No 25 de Abril houve quem lutasse pelos seus direitos, quem colocasse cravos nas suas espingardas e quem os vendesse, mas também houve quem captasse as imagens mais surpreendentes. 

“Em 2024, celebramos 50X2, porque celebramos duas vezes – 50 anos do 25 de abril e 50 anos de Democracia” é o mote das Comemorações dos 50 Anos do 25 de Abril. Muitas são as formas de homenagear e de voltar no tempo para um dia que mudou a vida dos portugueses para sempre. Assim surge a Exposição Factum, no Torreão Nascente da Cordoaria Nacional, onde se encontra uma seleção de 170 fotografias da autoria de Eduardo Gageiro. 

Eduardo Gageiro: vida e obra 

Eduardo Gageiro assumiu-se, desde cedo, como um dos mais relevantes fotógrafos e fotojornalistas da sua época. Nascido a 16 de fevereiro de 1935 na cidade de Sacavém, Eduardo cresceu no seio de uma família modesta. Com 12 anos, já trabalhava no escritório da Fábrica de Loiça de Sacavém e foi no convívio com os operários, pintores e escultores que sentiu o incentivo de seguir a área do fotojornalismo. Foi com essa mesma idade que Eduardo Gageiro viu a sua primeira fotografia ser publicada na primeira página do Diário de Notícias. 

Começou como fotojornalista no Diário Ilustrado, no ano de 1957, mas pertenceu a outros órgãos de comunicação social, como é o caso do Diário Ilustrado, O Século Ilustrado, Eva, Almanaque, entre outros. Chegou ainda a assumir a função de editor da Revista Sábado. 

Foi reconhecido com alguns prémios, nomeadamente o segundo prémio do World Press Photo, no ano de 1974, e a medalha de ouro da melhor fotografia e da melhor fotografia a preto e branco, na Exposição Internacional de Fotografia Artística da China, no ano de 2005, onde estavam a concurso cerca de 35 mil fotografias, pertencentes a mais de 3500 fotógrafos vindos de 68 países distintos.

A viagem no tempo

A Exposição Factum propõe-se a marcar pela diferença: apesar de o seu mote ser os 50 anos do 25 de Abril, é possível verificar no conjunto de fotografias uma viagem pelo tempo. Eduardo Gageiro expõe fotografias da sua autoria que nos permitem traçar o retrato de Portugal desde 1950 até 2023, sendo que a fotografia mais recente presente na Exposição é de 25 de abril de 2023. 

Muitos são os temas retratados na Grande Exposição de Eduardo Gageiro: sejam os modos de vida e a sua alteração ao longo do tempo, às personalidades de grande relevância ou até os vários acontecimentos que foram determinando o rumo da História. O fotógrafo tanto acompanhou o trabalho dos operários e no campo, o fenómeno da emigração, a repressão que se fazia sentir no Estado Novo e algumas manifestações/revoluções que tanto caracterizaram a época. 

Relativamente ao 25 de Abril de 1974, Eduardo Gageiro revelou em entrevista ao canal de YouTube da Câmara Municipal de Lisboa que chegou ao Terreiro do Paço cedo e um soldado não o deixou passar inicialmente, mas o fotógrafo português era persistente e desistir nunca foi solução, pelo que disse que conhecia Salgueiro Maia. Quando o soldado o levou ao comandante, este ocasionalmente disse que o conhecia pelas suas fotografias no Século Ilustrado, revista para a qual trabalhava na época. 

Eduardo Gageiro chega a afirmar que esta é “a exposição da sua vida”. Além da clara importância de uma exposição desta dimensão, é um trabalho em que o próprio fotógrafo acaba por ver nas suas fotografias os vários períodos pelos quais passou na sua vida. 

Cada fotografia da Exposição Factum passou por um processo de tratamento de imagem, acompanhado por digitalizações e impressões a partir da fotografia original. 

Um olhar diferente

A Exposição Factum é resultado de um ano de trabalho entre as Galerias Municipais e o fotógrafo Eduardo Gageiro, na tentativa de tornar público o olhar irreverente do fotógrafo sobre as diferentes situações e panoramas da realidade portuguesa. Há quem diga que “imagens valem mais do que mil palavras” – esta exposição é a prova disso. Cada fotografia visa trazer um outro lado da História. 

A Exposição Factum localiza-se no Torreão Nascente da Cordoaria Nacional, em Belém, e é de entrada livre. Todos podem visitar entre terça e domingo, entre as 10h e as 13h e entre as 14h e as 18h. Estará disponível para visita até ao dia 5 de maio. 

Fonte da imagem de capa: Eduardo Gageiro, disponível na Coleção 25 de abril

Revisto por Irina Figueiredo