Kim Jiyoung, o caso da matriosca humana
8 de setembro de 2015.
Ao abrir a janela do apartamento, o orvalho branco enfeita a cidade de madrugada. O Baegno começou. Marca a primeira noite de outono em que a temperatura cai abaixo do ponto de orvalho. E marca o momento em que Jung Daehyun vê a mulher, Kim Jiyoung, a transformar-se numa pessoa completamente diferente.
Kim Jiyoung começa a falar como se fosse a sua mãe.
“Leva um casaco leve contigo, Jung Seoba-ahng, as manhãs e tardes tendem a ser frias.”
Nam-Joo em Kim Jiyoung, Born 1982 (2020), 1 ed. Scribner
Daehyun não deu a este episódio grande importância, mas, para Jiyoung, foi o primeiro grito de ajuda.
Kim Jiyoung, nascida em 1982, retrata a história da protagonista, de 33 anos, casada e mãe de uma menina de pouco mais de um ano.
Nas primeiras páginas assistimos ao nascer de uma chama de transtorno e de desordem. Depois, nos capítulos, são-nos dados os antecedentes sobre as várias etapas da sua vida.
Diagnosticada inicialmente com depressão pós-parto, Jiyoung utiliza o seu corpo para se transformar nas várias mulheres presentes na sua vida. Jiyoung torna-se na sua mãe, na sua sogra e na sua colega que morreu há um ano. Jiyoung fala de si na terceira pessoa enquanto expõe as suas fragilidades, os seus transtornos e as suas revoltas.
Numa prosa desconcertante, misturando a ficção com a realidade sul-coreana, Kim Jiyoung, nascida em 1892 causou grande polémica no país de origem, no qual a palavra “feminismo” tem uma conotação extremamente negativa.
A Coreia do Sul tem uma das economias mais desenvolvidas do mundo, mas é colocada na 99ª posição em 146 países estudados para o Índice Global de Desigualdade de Género do World Economic Forum.
De acordo com o Ministério do Emprego e Trabalho sul-coreano em 2020, uma mulher tende a ganhar 67,7% do salário do seu colega homem, na mesma função. Esta disparidade tende a aumentar em mulheres mais velhas no mercado de trabalho.
O que faz Kim Jiyoung, nascida em 1982 ser traduzida para mais de 18 línguas é, a meu ver, o facto da sua história não ser exclusiva à mulher sul-coreana, mas sim a milhares de mulheres que sofrem com a desigualdade de género.
Cho Nam-Joo, a autora do livro, antiga roteirista para televisão, redigiu a obra tirando parte da sua inspiração da sua própria experiência como mulher.
Kim Jiyoung espelha Cho Nam-Joo.
Kim Jiyoung e Cho Nam-Joo são uma mulher, e são todas as mulheres.
Fonte da capa: The New York Times
Artigo revisto por Maria Beatriz Batalha
AUTORIA
A Joana sempre teve uma paixão pela escrita, ao ponto da professora da primária ter de estabelecer limite de palavras nos textos de Português, se não a Joana continuava a escrever até não haver mais espaços brancos. Entrou em Jornalismo e gosta da área, mas também tem um bichinho por outras áreas de Comunicação.