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Daniela Santiago – “Tento não fazer nada por obrigação”

Vive a vida intensamente, de agenda sempre cheia, Daniela Santiago é muito mais do que pivot da RTP. É uma mulher sensível, impaciente, e determinada. Não sabe dizer “não” e isso no seu dia-a-dia acaba por pesar. Concilia todas as suas responsabilidades profissionais com a sua vida pessoal – tem uma casa cheia. Apesar disto gostava de fazer mais e o sonho é algo que não morre nesta cara que muitos conhecem.

Daniela Santiago - Foto 

Por dentro e por fora

“Por vezes somos surpreendidos com atitudes que nunca pensámos que viríamos a ter.” Daniela afirma que com a idade se tem tornado mais impaciente e ganhou a noção de que a vida passa a correr de forma assustadora.

Daniela diz ter o coração muito mole e é demasiado sensível até para o seu próprio bem. Casos como o Sri lanka, de ter crianças ao colo que no dia seguinte estavam mortas marcaram-na profundamente. Afirma-se como cada vez mais intolerante a stress, injustiças, falta de rigor e falta de educação: realidades pelas quais foi passando. Situações como pobreza extrema, mortes e tragédia fazem com que Daniela seja muito indiferente aos problemas da Europa que comparados com estas situações não são absolutamente nada.

Para além da sua impaciência, gosta de brincar, de levar a vida a sorrir mas assim, de vez em quando, lá vem ela acelerada para as suas aulas a reclamar com as injustiças deste mundo. Se estiver em baixo não o mostra e as dores dos outros acabam por afectá-la. Sentimental, apaixonada por animais, crianças, e viagens, afirma que chega até a ser lamechas. – “Quando era miúda era capaz de levar tudo o que fosse cães e gatos abandonados para casa e adorava poder adotar todas as crianças do mundo”.
“Viajar é a melhor maneira de conhecer o mundo e aprender, os livros também e adoro ler mas viajar sem ser para o resort traz-nos muito conhecimento. Comovo-me com a história, por exemplo, comovi-me quando vi as pirâmides”. Daniela gosta de ir à aventura, conhecer, explorar, e ir para sítios diferentes do que a maioria das pessoas gostaria de ir. As grandes viagens que fez, como por exemplo, o Congo, fizeram-na mudar completamente a sua visão do mundo. Teve que lidar com culturas muito diferentes e de as aceitar sem que se impusesse fosse sob que forma fosse.

 

A maternidade

Vive para Leonor, a sua filha, de 9 anos, que diz ser parecida consigo mas muito mais racional e é com orgulho e um prazer imenso que fala dela.

“Sou verdadeiramente livre em duas situações: quando estou com a minha filha sem pressões de tempo e quando estou em reportagem fora do país – aquele tipo de reportagem que nos dá a liberdade para ver o que acontece, como as de África. É no contacto com as pessoas e confronto com diferenças culturais que também sou eu.”

Existe uma Daniela antes e depois da pequena Leonor. Uma Daniela que dá mais valor à vida.

“Só comecei a ter medo de morrer e a fazer coisas menos perigosas quando nasceu a Leonor. Não foi por mim mas por ela e pelo prazer e pelo gosto, e medo, de não acompanhar o crescimento dela; Damos por nós a fazer exatamente o mesmo que os nossos pais faziam. É a única altura do mundo, do nosso mundo, em que ele deixa de girar à nossa volta e passa a girar à volta de outra pessoa. Ela faz de mim uma pessoa mais atenta e mais animalesca. Sou muito leoa, muito mãe galinha, gosto de dar alguma liberdade mas sou muito mãe galinha.”

Daniela fala com muito carinho e orgulho da sua filha. Com Leonor, é mais paciente e muitas das vezes cede às vontades da sua filha por se lembrar de quando foi filha.

A jornalista só deseja que a sua filha quando crescer diga: “Sinto orgulho. E amo-te.”

 

A profissão

Acha absolutamente incrível a banalização que as noticias têm sofrido, o simples facto de se verem cadáveres no noticiário sem que se avisem os telespectadores e que estes nem sequer se choquem por se tornou algo natural, normal, quotidiano.

