Opinião

Entre a espada e a parede

É sempre bom exorcizar este meu dilema, e faço-o através da escrita, o único rito religioso em que creio. Este caso bicudo dura desde que comecei a ter aqueles picos de testosterona de que todos os rapazes são “vítimas”, mais cedo, ou mais tarde. Aquela altura em que o sexo oposto deixa de ser yucky e começa a suscitar certos tipos de interesse. Admito-o: não sei iniciar um contacto amoroso. Este tema dava água pelas barbas e será explanado em futuras crónicas, certamente, portanto foquemo-nos só nesta dicotomia que já referi.

A socialização é, e sempre foi, algo extremamente complicado para mim. Padeço desta estranheza do contacto cara-a-cara, que faz com que as outras pessoas pensem, “epá, que gajo mais estranho”. É a primeira impressão que a grande maioria tem de mim e, tal como a Coca-Cola, só entranham passado um bom bocado. Ora, o encontro amoroso, para mim, é algo dual: no primeiro hemisfério, temos o encontro amoroso ocasional, também rotulado por aleatório. O engate noturno e o sexo espontâneo, todos graças à inebriação e à diversão e loucura que magicamente aparecem durante a madrugada. Não nego que tal seja extremamente prazeroso, e muito menos o censuro. Para mim, esta abordagem é impossível, no entanto: sou demasiado esquisito socialmente para confrontar um desconhecido e, mesmo que o fizesse, a própria natureza deste campo parece-me algo efémera e supérflua. No segundo hemisfério, temos o grande clássico do contacto em segunda mão, ou seja, a busca do amor através de amigos, familiares e/ou de locais de trabalho ou de estudo em comum. É aqui que invisto, porque é aqui que posso investir. Foi neste campo que conheci todas as minhas parceiras, de longa, ou de curta data. O problema é que, tenho a certeza, estes encontros foram anomalias estatísticas, por algumas razões. Graças a infortúnio do destino, há uma não interceção entre estes dois círculos:

CRÓNICA - Entre a espada e a parede - João Carrilho (corpo do artigo)

Por outro lado, tenho a boa tendência de me aproximar demasiado de uma pessoa para que depois possa ser visto de outra forma. Já sou demasiado amigo da pessoa para ser, ou fazer, outra coisa. E, mesmo que haja interesse mútuo coincidente nesta altura, só me passam pela cabeça as linhas de amizade que estou, provavelmente, a estragar – “Se eu estiver com esta tipa, e depois acabar com ela, já não posso estar com este meu amigo/a, porque eles são amigos íntimos, e depois seria estranho estar a evitar um deles e…” Que autêntica dor de cabeça.

E é esta a minha vida de encalhado: demasiado estranho para abordar alguém na noite, demasiado familiar para abordar uma pessoa mais próxima.

Se um ou mais de vocês se identifica com tudo isto partilhem com este vosso modesto amigo a solução que encontraram para este dilema!

Agora, com licença, enquanto vou tentar instalar o Tinder pela terceira vez. Maldita compatibilidade exclusiva do iOS8!

AUTORIA

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João Carrilho é a antítese de uma pessoa sã. Lunático, mas apaixonado, o jovem estudante de Jornalismo nasceu em 1991. Irreverente, frontal e pretensioso, é um consumidor voraz de cultura e um amante de quase todas as áreas do conhecimento humano. A paixão pela escrita levou-o ao estudo do Jornalismo, mas é na área da Sociologia que quer continuar os estudos.