Fogo Fogo e Nha Rikeza rima com B.Leza
É certo que a maioria dos artistas que atua no B.Leza respira Cabo Verde. A apresentação do novo álbum Nha Rikeza, dos Fogo Fogo, incendiou a noite de 21 de março e trouxe Cabo ao Cais. No espaço idealizado na década de 90, e onde se vê o criador Tito Paris nas paredes forradas a cartazes antigos, não faltou ritmo e movimento.
Casa cheia de mistura
Os ponteiros apontam para as dez da noite e a casa começa a encher. O estreito corredor do B.Leza dá lugar a uma festa antes da festa, ainda no bar. De imperial na mão, o ambiente africano não deixa os modos da vida lisboeta – a luz cor de rosa combina com o Cristo Rei e a Ponte 25 de abril, que se veem pela janela. Ninguém parece estar sozinho, até a única senhora na pista está acompanhada pela dança. Afinal, a missão dos Fogo Fogo é a de “fazer dançar sem truques”.
A luz rosa torna-se vermelha e dá o sinal de início do concerto, caso o levantar súbito dos sofás convenientemente espalhados não explicitasse que o baile ia começar. Agora sim, o ritmo africano irrompe de umas primeiras notas do baixo de Francisco Rebelo, mas é David Pessoa que traz as primeiras palavras. “Cultura somos nós” é o mote para o concerto de apresentação do segundo álbum da banda, com “casa cheia a uma quinta-feira”.
A bateria está nos comandos da nave frenética que são os Fogo Fogo e marca o ritmo para uma plateia que dança por contágio. “Amor é amor, misturem-se” é o que diz o vocalista da banda do ‘funaná de Lisboa’, remetendo para a música Amor é amor, deste novo álbum.
A ideia é sempre a de misturar pessoas e géneros musicais: “baladas, mornas, afrobeat, tudo o que nos deu na gana“. Os “sons carregados de bateria e baixo em permanente derrapagem” trabalham sempre em conformidade com a arte de exorcizar sentimentos tristes com a música alegre e dançável, característica do grupo. Nha Rikeza pode ter demorado algum tempo a construir, mas trouxe pérolas como a faixa Nascid e Criod, que eleva os valores africanos com melancolia na voz.
Bamba é do Senegal e mora em Portugal há cinco anos. Está sentado numa cadeira ao fundo da sala e apenas observa. Não percebe português e não sabe que crioulo existe, mas, ainda assim, consegue sentir o apelo da música que passa no B.Leza. “Não percebo nada do que dizem, mas gosto“, confessa sorridente.
Dos clássicos antigos aos clássicos que estão por vir, os Fogo Fogo ofereceram um espetáculo que agrada tanto aos conservadores do funaná como àqueles que admitem as influências de uma nova Lisboa de Tim Maia e Fela Kuti, passando por Sara Tavares. Em 2021, nas vésperas do lançamento do álbum Fladu Fla, a banda apresentava a versão da música Kabu Frontam,com a própria Sara, para o programa Elétrico da Antena 3. A prova de que os clássicos se criam rapidamente.
Os 13 temas do novo disco também já podem ser ouvidos até à exaustão. “É para isto que nós fazemos discos, é para vocês ouvirem e curtirem“, foi como rematou o cantor David Pessoa.
Artigo revisto por Pedro Filipe Silva
Fonte da capa: ineews.eu
AUTORIA
A Joana acha que é demasiado nova para ter uma biografia. Tem 19 anos, estuda Jornalismo e vem de Torres Novas. Não, não é a cidade do Carnaval. Nem a das bifanas. A Joana fica irritada quando confundem. Às vezes também lhe chamam Inês. Na ESCS Magazine espera que não tenham feito confusão, porque o que queria mesmo era escrever sobre desporto. Ora bolas, aconteceu outra vez. Lá terá de ser música.