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Tinta

Será que a tinta é algo insignificante? Quando pedi a algumas pessoas que pensassem na palavra, obtive respostas como “é algo que serve para pintar e que dá cor”, “é aquilo que usamos para escrever” e pouco mais do que isso. Claro que também recebi outro tipo de respostas engraçadas, questionando-me sobre o meu estado de sobriedade. Afinal quem é que se lembra de perguntar aos amigos o que para eles é a tinta?

Pessoalmente, a primeira coisa que me ocorreu foi “caneta”: com ela podemos escrever um poema de amor ou um certificado de divórcio. Mudam as ideias, os sentimentos… e fica a caneta, como testemunha de tudo, possivelmente a observar-nos e a julgar-nos sem ninguém se aperceber. Lembrei-me também do facto de ser através da tinta que são redigidos acordos internacionais e declarações de guerras que mobilizam e separam nações durante anos. Será que as guerras teriam sido evitadas se não existisse tinta? Talvez a culpa seja do homem primitivo que começou a usar a tinta nas chamadas “pinturas rupestres”. Decidi por isso ir mais longe, além da tinta que existe no interior da caneta, o que me levou ao conceito geral, a nível não só da escrita como também da pintura, na arte ou na maquilhagem. Será que esse mesmo homem pré-histórico alguma vez imaginou que hoje uma simples substância pode criar uma máscara que “apaga” as chamadas “imperfeições”? Tenho certas dúvidas que ele se preocupasse com esconder as rugas com pigmentos coloridos, mas não é impossível. Infelizmente, não tive a oportunidade de lhe perguntar isso.

Saltando alguns anos na história da humanidade, cheguei até Hitler, que incentivou o roubo de inúmeras pinturas ainda hoje bastante valorizadas, seja a nível cultural, histórico ou económico. Imagino um diálogo entre Hitler e o homem primitivo sobre pintura. Seria interessante ver como o segundo observaria meia dúzia de quadros. Não sei se ele seria capaz de entender o valor das obras, possivelmente não: seriam apenas traços de tinta, imóveis como os das suas próprias pinturas. Além disso, iria distrair-se e achar estranho o facto de existir tinta por todo o lado: nas paredes, nos objetos… Até eu, que vivo em pleno século XXI, chego a pensar que a tinta me persegue, quanto mais o pobre homem primitivo. Acho que ele entraria num estado de choque ao receber essa informação. Hitler teria de ser muito paciente, o que seria realmente um cenário utópico.

Gostava que o líder nazi lhe explicasse, após o acalmar com algum esforço, que é através da tinta que, além de representamos a nossa perspetiva da realidade e os nossos sonhos, é-nos aberta uma porta para outros mundos, seja o de um artista reconhecido ou o de uma criança. A substância transforma-se numa fuga às rotinas e numa completa liberdade de expressão em todas as suas formas. Será que o homem primitivo iria compreender a importância da tinta? Ele já era livre, nós não. Ironicamente, acho que ele iria valorizá-la mais do que muita gente. Afinal, é só tinta…

Trabalho realizado por: Daniela Leonardo, Nº13266

1.º Ano da Licenciatura em Jornalismo

Fonte da capa: Unsplash

Artigo revisto por Ana Sofia Cunha

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