Vitiligo, onde a diferença se torna beleza
Desde pequena, sempre foi vaidosa e em Moçambique, país onde nasceu e cresceu, era uma criança que expressava a delicadeza através da ginástica. Sempre teve a vitalidade de uma aventureira: já fez vários desportos radicais e diz ter saudades das quedas livres que deu e anseia as que ainda tem para dar no futuro.
Catarina Victor Linder, de 71 anos, tem vitiligo, uma doença que afeta entre 0,5 e 1% da população mundial. É uma doença autoimune que faz com que o sistema imunitário ataque os melanócitos, células que produzem melanina, resultando na perda progressiva de pigmentação.
Foi apenas quando passou a faixa dos 40 anos que Catarina descobriu que tinha vitiligo. “Começou com uma infeção urinária, fiquei com problemas nos rins. Fui a vários médicos e eles não conseguiam descobrir nada.”
Como a qualidade, textura e a cor de pele são das primeiras características que as pessoas reparam nos outros, a pele tem um papel determinante nas nossas interações quotidianas com o mundo.
O Vitiligo, muitas vezes, afeta o rosto, o cabelo e outras partes visíveis do corpo. É uma condição que não contém apenas uma componente visível na pele, mas também uma profunda e, muitas vezes, invisível componente psicológica.
No início, não lidava muito bem com isso. “Eu tinha uma fita preta e tapava essa mancha, porque as pessoas ficavam muito curiosas.”
Dada a inerente visibilidade das manchas de despigmentação na sua pele, a autoestima de Catarina ficou, muitas vezes, comprometida. “Nós sempre temos de ter a nossa autoestima, eu sempre tive isso realmente, mas havia alturas em que não tinha. Houve uma altura em que até as crianças fugiam. (As pessoas) pensavam que era uma doença contagiosa. Quando as pessoas não têm conhecimento de uma coisa, refugiam-se, pensam logo que é contagioso.”
Catarina não acredita que a beleza está nos olhos de quem vê. “A beleza está connosco, nós temos de saber cuidar de nós. Quem nos vê é o nosso espelho.” “A beleza vem da própria pessoa.”
Entre uma jovem com uma beleza lisa e uma mulher madura com uma vida já enriquecida de experiências, Catarina acredita que a preocupação com a aparência e estética não difere muito, porque esse pensamento “está com qualquer pessoa”, independentemente da idade ou do género.
Sucumbindo a uma tentação universal, as indústrias da moda e da beleza fizeram, por muito tempo, da juventude um dos pilares narrativos na sua comunicação. Convictos de que isso seduziria os jovens consumidores e as pessoas mais velhas na busca da juventude eterna, os profissionais do Marketing retiravam sistematicamente das suas produções visuais qualquer coisa que remetesse para a velhice.
“Algumas pessoas têm essa ideia de que a beleza está com os jovens, mas pessoas de idade também têm beleza.”
No entanto, cada vez mais emerge uma sede de singularidade. Uma tendência que anda de mãos dadas com a versatilidade das identidades. A diversidade e a inclusão de belezas que não são padronizadas, mas com as quais convivemos todos os dias, começam a ser mais vistas e não mais negligenciadas pelos media mainstream. Para Catarina, os holofotes apontados para belezas únicas e diferentes é uma forma de “levantar a autoestima das pessoas.”
O vitiligo foi um catalisador para a busca do seu autoconhecimento que a faz ver a vida com outros olhos e que a faz refletir sobre a sua saúde: “Acho que uma pessoa tem de saber comer comidas boas. Eu tenho feito isso, evito alimentos processados, prefiro coisas mais naturais. Eu quando faço as minhas compras, por exemplo, gosto de ir a essas casas que vendem produtos naturais, como o Go Natural ou o Celeiro também.” Catarina enfatiza que a saúde, mental e física, é uma faceta importante da beleza.
No entanto, contra-atacar o envelhecimento não está no topo das suas prioridades: “é a minha cara, sou mais velha, esbranqueço o cabelo, as sobrancelhas e as pestanas.”, mas não diz que não à maquilhagem “de vez em quando ponho um batonzinho.”
Catarina, agora mais do que nunca, acha-se “sempre bonita” edeseja que as pessoas, independentemente de terem uma doença ou não, tenham mais autoestima e autoconfiança.
Artigo revisto por Inês Pinto
Fonte da foto de capa: Paula Suaila
AUTORIA
Paula Suaila é uma estudante de jornalismo e redatora da secção Moda e Lifestyle. É semi-careca, é também a irmã perdida da Kelly Malcolm do Jurassic Park e tem quase a certeza de que, há duas vidas passadas, viveu na Dinastia Joseon. Quando não está a maratonar (#bingewatching) um drama coreano está a ler ou a ver algo relacionado com moda.