Na RTP1, apesar de ser a sua primeira casa, sente-se subaproveitada e tem um sentimento de desilusão porque, apesar de ter crescido muito durante os 19 anos dentro da empresa, sente que estagnou: Não lhe dão asas para voar um bocadinho. Embora tenha sentido este desalento em relação a tudo o que lhe aconteceu afirma que só se arrepende daquilo que não fez.

“É muito pesado trabalhar na RTP porque há muita coisa em cima de nós que não está noutros canais. Porque há muito esta coisa de ser a televisão do estado, temos esse escrutínio e essas desvalorizações. É muito pesado.”

Tem pena de não ter tido a possibilidade de emigrar porque imagina que tudo seria muito diferente.

 

Memórias

Crescer na Covilhã foi óptimo porque teve a oportunidade de crescer livremente sem perder tempo em deslocações no meio de trânsito e tudo era muito perto. A Covilhã, onde viveu 16 anos até à sua maioridade, tornou-a um bocadinho do que é hoje. Sofreu muito quando veio estudar para Lisboa porque a deslocação era de cinco horas e a comunicação muito arcaica e complicada. Falava muito pouco com a sua mãe, o que lhe custou imenso.

Daniela e a filha adoram a Covilhã e têm lá toda a sua família. A jornalista confessou que tem lá as melhores recordações mas confessa que estar mais do que cinco dias lá se torna demasiado calmo para si. “Sinto-me Covilhanense apesar de lá ir pouco.”

A professora de televisão a partir do 10º ano não teve dúvidas do que queria apesar de ter passado pelo conservatório de música. Era jornalismo e estava determinada. No entanto, ainda tem o piano e a filha seguiu as suas pisadas. Trouxe o piano da Covilhã para Lisboa a pedido da filha que, sempre que ia à Covilhã, ia tentando tocar, até que quis começar a aprender.

 

Uma casa cheia e uma vida cheia

“O Caramelo da Leonor” é o livro da sua autoria com que mais carinho fala. O Caramelo é o seu gato e a Leonor nessa altura tinha 2 anos. Quando já tinha o livro quase pronto deparou-se com uma situação ao observar um casal de invisuais: Eles tateavam a sua filha para perceberem se a menina estava bem. Determinada a lutar contra a indiferença, fez com que este livro tivesse também uma versão em braille. Algo que deu a Daniela muito prazer. Todos os seus livros acabam por ter uma base solidária ao reverterem para instituições como a AMI.

“Toda a gente queria conhecer o Caramelo, que é um gato gordo e doce que se cola ao coração e não aos dentes”, assim descreve o seu gato.

Na sua casa há muita vida. Tudo o que tem no seu lar dá-lhe muito trabalho que poderia poupar, mas é assim que encontra a felicidade. “Eu sou tudo o resto que uma mulher é, não é? Tenho uma casa para tratar, tenho compras para fazer, tenho o gato Caramelo, tenho a cadela Foxy, tenho plantas na varanda. Eu arranjo tudo o que me dê trabalho, mas não conseguiria viver de outra maneira. Gosto de viver tudo de uma maneira muito intensa. Tenho uma casa cheia. ”

Daniela gostava também de ter mais filhos mas deixa a vida levá-la e aconteça o que acontecer será bem aceite.

Daniela é muito acarinhada pelos amigos. Nuno Silva é um desses amigos que a conhece muito bem. Poucas palavras podem descrever esta mulher para Nuno, mas, se tivesse que escolher seriam estas: “A Daniela Santiago é uma das melhores pessoas que conheci até hoje. Não existem palavras suficientes para a definir. É amiga do amigo, preocupa-se com os outros, ama os que lhe são mais próximos. É generosa e tem uma sensibilidade fora do comum para quem precisa. Como mãe, apesar de ter um trabalho que lhe ocupa muito tempo, prima pela qualidade nos momentos em que está com a Leonor. Por último, a Daniela contém magia, generosidade e alma na sua forma de estar na vida! Há pessoas que passam na nossa vida e não nos dizem nada, há outras… como ela, que ficam… para sempre! Obrigado! ”