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Past Lives – E se?

Celine Song estreia-se na realização com o fenómeno Past Lives, que chegou aos cinemas no passado dia 8 de fevereiro, estando este nomeado na categoria de “Melhor Filme” na 96.ª edição dos Óscares.

Past Lives é um filme orientado pela sua narrativa que se divide entre Nova Iorque e a Coreia do Sul, tendo como personagem central Nora Moon, uma emigrante coreana que deixou para trás a sua vida quando a família decidiu emigrar. Anos mais tarde, Nora recorda uma paixão que teve na infância com Hae Sung, que reencontra graças à internet e com quem vai contactando mesmo sendo a relação incompatível com a realidade de ambos. Desenvolvendo-se ao longo de 24 anos, esta é sobretudo uma história de amor que mostra o poder avassalador de sentimentos inacabados e reconexões fugazes.

O regresso de Hae Sung à vida de Nora, num primeiro momento de reconexão,  evidencia um choque cultural que esta não esperava entre o que idealiza ser o romantismo da sua ascendência com a realidade da sua vida atual, pois esta relação divide as duas identidades da personagem principal, pondo em confronto direto um passado que vê como inacabado, mas do qual se sente distanciada, e um tempo presente sensibilizado por suposições e sonhos atormentados. Numa segunda aproximação, a relação entre Nora e Hae Sung já não os implica apenas aos dois, pois é introduzido Arthur, marido de Nora, dando lugar a um triângulo emocional do qual surgem questões acerca das escolhas que acabaram por determinar as suas vidas e como estas seriam diferentes tivessem eles optado por outras. 

Fonte: IMDb

Surge, assim, o conceito central da história in-yeon, uma crença no destino, de origem coreana, segundo a qual as nossas relações se mantêm em diferentes planos de existência: “Existe uma palavra em coreano in-yeon. Significa providência ou destino. Mas é especificamente sobre relacionamentos entre pessoas.” Isto permite que as personagens ponderem sobre quem são, quem já foram e quem poderiam ser, auxiliando-as a lidar com o arrependimento, projetando-o para uma vida passada ou futura, facilitando a aceitação do presente ditado pelo destino. Neste caso, a decisão de aceitar o in-yeon materializa um romantismo falhado que é substituído por um realismo pragmático, em que nem sempre os maiores amores se concretizam.

Assim, Past Lives acaba por não se focar apenas sobre as escolhas que fazemos e como estas ditam o nosso futuro, mas também numa análise do presente e de como chegámos a esse momento.

A narrativa apresentada por Song densifica-se, especialmente, na sequência da visita de Hae Sung a Nova-Iorque em que fica claro que, apesar de Nora procurar inicialmente ter uma relação com o seu amigo de infância, esta não vê em Hae Sung um futuro ou uma vida diferente. O reencontro afirma uma profunda diferença de vivências entre o par, sendo que Nora estabelece através de Hae Sung uma ligação com o seu passado, tentando manter algum contacto com as suas raízes geográficas. Deste modo, o triângulo amoroso resultante da indecisão que Nora enfrenta, entre o seu marido (que representa a vida que escolheu) e a sua paixão de infância (que a liga ao seu país natal), serve de metáfora à crise de identidade que a própria sente, não sabendo se deve optar por honrar as suas raízes coreanas ou se deve seguir uma vida independente mas insatisfatória da sua ascendência, por saber que não consegue cumprir ambas plenamente.

Contudo, não devemos destacar apenas a linha narrativa de Past Lives, pois também a sua realização permitiu elevar toda a história seguindo uma simplicidade reconfortante. Celine Song intensifica o guião com momentos de silêncio, vagarosas trocas de olhares ou momentos chave de diálogo entre personagens que auxiliam a construção de uma tensão romântica muito necessária à história.

Fonte: Film Of The Week

Past Lives marca uma extraordinária estreia para a sua realizadora, – que é também guionista do mesmo – complementada por uma excelente entrega dos atores e uma cinematografia tão romântica como a narrativa.

Fonte da capa: Tan’s Topic

Artigo revisto por Inês Moutinho

AUTORIA

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Atualmente no primeiro ano da licenciatura em Publicidade e Marketing, a Mariana é uma grande apreciadora de todas as formas de entretenimento, mas encontrou no cinema a sua grande paixão, que lhe permite reunir todos os seus gostos em um. Sempre soube que iria enveredar por uma área ligada à comunicação o que a levou até à ESCS, onde teve a oportunidade de ligar a curiosidade que sempre teve pela escrita ao hobbie que mais ocupa o seu tempo (ver filmes e séries).