Cinema, Cem Anos de Juventude!
“Cinema, Cem Anos de Juventude” (CCAJ) é a iniciativa que permite aos alunos, desde o ensino primário até ao secundário, darem o primeiro passo no mundo cinematográfico. É através do programa pedagógico “O Mundo à Nossa Volta”, de Os Filhos de Lumière, que integra o CCAJ, e na coordenação da Cinemateca Francesa que este projeto ganha vida a educar os jovens a filmar, captar som, editar, realizar e comentar longa e curta-metragens.
O projeto “Cinema, Cem Anos de Juventude” foi criado em França, em 1995, a fim de celebrar os cem anos de cinema, coordenado por Nathalie Bourgeois e Alain Bergala. A iniciativa tem-se desenvolvido em vários países, incluindo Portugal, através da associação Os Filhos de Lumière, em parceria com a Cinemateca Portuguesa, desde o ano letivo de 2006–2007.
Atualmente, o projeto reúne mais de 20 países, com o objetivo de consciencializar e pôr em prática a arte do cinema a jovens. Ao longo do ano letivo, alunos, cineastas e professores juntam-se em sessões nas escolas, geralmente realizadas à sexta-feira. Em cada sessão são apresentadas várias curta-metragens que permitem aos alunos debater ideias e inspirar-se para o produto final que irão realizar. Todos os anos existe um tema e, consequentemente, as regras do jogo. O objetivo dos alunos é trabalharem em conjunto, a fim de criarem um projeto que siga essas regras e que se enquadre dentro do tema em análise. Após o visionamento de vários excertos, os alunos são capazes de produzir exercícios, que vão realizando ao longo do ano, e um filme que reúne todo o trabalho e inspiração que obtiveram. Alguns dos temas dos anos passados foram “Motivos” (2021-2022); “Centrado/Descentrado” (2022-2023); “Filmar o outro” (2023-2024). O tema do ano letivo 2024-2025 é “Individual, Grupo, Comunidade” e as sessões escolares iniciaram-se no dia 19 de outubro.
Na escola secundária de Serpa, o projeto é corrente há já vários anos. Trabalha com a cineasta Teresa Garcia e tem vindo a realizar várias curtas como De sol a sol, A cerca e Ribeira vai cheia. A escola apresentou os filmes em Paris, Frankfurt e Lisboa. Uma vez que a escola se situa no Baixo Alentejo, o grupo já realizou filmagens no rio Guadiana, montes alentejanos, jardins e pedreiras. Todos os filmes estão disponíveis no perfil dos “Filhos de Lumière” na Vimeo. O projeto conta ainda com um blog, onde são publicados testemunhos e imagens dos alunos nas sessões e sobre os exercícios que vão realizando.
Em 2021-2022, o produto final foi A Ribeira vai cheia, que conta a história de uma mulher trabalhadora que procura a liberdade e a paz na ribeira que passa perto da casa onde trabalha. O seguimento do filme acompanha a senhora que vai observando o encontro entre um rapaz do campo e uma menina. Através do tema “motivos”, procurava-se objetos que funcionassem como motivos para a história. Eram estes o rio, as flores, o cabelo da mulher e um espelho.
Em 2022-2023, o filme A cerca foca-se na relação que dois irmãos têm com o monte que há várias gerações pertence à família. Ao receberem a notícia que o monte será vendido, os irmãos voltam ao passado, lembrando-se das memórias que partilharam com o avô, enquanto aprendiam a fazer barro e a brincar pelas oliveiras que caracterizam o monte alentejano “A cerca”.
Com o tema “Centrado/Descentrado”, o filme dá especial atenção ao som, seja este silêncio ou os sons que passam pelas planícies alentejanas. Em 2023-2024, o tema que criava ideias fictícias muda o rumo, e é assim que surge o tema “Filmar o outro”, com o objetivo de retratar a realidade vivida dentro da comunidade. Cria-se, consequentemente, De sol a sol, que aborda as vidas de um pedreiro imigrante e um agricultor. Na curta, são entrevistadas estas duas pessoas, com objetivo de entender o que fazem, porque o fazem e como isso os faz sentir. Foi escolhida a natureza como elemento que interliga os dois espaços. O produto final tem o objetivo de, para além de dar a conhecer as paisagens alentejanas, dar a conhecer o trabalho que se é praticado aqui e a razão, dada por um dos trabalhadores, pela qual estes exercem tal profissão: conseguir ter “pão na mesa”.
Assim, o projeto “Cinema, Cem Anos de Juventude” visa dar aos alunos a oportunidade única de começar, desde cedo, a aprender sobre a componente cinematográfica, tão importante no percurso académico dos jovens. O cinema permite às crianças e aos adolescentes de se expressarem individualmente, já que, como Teresa Garcia disse: “Na pedagogia, o complicado é saber que há sempre muitos caminhos a seguir, tantos quanto os olhares presentes”.
Para o visionamento do filme do ano letivo passado, é possível aceder a este link: https://vimeo.com/973898507.
Fonte da capa: Le cinéma, cent ans de jeunesse
Artigo revisto por Miguel Calixto
AUTORIA
A Marta cresceu no Alentejo, com 5 irmãos e em pequena adorava ler e até hoje escreve imenso. Está no primeiro ano da licenciatura de Jornalismo e pretende focar-se no jornalismo radiofónico. Já participou em projetos com o Parlamento Europeu, trabalhou com a cinemateca portuguesa e com Os Filhos de Lumiere onde foi realizadora num filme, fez teatro e escreveu para o jornal da escola. Na ESCS, participa na ESCS MAGAZINE, na E2 e na ESCS.FM. Foi no ano letivo 2022/2023 que foi para os Estados Unidos estudar e percebeu que era na rádio que queria ficar.