A 7.ª Arte no streaming: de mal a pior
Num ano em que houve muitas obras de qualidade a serem lançadas, como The Batman, Top Gun Maverick ou Everything Everywhere All at Once, houve, por outro lado, uma quantidade absurda de obras que ficaram muito aquém daquilo que era o esperado. Desde lançamentos diretos para o streaming, produções independentes a filmes que levaram as pessoas às salas de cinema por engano, 2022 foi um ano repleto de fiascos.
O facto de as plataformas de streaming serem cada vez mais independentes e estáveis financeiramente, o que permite que apostem nas suas próprias obras, é um dos fatores decisivos para que o número de obras de baixa qualidade e produzidas por pessoas sem experiência cresça exponencialmente.
Blockbusters são outros bons exemplos de filmes, na sua maioria, sem grande valor cinematográfico. Tratam-se de longas metragens que se focam em personagens de filmes de sucesso e atribuem-lhes o seu próprio filme. Noutros casos, quando a primeira película faz números expressivos nas bilheteiras, acaba por ser uma sequela completamente desnecessária.
Pinóquio
Pinóquio, do diretor Robert Zemeckis, é um dos exemplos que saiu diretamente para as plataformas de streaming, estando disponível para ser assistido na Disney +. Trata-se de um filme sem alma, que não tem identidade. É uma tentativa de renovação, mas que não renova em nada a história já conhecida.
A Disney continua a produzir versões live-action das suas animações clássicas. Se A Bela e o Monstro (primeira animação da Disney convertida em live-action) conseguiu mais de mil milhões nas bilheteiras em todo o mundo e Aladino, que procurou uma nova abordagem e uma nova dinâmica face à história clássica, também fez sucesso, o mesmo não se pode dizer de outras adaptações. Dumbo, Rei Leão e, agora, Pinóquio não foram êxitos, segundo a crítica e o público, e a maioria pede que a Disney pare de transformar as suas animações em carne e osso.
Além disso, o lançamento de Pinóquio, dirigido por Guillermo del Toro, coloca a adaptação da Disney a um canto. Esta versão parece uma luz ao fundo do túnel de tantas versões más que se têm feito desta obra de 1940. O filme, feito em stop-motion, apresenta uma nova perspetiva dentro de uma Itália fascista, sem medo de mostrar os perigos reais do mundo, como a morte e o alcoolismo.
A Idade do Gelo: As Aventuras de Buck Wild
As Aventuras de Buck Wild traz de volta uma das personagens mais queridas da franquia Idade do Gelo. A produtora Blue Sky tinha encerrado a saga, mas depois vendeu os direitos da animação à Disney, que, à procura de dinheiro fácil, produziu este filme sem o mínimo de respeito por aquilo que tinha sido produzido até então.
Sem mencionar o roteiro de baixo nível, a debilidade mais notável nesta produção são os efeitos visuais e os aspetos técnicos, que fazem lembrar um jogo para a Playstation 2. Mais um lançamento direto no streaming que não gerou entusiasmo suficiente para fazer a gigante do entretenimento lucrar.
Moonfall – Rota de Colisão
Chegou com tudo. Só o título de “produção independente mais cara da história” já serviu para criar alguma expectativa no público. Mas depressa se percebeu que este filme não cumpria nem metade daquilo que prometia.
Um cenário de destruição incompleto, clichês atrás de clichês e um final bastante previsível. A narrativa chega a um ponto de vergonha alheia, quando deveria ser cómica e envolvente. Não vai ter uma continuação e duvido que o preço astronómico que foi gasto nesta “bomba” vá ser recuperado.
365 Dias: Naquele Dia e 365 Dias Finais
Se o primeiro filme me fez chorar com dor nos olhos, as suas continuações nem uma narrativa possuem. A história é totalmente bizarra, transmitindo a sensação de que o sequestro, a submissão da mulher ao homem e o assédio sexual são coisas positivas e eróticas. 70% da trilogia decorre através de cenas de sexo acompanhadas por uma trilha sonora. Se o objetivo era ser romântico, sexual, erótico e atraente, não atingiu nenhum desses objetivos. Pelo contrário, serve de repelente para apreciadores da sétima arte.
Morbius
O pior filme deste ano é uma fotocópia exata de Venom. A única diferença são os intervenientes. A Marvel criou um universo que engloba mais de 30 filmes e, embora nem todos sejam bons, todos contribuem para o coesão global da narrativa. A DC ainda não encontrou a “fórmula Marvel” para unificar os seus filmes. A Sony não consegue acompanhar a produção da concorrente.
Quanto ao filme, é mais uma má escolha de Jared Leto, que oscila entre excelentes filmes, como Blade Runner 2049 e Clube de Compra Dallas, e estes “filmezecos”, que têm a profundidade de uma piscina infantil. O público não se preocupa com a personagem e não acredita nas suas motivações. Vilão mais genérico é impossível. O protagonista ganha poderes através de um erro de laboratório, o vilão ganha os mesmos poderes e, no final, o herói mata o vilão. Duas horas de vida gastas.
No final, o grande problema é que as pessoas assistem. E assistem muito. Não é por acaso que qualquer um destes filmes chega facilmente ao Top10 de mais vistos na plataforma vermelhinha. Pelo tempo que os utilizadores gastaram a ver este “lixo”, a Netflix não vai ficar por aqui. A mudança só acontecerá quando saturar completamente os seus espetadores.
Fonte da capa: CNET
Artigo revisto por Inês Gomes
AUTORIA
Nasceu em Setúbal no ano de 2000, sempre quis ser mais do que as pessoas esperam da chamada normalidade. Já escreveu um livro chamado “Grande Manual do Engate”, participa em anúncios e em pequenos papéis na televisão, além de fazer stand-up comedy. Já trabalhou numa rádio em Setúbal, escreve crítica de cinema e participa em Podcasts de desporto. Embora esteja em Jornalismo não é o que pretende, encara este curso como um plano B caso não consiga trabalhar à frente das câmaras.