Cinema e Televisão

Como abordar o Natal sem abordar só o Natal? How I Met Your Mother sabe

Todos sabemos que o Natal é uma época festiva muito aproveitada para episódios especiais de várias séries televisivas. Digamos que é um pop extra a cada história contada. O essencial é saber destacar-se, mas nem todas o conseguem fazer. Como abordar o Natal sem abordar só o Natal?

How I Met Your Mother é baseado numa história sobre um pai que descreve aos seus filhos todos os momentos que levaram ao dia em que conheceu a sua mãe. Trata-se de um conjunto de flashbacks que contribuem tanto para a construção das personagens como para o desenrolar da narrativa. Esta sitcom de nove temporadas segue os padrões típicos de uma situation comedy, com uma abordagem humorística do quotidiano de cinco amigos a viver em Manhattan.

Existem alguns episódios festivos nesta série. No entanto, há um deles que se destaca, exatamente pelo facto de abordar o Natal, mesmo sem se focar especificamente nele. O episódio Symphony of Illumination é o 12º episódio da sétima temporada da série e mostra-nos a dinâmica do grupo de amigos representado, mesmo em momentos não anedóticos. Neste episódio, Lily e Marshall estão naquela fase de planeamento para a vinda de um bebé muito desejado e procuram informações e produtos para tornar todo este processo mais fácil. Ao mesmo tempo, o Marshall prepara-se para uma aventura a decorar a casa dos pais com todos os elementos natalícios existentes, com o desejo de torná-la a casa destaque. Entretanto, Robin e Barney estão prestes a saber se esperam um bebé em conjunto ou não. Isto é um problema, visto que Robin nunca quis ter filhos. A ideia de criar uma criança assusta-a e nunca esteve propriamente nos seus planos. Felizmente, a médica informa-os que, de facto, não passou de um susto. Contudo, volta a contactar Robin e dá-lhe uma novidade inesperada: ela não é fértil.

Supostamente, perante esta notícia, é expectável que Robin fique bastante satisfeita e aliviada, uma vez que lhe facilitaram o processo de evitar gravidezes indesejadas. E é como ela se sente inicialmente. Contudo, passa também por uma fase de luto. Entra em negação e esconde a novidade dos amigos, que provavelmente teriam reações demasiado maçadoras. Mas, no fundo, passa pela tristeza associada a este tipo de notícias mais pesadas.

Este episódio é definitivamente focado em Robin e apresenta cenas interessantes. Uma delas é quando observamos Robin sentada num banco, no meio de um parque, com a neve a cair-lhe em cima. Sem esquecer a época natalícia, é-lhe colocado um pacote de eggnog nas mãos: a bebida que se bebe nos Estados Unidos na ceia de Natal. Este shot frontal, composto por cores mais frias e escuras, tem também elementos relativos ao tempo presente na história da personagem e é, claramente, o reflexo de tudo o que se passa na sua mente.

A novidade sobre a Robin levou-me a questionar se realmente ela não queria mesmo ter filhos. A verdade é que sempre se disse que, enquanto seres humanos, queremos o que não podemos ter e talvez a série tenha tentado aludir a isso mesmo na forma como produziu o episódio. Enquanto no episódio passado surgia a possibilidade de uma reviravolta na vida da personagem, a série mostra-nos que as mulheres não nascem apenas para ter filhos, nem têm de se focar apenas na sua capacidade reprodutora para se sentirem realizadas. Aliás, Lily e Marshall são o epítome do casal heterosexual que constrói a história como ela é esperada pela sociedade. No entanto, nem todas nascemos para viver esse propósito e a série reflete isso: não é necessário ser-se mãe para se ser numa mulher bem-sucedida.

Fonte: Pinterest

Robin é, na série, a representação da mulher empoderada que segue o caminho que permanentemente desejou e leva-nos consigo na viagem complicada de encarar uma condição destas. E, como sempre, Ted está sempre lá para ajudar mesmo que isso envolva uma construção natalícia repleta de luzes no meio da sala de estar, porque é isso que os amigos fazem.

O episódio em questão é mais uma prova de que How I Met Your Mother não é como as outras sitcoms que por aí navegam. São este tipo de abordagens que tornam a série repleta de empatia para com o público que assiste, estando ou não a passar por situações semelhantes, numa época em que as pessoas se deveriam sentir acarinhadas e apoiadas por todos os que as rodeiam. É, sem dúvida, uma série que não tem qualquer problema em tocar em tópicos sensíveis nos episódios de Natal, no meio de todo o humor que a compõe, e é isso que a torna tão especial.

Fonte da capa: YouTube

Artigo revisto por Adriana Vicente

AUTORIA

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A Laura não sabe estar quieta. Adora boas recomendações - especialmente de filmes bombásticos - e aceitou a oportunidade de ler mais sobre a área ao ser editora de Cinema e Televisão. A escrita sempre fez parte desta inquietude, com especial atenção para o despejar de emoções após uma sessão de cinema. Coloquem um bom neo-noir, fervam um bom chá de hibiscus e têm a sua companhia para sempre.