Há um sítio em Lisboa que acolhe os livros, o silêncio e o mundo
Há um sítio em Portugal que acolhe o mundo: a Biblioteca Nacional portuguesa fica no Campo Grande, em Lisboa, e detém o maior acervo de conhecimento do país. São três milhões de livros, títulos de jornais e manuscritos, que inspiram curiosos, atravessam o tempo e gravam transversalmente a nossa realidade.
Alguns passos após a estação de Metro de Entrecampos e escondida entre os imponentes edifícios do Instituto Universitário de Lisboa – ISCTE e a Câmara Municipal da capital, pode ver-se um extenso jardim que nos conduz directamente à Biblioteca. À entrada, a fachada moderna quase nos faz esquecer os seus 219 anos de história (foi criada a 29 de Fevereiro de 1796, como Real Biblioteca Pública da Corte), mas prosseguimos, mergulhando no silêncio: uma exibição sonora cada vez menor e mais profunda, que é constantemente atropelada pelo passar dos aviões.
Os mais jovens nunca irão conhecer a demorada sensação de espera pelos livros, que chegavam através de tubos, agora compensada pela pré-requisição e entrega à mesa (também ela pré-reservada) realizada por um funcionário. Tudo feito online. Para isso e não só, em 2002 foi criada a Biblioteca Nacional Digital, que contém mais de 25 mil documentos em linha, com mais de 7 milhões de visitas, o que acaba por contrapor outra realidade.
Esta instituição, dirigida por Inês Cordeiro, no seu segundo mandato, sobrevive numa altura em que se lê cada vez menos e o número de visitas às bibliotecas tem diminuído progressivamente: segundo o director-geral do Livro, das Bibliotecas e Arquivos, José Manuel Cortês, em Portugal cerca de 14% da população está inscrita numa biblioteca municipal, mas apenas 4% a frequentam. E os números são mais graves quando se fala de investimento na leitura pública: em 2009, traduzia-se em 38 cêntimos por habitante e actualmente é de apenas 15 cêntimos.
Para a directora da BNP, o futuro da instituição e do investimento nas bibliotecas públicas está em branco.
Apesar de não ser uma certeza absoluta, a Biblioteca Nacional de Portugal permanecerá viva nos próximos anos, não só para os estudantes universitários, como para todo o país: se pela Internet ou ao vivo, não se sabe. Mas pouco de semelhante há no resto da capital ao silêncio que domina as salas da BNP.