão a ser realizados em vários países e continuarão durante dois anos.
A Pfizer e a BioNTech confirmaram que já entregaram junto das autoridades norte-americanas competentes um pedido de aprovação para comercializar a vacina que desenvolveram. A agência federal norte-americana responsável pelo controlo e supervisão do setor alimentar e farmacêutico, Food and Drug Administration, ainda não indicou quanto tempo irá demorar a avaliar os dados, mas espera-se que o faça na primeira quinzena de dezembro.
Inicialmente, a agência dará uma luz verde condicional em virtude da emergência sanitária, provavelmente restrita a alguns grupos. É provável que a aprovação seja feita primeiro nos Estados Unidos e só posteriormente na União Europeia. Após esta luz verde, segundo a Pfizer e a BioNTech, as empresas estarão prontas para distribuir a vacina, podendo estar disponíveis 50 milhões de doses até ao final do ano e até 1,3 mil milhões até ao final de 2021.
Depois desta dose de esperança, veio o anúncio encorajador da farmacêutica norte-americana Moderna, ao afirmar que a sua vacina tem uma eficácia de 94,5%, sem efeitos secundários significativos. A empresa tenciona pedir a aprovação da utilização da vacina nas próximas semanas. Esta vacina está a ser desenvolvida em parceria com os cientistas da Oxford e administrada em voluntários nos Estados Unidos, em colaboração com o Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas.
No entanto, segundo o New York Times, esta vacina, que já envolveu 30 mil voluntários, não deverá estar disponível antes da próxima primavera. Ainda assim, faltam dados sobre quanto tempo durará a imunidade dos voluntários depois de tomarem as duas doses da vacina e qual a eficácia nas faixas etárias mais altas que têm uma mortalidade mais elevada associada à Covid-19. A vantagem desta vacina em relação à da Pfizer é o seu armazenamento mais fácil: 20ºC negativos permitem preservá-la até seis meses e, num frigorífico tradicional, pode ser guardada até um mês.
Mas ainda não acabou por aqui. A potencial vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e pela farmacêutica AstraZeneca revelou-se também segura e produziu uma resposta imunitária em pessoas acima dos 56 anos, sendo que já tinha demonstrado resultados semelhantes numa faixa etária mais jovem. Os testes da vacina foram suspensos em setembro, depois de um voluntário ter tido uma reação adversa grave, mas foram mais tarde retomados, sendo que os participantes vão ser acompanhados durante um ano após a vacinação.
A terceira fase dos ensaios já começou e tem como objetivos confirmar os resultados divulgados e também perceber qual o grau de eficácia da vacina num grupo mais alargado de pessoas, até porque a fase dos ensaios que foi feita apenas incluiu cidadãos saudáveis.
Entretanto, arrancou no Reino Unido uma fase de ensaios clínicos de mais uma vacina anti-Covid-19: a da farmacêutica belga Janssen. Para além dos 6 mil voluntários recrutados no país, serão cerca de 30 mil as pessoas de todo o mundo que vão participar nesta fase.
No entanto, a farmacêutica não espera apresentar resultados em menos de seis a nove meses. A diferença entre esta vacina e a da Pfizer é que, em vez de utilizar parte do código genético do SARS-CoV-2, esta vacina tem na sua base o vírus da constipação comum, geneticamente modificado de forma a ser inofensivo e parecido com os coronavírus.
Sabe-se já que a União Europeia poderá aprovar duas vacinas até ao final do ano: a da Pfizer e a da Moderna. Este anúncio foi feito pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
Por sua vez, António Costa afirmou que Portugal está preparado para comprar cerca de 16 milhões de doses de três vacinas contra a Covid-19 e afirmou que Bruxelas está a preparar um combate às campanhas de desinformação relativas à vacinação. O problema seguinte será a capacidade logística portuguesa para distribuir e fazer chegar a todos os cidadãos as vacinas da Covid-19.
Na opinião de Helder Mota Filipe, professor da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa e ex-presidente do Infarmed, nenhum político pode garantir neste momento que já devemos ter vacinas em janeiro, visto que ainda há muitas interrogações. Afirmou também que é preciso confirmar que as vacinas são seguras, porque, por vezes, o desfecho da investigação não é positivo.
Para além disso, o professor acrescentou que há vacinas com princípios de funcionamento muito diferentes, o que requer uma estratégia de vacinação mais complexa, como, por exemplo, recorrer a uma primeira vacina que se baseie em anticorpos, dando uma proteção rápida, e optar por um segundo período de vacinação, com uma vacina que dê imunidade a longo prazo. É necessário avaliar as várias opções disponíveis e verificar qual é a melhor para cada circunstância.
A velocidade destes desenvolvimentos não tem quaisquer precedentes na história das vacinas. Isto porque foram precisos, em média, oito anos de desenvolvimento para vacinas licenciadas na última década nos Estados Unidos. Segundo o cientista turco Ugur Sahin, que criou a BioNTech, no próximo verão os casos deverão reduzir drasticamente, mas só no inverno é que a vida deverá voltar ao normal.
No entanto, Tedros Adhanom Ghebreyesus, Diretor-Geral da Organização Mundial de Saúde, decidiu atenuar o otimismo e alertou que uma vacina por si só não irá ser suficiente para combater a pandemia, porque inicialmente as quantidades serão limitadas, o que significa que os idosos, cuidadores e pessoas em situações de risco terão prioridade. Isso irá reduzir o número de óbitos e vai permitir uma maior resistência dos sistemas de saúde, mas vai ainda haver muito espaço para o vírus operar.
O apelo feito pelo Diretor-Geral é para que não se encerrem prematuramente as medidas que permitem controlar a expansão da Covid-19, doença que já causou mais de 1,3 milhões de mortos no mundo desde dezembro do ano passado.
Artigo revisto por Ana Roquete
AUTORIA
Desde pequena que sempre gostou de escrever histórias, de falar pelos cotovelos e de ler. Imagina-se numa grande rádio ou a ser pivô na televisão. Mas foi também na infância que descobriu uma das suas maiores paixões: a dança. A vida levou-a ao curso de Jornalismo, mas é a dançar que melhor consegue transmitir uma mensagem aos outros. Onde o futuro a vai levar não sabe, mas uma coisa é certa: quer comunicar, seja por que meio for.