Costurar o tempo: BÉHEN apresenta a sua nova coleção “bem me quer, mal me quer”
Em 2020, a BÉHEN nasceu com o intuito de contar tradições e transformar tecidos e bordados portugueses antigos em peças únicas e contemporâneas, vinculando-se a um estilo que combina o tradicional com o inovador. Desde então, a marca apresenta as suas coleções na ModaLisboa. Este ano, com um toque mais intimista.
A nova coleção da marca conta com peças únicas e materiais elaborados em colaboração com artesãos. Joana, a designer da BÉHEN, fez questão de mostrar que esta criação tinha de facto um toque notório de exclusividade e intimidade. Nesta edição, as peças fugiram à típica passerelle do Pátio da Galé, transportando-se para o MUDE. Com vista sobre a cidade de Lisboa, os azulejos Viúva Lamego como background e uma faixa sonora que explicava cada detalhe de cada peça, o museu foi palco da apresentação da nova coleção da BÉHEN, um desfile requintado, sem pressas, cujo título simbólico “Bem me quer, mal me quer” liga o amor ao desapego, fala das tradições e fala de quem as tenta preservar num mundo que tão depressa se move.
Fonte: Carolina Raposo
Em conversa com a ESCS Magazine, Joana Duarte refere que nenhuma peça desta coleção se repete. Cada uma é feita a partir de tecidos e bordados antigos reaproveitados, que já viveram histórias e que vêm agora contá-las. Joana explica-nos também que todo o processo criativo começa pelos materiais e não pelas ideias prévias. “Para mim é muito mais interessante trabalhar com materiais que me obrigam a pensar em peças possíveis depois de os ver, não o contrário.”, diz-nos a designer.
Segundo Joana, um dos maiores desafios de trabalhar com este tipo de tecidos é encontrar artesãos que reconheçam corretamente as regras de cada bordado, o que exige paciência e muito conhecimento sobre o assunto.
A relação da designer com os materiais é familiar, não só por fazerem parte do seu dia a dia, mas também pelo facto de a mesma vir de uma família que sempre trabalhou com têxteis e bordados. Joana cresceu a descobrir o valor que cada tecido escondia e, especialmente com a sua avó, aprendeu também as técnicas de lavagem dos diversos tecidos com os quais trabalha agora. A herança desse conhecimento tornou-se a base da marca BÉHEN, interligando o passado com as formas atuais do presente.
Fonte: Carolina Raposo Fonte: sapo.pt
Neste desfile intimista, Joana e a sua equipa apresentaram-nos uma paleta de cores constituída por pretos, brancos, rosas, beges e até azuis com tons dourados à mistura. Nesta especial passerelle, houve vestidos com franjas, curtos ou midi, diferentes tipos de bordados e conjuntos com direito a partes de cima e de baixo. Houve também roupas com cortes como balões, cortes mais soltos e fluídos e algumas peças que combinavam várias shapes, tudo numa linha onde a tradição se transformava em contemporaneidade e dialogava com o styling do calçado e dos cabelos.
“Bem me quer, mal me quer” não é somente uma coleção de roupa: é uma coleção de narrativas e de histórias escritas em cada peça, carregadas de memória e com uma identidade forte. Mais do que estética, é um manifesto sobre a preservação do que é nosso. Em cada costura, há o gesto paciente de quem entende estes costumes, uma resistência ao esquecimento e à pressa, num mundo que raramente olha para trás. Quando confrontada com a pergunta sobre “Que emoção cativa esta coleção?”, Joana respondeu “Nostalgia”, pois todo o seu trabalho nesta coleção foi único, autêntico e sempre com um olhar perante os tecidos que ficaram esquecidos numa gaveta e os bordados que ganham pó num baú.
Fonte: Jornal Público
Joana Duarte continua, assim, a construir um Universo onde o passado ganha novas formas e o futuro se cria com responsabilidade. Os tecidos reaproveitados, os bordados portugueses e as colaborações com artesãos reforçam o propósito da BÉHEN: dar continuidade ao trabalho de que mantêm viva a Cultura Portuguesa. Com esta coleção, a marca reafirma-se como uma das vozes mais autênticas da Moda Nacional, celebrando, mais uma vez, o tradicional, o sustentável e o amor por histórias portuguesas que se contam sem palavras, apenas com linhas e agulhas.
“Lisboa, não sejas francesa, Tu és portuguesa” – Amália Rodrigues
Fonte: behen.com
Fonte da capa: Carolina Raposo
Artigo revisto por Raquel Bernardo
AUTORIA
Nascida e criada no Alentejo, sempre de joelhos esfolados na correria da brincadeira, foi desde cedo que a Carolina percebeu que o ramo da comunicação ocupava um lugar especial na sua vida. No entanto, com um amor especial por animais, chegou a achar que veterinária poderia ser o futuro. Mas, após frequentar o primeiro ano de Medicina Veterinária, soube que lhe faltava a comunicação para ser verdadeiramente feliz. Agora, segue o seu sonho, e frequenta o 2º ano da licenciatura de Jornalismo. Com um fascínio especial por gatos, vinho, moda e fotografia, a Carolina faz parte da ESCS Magazine para se expressar e partilhar histórias que lhe iluminam os olhos e motivam as suas mãos a escrever.





